O ex-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, solicitou à Justiça um novo interrogatório para “trazer elucidações outrora não trazidas a lume”. Na prática, Lesco deve revelar detalhes do processo relacionado ao caso dos grampos ilegais no estado.
A defesa do cabo da Polícia Militar, Gerson Correa, também pediu o reinterrogatório e também foi atendido.
O esquema de escutas clandestinas foi usado para espionar médicos, advogados, políticos de oposição ao atual governo e jornalistas durante os anos de 2014 e 2015.
O Ministério Público Estadual (MPE) deu parecer favorável ao novo interrogatório, pois “há ponderações que merecem maiores esclarecimentos”.
O juiz Marcos Faleiros acatou os pedidos e Lesco e Gerson serão ouvidos nos dias 16 e 17 de julho.
As interceptações clandestinas teriam ocorrido entre outubro de 2014 e agosto de 2015 e tiveram entre os alvos o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) José Ferreira Leite, a deputada estadual Janaína Riva (PMDB), e o vereador Vinícius Hugueney (PP), que atualmente comanda a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá.
Os telefones foram interceptados com autorização judicial. Os documentos pedindo à Justiça autorização para isso foram assinados pelo cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Correia Júnior, numa suposta investigação de crimes cometidos por PMs.
No entanto, foram juntados os telefones de quem não era suspeito de crime algum, numa manobra chamada "barriga de aluguel".
O caso foi denunciado pelo promotor de Justiça Mauro Zaque. Em depoimento encaminhado à Procuradoria-Geral da República, ele afirmou que, naquele ano, ouviu o coronel Zaqueu Barbosa, comandante da PM à época, dizer que as interceptações telefônicas eram feitas por determinação do ex-governador Pedro Taques (PSDB).
Zaque alega ainda que levou o assunto ao governador, que ficou constrangido, mas não fez nenhum comentário.
O promotor ainda afirmou que alertado o governador sobre a existência de um "escritório clandestino de espionagem" por meio de dois ofícios. O primeiro chegou a ser enviado para o Ministério Público Estadual (MPE), mas a investigação foi arquivada por falta de provas.
O segundo ofício, que o governador alega nunca ter recebido, foi protocolado na Casa Civil, mas cancelado no mesmo dia e substituído por outro, conforme apontou auditoria da Controladoria Geral do Estado.
Antes do relatório da CGE vir à tona, Pedro Taques chegou a entrar com representação contra Zaque em instituições como o Conselho Nacional do Ministério Público e a PGR, acusando-o de falsificação de documento público.