A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza Dechamps, acusada da morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, foi declarada apta a permanecer na ativa do Corpo de Bombeiros pelo Conselho de Justificação formado por um tenente-coronel, um major e um capitão.
A defesa da tenente alega no processo administrativo que não houve qualquer ferimentos à moral, à ética ou à disciplina, apesar dos xingamentos proferidos por Ledur, classificados por alguns alunos como pressão psicológica.
“Para que se tenha uma ideia, seguem alguns jargões, colhidos do “Dicionário de Gírias Militares”, edição eletrônica ano 2014. Corpo de Bombeiros Militar – Centro de Ensino Bombeiro Militar – Santa Catarina (Este dicionário foi juntado aos autos via anexo 02 da 1ª Razões de defesa – Dicionário completo, contando 20 páginas, está contido entre as folhas 1.496 até 1.506). Vejamos algumas expressões comuns no meio militar, inclusive no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso: cagão, mocorongo, morcego, tapado, cu de tropa, caga pau, bisonho, bicho, lixão, monstro, muquiço, mulambo, mulambento, pica, xerebento, etc”, diz a defesa.
O argumento foi aceito pelo Conselho de Justificação, formado pelo presidente, tenente-coronel Lahel Rodrigues da Silva, pelo interrogante e relator, major Mário Henrique Faro Ferreira, e pelo escrivão, capitão Donato Coelho de Almeida.
Izadora Ledur foi considerada culpada pela acusação de ter desferido golpes com nadadeiras em alguns alunos.
“No meio militar é plenamente aceito, corriqueiro, normal e não tem nada de ofensivo, portanto a Ledur não feriu a ética, o pundonor militar, a disciplina, a moral de quem quer que seja. A defesa colherá algumas passagens das declarações das testemunhas ouvidas neste Conselho para demonstrar que todos os atos praticados naquele dia são corriqueiros no mundo inteiro, sem denotar quaisquer ferimentos à moral, à ética ou à disciplina no meio militar”, disse a defesa.
O Conselho de Justificação decidiu que a tenente Izadora Ledur “reúne condições de permanecer na ativa do Corpo de Bombeiros”.
O documento foi encaminhado ao governo de Mato Grosso, que enviou para o Tribunal de Justiça. O processo foi distribuído para a Turma de Câmaras Criminais Reunidas e o relator é o desembargador Rondon Bassil Dower Filho.
Ledur se afastou pela primeira vez para tratamento de saúde entre 25 de novembro e 24 de dezembro de 2016. No segundo atestado, a tenente esteve de licença entre os dias 9 de março de 2017 a 15 de março.
Como houve um hiato entre o segundo e o terceiro atestado apresentado por ela - que justificou a ausência entre os dias 20 de março a 18 de maio -, a portaria considera que Ledur completou um ano em afastamento contínuo no dia 20 de março deste ano. Após essa justificativa, a tenente apresentou pelo menos outros seis atestados médicos.
Durante o período afastada, Ledur tentou por duas vezes ser promovida para capitã, o que foi negado pela corporação.
A tenente responde criminalmente pela morte do aluno e foi monitorada por tornozeleira eletrônica por três meses. Em outubro do ano passado, ela conseguiu na justiça o direito de suspender o monitoramento eletrônico, com a retirada do equipamento.
A ação que tramita na Justiça, de autoria do Ministério Público Estadual (MPE), tem a tenente como ré pelo crime de tortura. Além dela, outros cinco militares dos bombeiros foram denunciados.
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro, após passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, na qual a tenente Izadora Ledur atuava como instrutora. De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual, Rodrigo demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre e outros exercícios.
“Os métodos abusivos praticados pela instrutora consistiram tanto de natureza física, por meio de caldos com afogamento, como de natureza mental utilizando ameaças de desligamento do curso ”, como consta na denúncia.
Ainda segundo o órgão, depoimentos durante a investigação apontam que ele foi submetido a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude, segundo o MPE, teria sido a forma utilizada pela tenente para punir o aluno pelo mal desempenho.