Uma pesquisa realizada no Pantanal mato-grossense traça um mapa da biodiversidade aquática e terrestre. Foram registradas 576 espécies de vida vegetal e animal nas áreas pantaneiras. O estudo foi feito durante a Expedição Travessia, que envolveu pesquisadores e estudiosos do meio ambiente, e foi acompanhada por uma equipe da TV Centro América.
De acordo com os pesquisadores, os dados que registram a existência de diversidade biológica do Pantanal do Rio Paraguai são poucos e fragmentados. Havia a necessidade de um estudo mais amplo como este.
O Pantanal é a maior planície alagável do mundo. Engloba diferentes tipos de habitats da biodiversidade aquática e terrestre. O Pantanal é considerado “destaque global, vulnerável e com grande prioridade para conservação em escala regional” pelos pesquisadores.
A pesquisa leva o nome de “Corredor ecológico, econômico e cultural do Rio Paraguai no contexto de mudanças climáticas no Pantanal” e iniciou em 2018. A pesquisa ainda não foi concluída, porém, já apresentou resultados.
Das 576 espécies de vegetação e aves, foram catalogadas 255 espécies e 48 famílias de algas, 95 espécies e 37 famílias de plantas aquáticas, 160 espécies e 52 famílias de aves. A vegetação arbórea (árvores) foi inventariada 30% da área pesquisada e catalogadas 2.374 árvores, com 30 espécies identificadas.
O equilíbrio desse ecossistema é mantido pelas inundações que ocorrem em determinadas épocas do ano. Segundo pesquisadores da região, o pantanal mato-grossense está ameaçado pelas direções determinadas pela política econômica, como a retomada do projeto de Hidrovia Paraguai-Paraná.
O pulso de inundação influencia até na reprodução de várias espécies que escolhem os períodos mais favoráveis para a construção dos ninhos, mas as mudanças na paisagem ocorridas nos últimos anos preocupam os pesquisadores.
Carolina Joana da Silva, doutora em ecologia, que coordenou o projeto, explica a importância do pulso das águas para o Pantanal.
"Esse pulso das águas que determina tudo. Nós chamamos que é o principal fator ecológico é a forças que determina a vida, a abundância da vida. As plantas no Pantanal são a base da cadeia alimentar. Então, os peixes, as aves, dependem dessa regulamentação. Da mesma forma que encontramos uma abundância de aguapé, encontramos uma abundância de aves", disse.
Segundo as pesquisas, um dos agravantes que ameaçam a biovida do Pantanal, é a navegação desordenada de embarcações e a construção de diques, que são os maiores problemas levantados dentro do Pantanal, além de outros fatores, como o desmatamento e o avanço da agricultura em larga escala no planalto pantaneiro.
Entre os pesquisadores e as instituições envolvidas no estudo, estão a coordenadora Carolina Joana da Silva, e os doutores Wilkinson Lopes Lázaro, Josué Nunes Ribeiro, Nilo Leal Sander, Joari Costa de Arruda, Ana Aparecida Bandini Rossi, Michele de Morais, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
Como vice-coordenadora do projeto, Simone Maria Loverde, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Marcos Silveira, da Universidade Federal do Acre (UFAC); Keid Nolan Silva, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
A pesquisa também teve a participação de entidades internacionais, como a Universidade da Flórida (UF) dos Estados Unidos (EUA) com Mark T. Brown; a Universidade Autônoma do Estado de Hidalgo (UAEH) com Maria Tereza Pulido Silva; e a Universidade Michoacana San Nicolas de Hidalgo (UMSNH), com Leonel Lopez Toledo, ambos do México.
As parcerias internacionais realizarão diversas palestras, cursos e disciplinas para os cursos de graduação e programas de pós-graduação das comunidades científicas interessadas. O intuito é que todo o conhecimento adquirido através da pesquisa seja disseminado no estado.
A viagem de estudo foi uma iniciativa da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), unidade de Cáceres, a 220 km de Cuiabá, e financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa de MT (Fapemat) para a coleta de material para análise em laboratório.
O objetivo da Expedição Travessia é avaliar e monitorar a qualidade da água, fauna e a flora pantaneira e ver de perto os reflexos das mudanças climáticas e da ação do homem na maior planície alagável do planeta.
Nos primeiros quilômetros da Expedição Travessia, as equipes usaram barcos pequenos para ver de perto o que está acontecendo no Pantanal. Algumas pesquisas exigem um esforço um pouco maior. Durante o percurso a equipe enfrentou chuvas e tempestades.