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Conselho de Medicina de SP apura denúncia contra cirurgião plástico após morte de paciente

Sandra Trovino morreu após passar por lipoaspiração feita por Danilo Rocha Dias. Médico diz que exames pré-operatórios não detectaram causa orgânica: 'Foi uma fatalidade'.

Data: Domingo, 07/04/2019 17:36
Fonte: G1

O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu sindicância para apurar uma denúncia envolvendo o cirurgião plástico Danilo Rocha Dias.

Ele é acusado de ser responsável pela morte da educadora física Sandra Mara Trovino da Cunha, de 45 anos, que morreu no dia 9 de março em São Paulo após passar por uma cirurgia de abdominoplastia e lipoaspiração feito por Danilo.

De acordo com o filho da vítima, o estudante de engenharia civil, Welliton Trovino, 24 anos, Sandra passou pela cirurgia no Hospital da Plástica, no Ipiranga, Zona Sul de São Paulo.

De acordo com Welliton. Sandra teve três paradas cardíacas assim que a cirurgia terminou. Nas duas primeiras foi reanimada, mas na terceira, não resistiu e morreu.

"Era um sonho dela fazer essa cirurgia há dez anos, mas ela tinha medo. Minha mãe tentou emagrecer de todo jeito antes da cirurgia", conta ele.

Welliton estava em São Vicente, no litoral paulista, onde a família mora, quando desconfiou pelas redes sociais do médico de que havia algo errado.

"Ele é um médico 'blogueirinho', fica postando a rotina dele. [No dia do procedimento] de manhã ele postou que ia fazer a cirurgia, postou foto da minha mãe. Aí depois ele postou que tinha terminado e dado tudo certo. Pouco depois, começou a apagar todos os posts. Foi aí que eu deduzi que minha mãe tinha falecido", relata. Danilo apagou sua conta nas redes sociais.

A certidão de óbito de Sandra aponta como causa da morte tromboembolismo pulmonar em curso de abdominoplastia e lipoaspiração por causa orgânica. A família registrou Boletim de Ocorrência e aguarda o prazo do IML (Instituto Médico Legal) de 60 a 90 dias para, de posse do laudo, processar o médico.

 

O que diz o médico

 

Em nota, o médico Danilo disse que Sandra realizou todas as avaliações e exames pré-operatórios necessários e que foi orientada dos riscos, mas que "não fora detectada nenhuma causa orgânica que impedisse ou colocasse a paciente em risco. É uma intercorrência rara, que infelizmente pode acontecer, uma fatalidade".

De acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o caso é investigado pelo 17°DP (Departamento Policial). Um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte da vítima.

Em nota, o Cremesp disse que instaurou sindicância para apurar as denúncias envolvendo o Danilo e que a investigação corre sob sigilo determinado por lei.

Danilo segue com registro ativo no Conselho de SP. Sobre isso, o Cremesp disse que "enquanto o profissional estiver com o registro ativo em Conselho de origem, pode pleitear inscrições secundárias. O impedimento para o exercício da profissão em todo o território nacional somente se dá quando houver condenação à pena de cassação do registro (prevista no Artigo 22 da Lei 3.268/57), após processo ético-profissional transitado em julgado."

 

Morte da cunhada após lipo

O caso de Sandra não é a única denúncia contra Danilo. A médica radiologista Lia Pacheco Coelho Dias, 32 anos, morreu em novembro de 2016 após passar por uma cirurgia de lipoaspiração com o médico. Lia era cunhada de Danilo.

Segundo a mãe de Lia, Ângela Pacheco Coelho, todos os exames do pré-operatório estavam "perfeitos". Ela não conseguia emagrecer depois do parto do filho, de 1 ano e três meses e por isso decidiu passar pelo procedimento.

"Ela só queria tirar uma gordurinha debaixo do braço e culote. Quando ela foi para a cirurgia falou 'mãe, te amo'. Foi a última vez que vi minha filha. Ninguém nunca veio me procurar pra explicar o que aconteceu com ela. [Antes de morrer] ela ficou 9 dias na UTI", relata Angela.

Ângela decidiu não processar Danilo. "Na época não entramos com nada por causa do filho dela por medo de ter alguma represália. É uma situação muito difícil porque é família. O que espero é que a morte da minha filha seja esclarecida. Sabe uma filha maravilhosa, estudiosa? Ela era perfeita", emociona-se.

 

Resposta do médico

 

O médico afirmou em nota enviada ao G1: "A paciente saudável realizou todos os exames pré-operatórios e avaliações necessárias. Era médica radiologista e casada com meu irmão, que tinha a mesma profissão. Ambos acompanharam de perto toda a minha carreira e e conviveram diretamente com muitos pacientes meus, inclusive familiares, e sempre elogiaram os nossos resultados. Ela estava completamente orientada e conhecia os riscos e possíveis complicações."

"Sua cirurgia foi feita sem intercorrências cirúrgicas, dentro das regras de segurança. Porém, terminada a cirurgia e os procedimentos de curativos e cintas, ao despertar, a paciente apresentou movimentos que se assemelhavam a crise epiléptica. De pronto mantivemos a paciente anestesiada e fomos fazer as investigações, sendo transferida para UTI."

"A paciente permaneceu em tratamento na Unidade de Terapia Intensiva por 9 dias. Foi contratada uma equipe particular de intensivistas exclusivamente para acompanhá-la em todo esse período, mas infelizmente ela foi a óbito, a despeito de todo suporte e tratamento realizado."

"Vale ressaltar que durante a internação, além dos exames de tomografia e ressonância de crânio e eletroencefalograma, ela se submeteu a exames de tomografia de tórax, ultrassonografia de abdome e parede abdominal e endoscopia digestiva alta, nenhum dos quais detectou qualquer evidência de lesões internas em decorrência do procedimento cirúrgico. Além disso, foi feita a doação de seus rins, e durante a retirada também não foram relatadas lesões."

"O atestado de óbito foi emitido pela equipe de terapia intensiva que cuidava do caso e teve com laudo “Hipertensão Intracraniana, Estado de Mal Epiléptico, encefalopatia hipóxica isquêmica e pós-operatório de cirurgia plástica”. Portanto de causa neurológica. Sentimos bastante junto com toda nossa família."

 

Blogueira

A blogueira cearense Camilla Uckers fez três cirurgias com ele no dia 12 de dezembro de 2017: rinoplastia, lipoaspiração e glúteo.

"Fizemos as 3 cirurgias no mesmo dia. Só que ele escolheu uma prótese [de glúteo] de 330 ml para por em mim e na hora da colocação ele lesionou o meu nervo ciático. Eu tive um choque anafilático na hora da cirurgia. Ele rasgou todos os meus vasos do corpo e perdi muito sangue. Precisei voltar para o hospital para receber transfusão de sangue", relata.

Em nota, Danilo disse que Camila "noticiou via internet todo o seu pós-operatório, demonstrando claramente que não seguiu nenhuma recomendação médica, mostrando a sua falta de cuidado e compromisso com o resultado."

Segundo Camilla, ela ainda sofre com as sequelas das cirurgias.

"Eu fiquei sentindo fortes dores na perna desde a cirurgia, meu pé ficou caído eu não tenho mais os movimentos do pé e sinto dores até hoje no ciático", relata. "A sequela que tenho é no nervo ciático. Estou com uma perna encurtada. Meu pé esquerdo não levanta, está com a síndrome do pé caído".

Camila está movendo processo contra Danilo. "Eu o processei no civil, criminal e no Ministério Público. Eu quero que ele pague por tudo que ele fez em mim. Quero justiça porque as marcas ficarão no meu corpo para sempre".