Um estudo de um professor de engenharia florestal da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), campus Alta Floresta, a 800 km de Cuiabá, mostra a perda de habitat das harpias, aves também conhecidas no Brasil como gavião-real devido ao desmatamento. Everton Miranda apontou que as aves já perderam mais de 40% do território mundial.
No norte do estado, onde é encontrada a espécie, a perda foi causada pelo desmatamento para a produção agrícola e pecuária. No estado foram desmatados 41 mil hectares nos últimos 15 anos, o que representa uma perda entre 12 e 24 ninhos de harpia.
Em Mato Grosso, existe apenas 25 ninhos da espécie, segundo o professor. Cada ninho possui um casal.
“Eles produzem um filhote a cada três anos, a reprodução é baixa e isso preocupa o desenvolvimento da espécie”, explicou.
A harpia é a maior águia do mundo e pode pesar até 9 kg e medir 2,2 metros de envergadura. A ave é carnívora e a alimentação é baseada em preguiças, macacos, cachorro-do-mato, ouriços, quatis, filhotes de veado, mutuns, araras, seriemas, gambás, roedores, lagartos, cobras.
Everton contou ao G1 que a pesquisa começou em 2015, após observar a ausência da espécie em algumas regiões no norte do estado e perceber que não existiam estudos exatos sobre a extensão e distribuição da espécie.
Foi então que ele acionou cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e instituições de Israel, Inglaterra e Estados Unidos. O estudo foi finalizado no dia 13 de maio deste ano e publicado na revista internacional 'Plos One'.
“Concluímos que essa espécie é mais encontrada na Amazônia e a menor parte dela em outras regiões, como na América Central, alguns enclaves florestais no Cerrado, e a Mata Atlântica. Se nada for feito pela conservação, daqui alguns anos só a encontraremos na Amazônia”, pontuou.
A ameaça aos habitats da espécie também se deve ao corte de madeiras, que derruba as grandes árvores onde a harpia usa para construir seus ninhos, e à captura delas em terras indígenas, que cobrem 27% da região. As harpias são capturadas e mortas para o uso de suas penas.
O professor contou que ele e outros profissionais realizam a conservação e monitoramento das harpias no estado. Além disso, grandes torres de observação foram instaladas próximas aos ninhos para a prática do turismo.
“A maioria dos turistas que recebemos são pessoas que vieram ao estado para ver as onças e acabaram estendendo o passeio para a observação dos pássaros”, disse.
Everton disse ainda que é oferecido R$ 500 a quem encontrar e indicar a localização de um ninho de harpia, além de uma porcentagem do valor do turismo ao dono da terra.
“É uma forma de preservar a espécie. Quando um ninho é encontrado, pagamos a pessoa que encontrou e fechamos um contrato com o dono da terra e ele é pago para conservar o local onde as harpias estão vivendo”, explicou.