A Praça Alencastro entardeceu nessa quinta-feira (14), junto com diversas capitais, com um ato em memória à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada há exatamente um ano juntamente com o motorista Anderson Gomes. Com o nome de “Marielle vive! Vidas negras, indígenas e periféricas importam”, a manifestação lembra que o crime segue sem várias respostas.
"Há 365 dias nós dormimos abraçadas pela última vez", escreveu a companheira de Marielle, a ativista Mônica Benício, em uma rede social, logo nos primeiros minutos deste dia 14 de março. Marielle Franco era uma mulher lésbica, carioca, residia e trabalhava em prol da favela da Maré no Rio de Janeiro e atuava há mais de dez anos defendendo os direitos humanos de mulheres, jovens negros e periféricos e pessoas LGBTQ+.
Organizado pela frente Mulheres na Luta, composta por diversas entidades de mulheres, Lelica Lacerda conta que a intenção do ato é cobrar justiça por Marielle. “Nós queremos dizer ao poder público que as vidas negras, indígenas e periféricas importam e que o crime de Marielle diz respeito a todos os brasileiros, porque é um crime motivado por razoes políticas”, diz, relembrando o slogan do ato.
“Esse crime demonstra que no Brasil, em pleno século 21, existem grupos políticos que são capazes de exterminar fisicamente aqueles que discordam. E isso nos relembra o difícil período de ditadura militar, para que nós não repitamos esse erro, esse passado sombrio. É necessário que o povo brasileiro saiba quem mandou matar Marielle, quais eram seus interesses”, explica Lelica.
Na última terça-feira (12), dois suspeitos foram presos por participarem do assassinato. Ronnie Lessa, policial reformado de 48 anos, e Élcio Vieira de Queiroz, ex-PM de 46 anos, foram detidos por policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil. Conforme a investigação, Ronnie atirou em Marielle e Anderson, enquanto Élcio dirigia o Chevrolet Cobalt usado no crime.
Apesar da prisão dos suspeitos, muitos questionamentos ainda não foram respondidos, e há pontas soltas na investigação, como por exemplo, quem mandou executar a vereadora. “É claro que é um passo importante, porque a gente descobre quem apertou o gatilho e através dele se torna possível saber quem mandou atirar. Mas eles são meramente os executores, se não tivesse alguém mandando, eles não teriam feito. Então, pra nós, é importante revelar quem atirou, mas mais importante que saber quem atirou é sabermos quem mandou atirar e quais são suas razões”, cobra Lelica.
Os investigadores ainda procuram também pela motivação da execução, que até então demonstra ser política. A estudante de Ciências Sociais Lupita Amorim, de 20 anos, ficou sabendo do ato na Alencastro pelas redes sociais, e decidiu somar com a manifestação. Ela acredita que a motivação do crime foi política.
“Acredito que pelas questões políticas que estão bastante vigentes em meio a todo esse caso, e do que representaria pras pessoas que são contra a ela e as minoria, pros fascistas. Então eu acredito que a dificuldade é justamente enquanto um projeto que foi feito, de pessoas que articularam esse crime, pensando em desmobilizar as pessoas que estão na causa, que estão na luta. Entretant,o eles estão falhando, porque estamos nos juntando e continuando na luta que ela [Marielle] estava fazendo”, explica.
“A importância é no sentido de mobilizar, juntar as pessoas que estão de acordo com essa causa, de LGBTS e minorias negras, e também pra incomodar a branquitude, as pessoas que estão contra a gente, para incomodá-los, para eles sentirem que não estamos caladas, não estamos paradas. Estamos agindo, estamos nos movimentando. E quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura se movimenta junto com ela”, comenta a estudante sobre a importância do ato em memória a Marielle.