O biólogo Davi Soares acredita que o ataque de jacaré ao cachorro morto no sábado passado (13) foi instinto animal e autodefesa, em entrevista ao Olhar Direto. O profissional também explica que o animal foi encontrado intacto porque o jacaré provavelmente não estava com fome, já que “na verdade, répteis podem ficar vários dias sem precisar se alimentar”, argumenta.
O jacaré atacou ao se assustar com o animal próximo, tentando se defender, explica o biólogo. Percebendo ser uma presa, o jacaré levou o cachorro para dentro do lago, mas não o comeu. Mesmo sem fome, o animal é “programado há milhões de anos” a ter este instinto. “Se ele estivesse com fome, tinha sobrado nada. Ele teria aproveitado toda a carne do animal”, acrescenta.
Apesar do ataque ao animal, o biólogo esclarece também que os jacarés do Parque das Águas não representam grande ameaça às pessoas. “São animais que raramente atacam humanos. [Acontece] apenas em caso de defesa. Se mantivermos distância, tudo certo”, explica. “Os jacarés são animais dóceis”.
No sábado passado (13), o cachorro foi morto enquanto tentava buscar um graveto jogado por seu dono próximo ao lago do espaço. Segundo a administração do parque, em um dos arremessos feitos, o pedaço de madeira caiu próximo ao jacaré que o atacou. O dono do animal cogitou entrar na água para resgatar seu animal de estimação, porém foi impedido por terceiros.
No dia do acidente, as pessoas relataram que o cão havia sido comido pelo réptil, porém, no domingo (14), o cachorro foi retirado do lago intacto.
Os jacarés vivem no local desde antes a construção do Parque das Águas, quando era apenas uma lagoa. De acordo com a Prefeitura de Cuiabá, é estimado que tenha quatro jacarés de tamanhos diferentes na região.
Em entrevista à TV Centro América, o secretário de Serviços Urbanos de Cuiabá, José Roberto Stopa, lamentou o ocorrido. “Este é o habitat natural do jacaré e tem que ser respeitado. Vamos colocar ainda mais sinalização e também deixar educadores ambientais nesta parte, principalmente no período da tarde e noturno, que eles costumam sair mais”.
“Vamos estudar concluir a cerca. Mas é bom deixar claro que este guardrail não impediria o problema. Mantemos a orientação de não deixar subir na cascata. O lago existe para ser preservado. Não é para banho, para animal doméstico. Somos os invasores aqui. Vamos reforçar o número de educadores ambientais”, acrescentou o secretário.
Entretanto, a Prefeitura de Cuiabá, por meio de nota, informou que um cerca não iria evitar o ataque. O município afirma que o incidente foi uma fatalidade, já que o cão entrou no habitat natural do réptil. A Prefeitura também classifica o caso como pontual, já que não houve qualquer situação semelhante desde a inauguração do parque, em 2016.
“Parte do espaço conta com uma cerca que separa o Parque da nascente do lago, que fica em uma região de mata fechada. Isso impede que outros animais silvestres invadam a área pública. Mesmo que a cerca fosse instalada ao redor de todo o lago, a medida não evitaria esta ocorrência, uma vez que o cão foi incentivado a entrar na água e sua movimentação na superfície motivou o ataque”, diz trecho da nota.
Apesar de não construir uma cerca por volta do lago, a Prefeitura irá aumentar o número de guardas e monitores, para evitar que qualquer situação parecida aconteça futuramente. A orientação passada aos profissionais é para que eles não permitam que os frequentadores subam na cascata ou entrem no lago.
“Há que se reforçar ainda que os jacarés e capivaras estão em seu habitat natural e que o espaço deve ser respeitado pelos seres humanos que aproveitam da beleza da região para práticas esportivas e de lazer”, finaliza.