Três irmãos decidiram retirar o estômago após descobrir que eram portadores de um gene cancerígeno - e de terem perdido a mãe e uma irmã em decorrência do câncer de estômago.
Tahir Khan, de 44 anos, Sophia Ahmed, de 39 anos, e Omar Khan, de 27 anos, de Walsall, na Inglaterra, foram submetidos à cirurgia após passarem por uma bateria de exames no Hospital Addenbrooke, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Eles dizem que a operação salvou suas vidas e "eliminou" o risco de desenvolverem a doença.
No entanto, descobriu-se agora que a filha de Tahir carrega o mesmo gene.
A mãe deles, Pearl Khan, tinha 49 anos quando morreu, há 16 anos, seis meses após ser diagnosticada.
Já a irmã, Yasmin Khan, morreu há seis anos, aos 32.
"A gente nem sequer pensava em testes genéticos naquela época, mas a Sophia foi muito persistente e conversou com a Cancer Research UK para nos examinar", disse Tahir.
Além de Sophia, Omar e Tahir, outra irmã deles, Tracy Ismail, de 49 anos, também fez o exame.
O processo todo - de triagem e testes - nos quatro irmãos levou de cerca de 12 meses a três anos.
O resultado mostrou que três eram portadores do gene - e cada um decidiu se submeter à operação como medida preventiva. Sophia fez a cirurgia primeiro, seguida por Tahir e Omar.
Tracy foi a única dos quatro irmãos a descobrir que não tinha o gene:
"Eles disseram meu resultado primeiro, então eu pensei que seriam todos iguais".
"Fiquei totalmente devastada."
"Em determinado momento, nos disseram que, se não tivéssemos feito o teste, eu seria a única dos irmãos que restaria."
"Sabendo o que minha mãe e minha irmã passaram, e tão depressa, encorajei eles a fazerem o procedimento, e eles ainda estão aqui."
Sophia contou que tomou a iniciativa por causa da irmã.
"Eu li nas anotações da minha irmã Yasmin no hospital que eles achavam que poderia ser genético, então eu pesquisei e descobri que o hospital de Cambridge estava fazendo um estudo com a Cancer Research UK. Entrei em contato com eles e fui até lá."
"Todo mundo achava que eu estava louca até que os resultados voltaram, e quando vimos que éramos 3 de 4, sabia que tinha valido a pena."
"Eu não tenho nada, além de coisas positivas a dizer sobre isso. Ainda posso comer e fazer tudo, a única questão é controlar meu peso e minhas deficiências de vitamina, mas em comparação com ter câncer de estômago e poucos anos de vida, não posso reclamar."
"Eu até tive um filho após a cirurgia, eles pensaram que eu poderia ficar desnutrida ou que o bebê poderia nascer pequeno, mas tudo correu absolutamente bem."
Agora, a comida que eles ingerem vai para uma "pequena bolsa" que conecta o esôfago ao intestino.
"Eu tenho que petiscar constantemente porque meu corpo simplesmente não consegue obter os nutrientes que precisa de outra forma", disse Tahir.
"Meu irmão, por outro lado, ainda come como um cavalo!"
Omar teve inicialmente uma reação diferente em relação à cirurgia.
"No começo, depois de tudo que tinha passado com a minha mãe e irmã, eu não queria saber de hospital, médico ou qualquer coisa do gênero."
"Mas depois de ver a Sophia passar pelo procedimento e ter um filho, pensei que 'não tinha desculpa'."
"Foi uma decisão muito difícil para mim, mas foi a melhor que já tomei."
"Ainda posso comer o que eu quiser - hambúrgueres, bifes - a única coisa que sinto é cansaço e suor frio, mas ainda estou respirando e sou muito grato por isso."
No entanto, o exame da filha de Tahir, Farah, que tem 21 anos, também confirmou a presença do gene.
"Estou preocupado com o futuro da minha filha, mas eu digo a ela que todos nós passamos por isso e estamos bem agora, então, aconteça o que acontecer, ela vai ficar bem".
Tahir fez a cirurgia há cinco anos e meio, depois que o exame mostrou que ele tinha aglomerados de células cancerígenas no estômago.
"Não tenho dúvida de que os testes e o procedimento salvaram minha vida."
"Este é um tipo específico de câncer de estômago muito raro", explica o médico Marc Tischkowitz, especializado em genética médica, da Universidade de Cambridge.
"É um gene que os portadores podem ter a vida toda, e significa que eles correm risco de desenvolver câncer a qualquer momento."
"Estima-se que apenas 3% a 10% dos casos de câncer estejam ligados a um gene defeituoso hereditário", afirma Georgina Hill, da organização Cancer Research UK.
"Qualquer um que esteja preocupado com o risco genético de desenvolver câncer deve conversar com seu médico, que pode encaminhar quem tem um forte histórico familiar de certos tipos de câncer para uma clínica de aconselhamento genético, se for o caso", orienta.