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Análise: como joga, quais os perigos e quais as fraquezas da Bélgica, adversária do Brasil nas quartas

Com melhor campanha e ataque mais goleador da Copa, seleção belga tem talento de sobra, mas defesa não é confiável

Data: Terça-feira, 03/07/2018 08:57
Fonte: Alexandre Alliatti, São Paulo

 A Bélgica será a adversária do Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo, e alguns dados sobre ela não são exatamente animadores para o Brasil. Vamos a eles, mas não se apavore (lá para baixo no texto trazemos umas boas ressalvas):

 

  • A Bélgica não perde há 23 jogos. Sua última derrota foi há quase dois anos, em setembro de 2016, em amistoso contra a Espanha – a estreia do técnico Roberto Martínez no comando da seleção. Desde então, são 18 vitórias e cinco empates.
  • Divide com o Uruguai o privilégio de ter 100% de aproveitamento na Copa do Mundo. Mas faz campanha melhor do que os uruguaios no saldo de gols – e mesmo tendo usado time reserva contra a Inglaterra, que também poupou titulares.
  • É o melhor ataque da Copa do Mundo. Já soma 12 gols – média de três por partida.
  • Em oito de seus últimos dez jogos, fez ao menos três gols.

 

Parece evidente que não é uma seleção fraca. O leitor mais atento vai lembrar, com toda a razão: “E daí, continua sendo um time que nunca ganhou nada”. Verdade. A tal super geração belga, carregada de superlativos ao longo dos últimos anos, não transformou expectativa em títulos: caiu nas quartas de final da Copa de 2014, para a Argentina, e fracassou na Euro de 2016 ao tombar diante do País de Gales.

 

Mas um dos chavões do futebol (ou da vida) diz que é na derrota que se aprende, e a Bélgica, contra o Japão, conseguiu evitar um fiasco que destruiria a imagem construída por esse elenco. A derrota por 2 a 0, em idos do segundo tempo, virou vitória por 3 a 2, com o gol da vitória na prorrogação. Bem ou mal, foi um sinal de maturidade de um time que parece ter aprendido a apanhar – e a reagir.

 

A vitória saiu do banco. Os dois últimos gols foram marcados por Fellaini e Chadli, mandados a campo no segundo tempo por Martínez. Esta foi a segunda demonstração de força do elenco, mais do que dos 11 titulares; a anterior foi a vitória de 1 a 0 sobre a Inglaterra com nove reservas formando o time belga.

 

Mas a principal força da Bélgica está na união de alguns de seus protagonistas, formando um setor ofensivo muito forte. Do meio para a frente, a Bélgica tem a saída de bola de De Bruyne, a clarividência de Hazard, o ótimo momento de Mertens e a coleção impressionante de gols de Lukaku. São, todos eles, jogadores acostumados às principais ligas europeias. E que já carregam a vivência de uma Copa do Mundo nas costas.

 
Escalação básica da Bélgica (Foto: GloboEsporte.com)Escalação básica da Bélgica (Foto: GloboEsporte.com)
       Escalação básica da Bélgica (Foto: GloboEsporte.com)
 
 
Para que eles possam render o máximo, o técnico Roberto Martínez vem armando o time num híbrido de 3-4-3 e 3-6-1. Os dois alas, Meunier pela direita e Carrasco na esquerda, costumam ficar alinhados aos dois meias mais defensivos, Witsel e De Bruyne, mas têm enorme liberdade para atacar. É muito comum vê-los disfarçados de pontas, auxiliando Mertens pela direita, Hazard pela esquerda e o centroavante Lukaku.
 
 
Quatro jogadores do Japão cercam finalização de Lukaku, autor de quatro gols na Copa (Foto: Reuters)
Quatro jogadores do Japão cercam finalização de Lukaku, autor de quatro gols na Copa (Foto: Reuters)
 

O camisa 9 é um caso à parte. Ele tem números impressionantes: maior goleador da história da seleção belga, com 40 gols; autor de 13 gols em seus dez jogos mais recentes pelo país; décimo estrangeiro com mais gols na Premier League (101), onde atualmente defende o Manchester United; dono de quatro gols em oito finalizações na Copa da Rússia.

Com 1,90m, ele é difícil de ser marcado. Não tem a mesma técnica de seus colegas, mas sai para tabelas e consegue aproveitar o talento que o cerca. E vive o melhor momento da carreira – embora não tenha conseguido aproveitar as chances que teve contra o Japão, foi decisivo ao puxar a marcação e fazer o corta-luz para o gol de Chadli, aos 48 do segundo tempo.

 

Mas a Bélgica tem seus problemas, e eles foram evidenciados contra os japoneses. Repare no primeiro gol do Japão no vídeo abaixo: Meunir e Mertens erram um tabelamento, e o adversário sai em contra-ataque. De todos os jogadores que estão no ataque, só Carrasco faz algum esforço para voltar. Meunier, Mertens, Hazard e Lukaku ficam parados, vendo a jogada acontecer, enquanto o trio de zaga é engolido pela velocidade japonesa – com os meias mais defensivos, Witsel e De Bruyne, perdidos no meio do caminho.
 

A questão é que a Bélgica tem uma engrenagem muito mais eficiente para atacar do que para defender. Os três zagueiros ficam expostos porque suas linhas de proteção são fracas. Os alas são ofensivos, e os marcadores do meio-campo não são exatamente caçadores – um deles, de Bruyne, destacou-se na última temporada da Premier League ao ser o líder em... assistências para gol.

E isso piora quando se leva em consideração o estado físico dos zagueiros. Kompany, o central do trio, chegou à Rússia lesionado e só virou titular contra o Japão, em uma jogada arriscada de Martínez. Varmaelen, um potencial titular, também começou o Mundial lesionado, jogou contra a Inglaterra e ficou no banco nas oitavas de final. Alderweireld, pela direita, e Vertonghen, pela esquerda, completam a trinca defensiva.

Martínez, logo depois do jogo contra o Japão, foi questionado se mudaria o time contra o Brasil. E escapou da resposta. Disse que em um dia de tanta superação de seu elenco, não era o momento de falar de tática. Mas é bastante possível que ele modifique a forma de jogar, talvez transformando Vertonghen em um lateral defensivo pela esquerda e sacrificando Carrasco (muito mal nesta segunda-feira) para a entrada de algum jogador que dê mais corpo ao meio-campo.

 
Roberto Martínez usou o banco para vencer o Japão e não quis falar de estratégia contra o Brasil (Foto: Reuters/Sergio Perez)

Roberto Martínez usou o banco para vencer o Japão e não quis falar de estratégia contra o Brasil (Foto: Reuters/Sergio Perez)

 

Se o técnico da Bélgica mantiver o sistema, a vitória ficará mais fácil para o Brasil, especialmente pela velocidade de jogadores como Willian, Philippe Coutinho e, claro, Neymar.

Outra questão que pode pesar é a relação mental dos belgas com o jogo contra o Brasil. Eles parecem genuinamente felizes pela oportunidade de viver isso – a ponto de Martínez dizer que os jogadores vão realizar um sonho de infância, de Meunier afirmar que não existe maneira de marcar Neymar, de Vertonghen comentar que enfrentar o Brasil terá um sabor particular, de Hazard opinar que será incrível enfrentar a Seleção.

De qualquer forma, a Bélgica será o adversário mais difícil do Brasil até agora na Copa do Mundo. E tende a ser a equipe mais talentosa que a Seleção enfrentará em todo o Mundial – inclusos aí eventuais oponentes em semifinal e final.

Mas os belgas parecem estar alguns passos atrás em um ponto fundamental em mata-mata de Copa do Mundo: competitividade.

 

Brasil e Bélgica se enfrentam às 15h de sexta-feira em Kazan. O vencedor pegará França ou Uruguai nas semifinais.