A Polícia Civil já sabe que os bebês trocados no Hospital de Urgência de Trindade (Hutrin), na região Metropolitana de Goiânia, foram vestidos com as roupas um do outro após o banho dado por uma funcionária da maternidade. Agora, a delegada Renata Vieira investiga se foi neste momento que toda a confusão começou. Nesta quarta-feira (31), pela manhã, a delegada pretende ouvir três profissionais da unidade.
Os depoimentos de duas técnicas em enfermagem e uma enfermeira estavam previstos para esta terça-feira (30), mas foram adiados após pedido da direção do Hutrin. Uma delas é chefe da maternidade. Outra é a responsável pelos banhos e uma terceira que atuou no centro cirúrgico.
De acordo com a delegada, apesar dos bebês de Pauliana Maciel Aguiar de Sousa e Aline de Fátima Bueno Alves terem sido identificados corretamente nas pulseiras, eles foram vestidos com as roupas trocadas após o banho.
Ao ser levado para a enfermaria, o bebê colocado ao lado de Aline vestia a roupa escolhida por ela, no entanto se tratava do filho da Pauliana. O mesmo erro ocorreu com o recém-nascido da outra mãe.
“O bebê da Pauliana estava com a roupa do bebê da Aline [e vice-versa], mas a identificação do bebê na pulseira estava certa, só que do lado da mãe errada. A pessoa que foi responsável pelo banho levou essas crianças para o quarto e acabou entregando as crianças para a mãe errada, mesmo a pulseira estando escrito de quem era o bebê”, contou a delegada.
Segundo a mãe de Aline contou à polícia em depoimento, a roupa que o bebê da filha deveria estar era muito específica, já que foi vestida também por um outro neto da mulher logo após o nascimento.
As investigações apontam ainda que as pulseiras se soltaram e uma delas caiu no chão. Segundo a delegada, a mãe de uma das mulheres viu que o nome escrito na pulseira achada perto do suposto neto não era o da filha e sim da outra paciente.
A avó de um dos bebês informou à polícia em depoimento que chamou uma funcionária da maternidade para avisar que achou estranho as pulseiras estarem trocadas.
“Elas chegaram a questionar uma enfermeira que disse que as pulseiras poderiam ter sido trocadas na hora do banho. Elas achavam que eram as pulseiras que estavam erradas. E aí as avós trocaram de pulseiras”, afirmou Renata.
Uma das funcionárias esperadas para ser ouvida na terça na delegacia é a profissional citada pelas famílias nos depoimentos.
“Se a enfermeira tivesse chegado e tivesse olhado a situação, às vezes ela teria percebido, que o que estava errado era os bebês e não as pulseiras”, falou a delegada.
Após a alta hospitalar, as mães levaram os bebês trocados para casa. Aline retornou para Santa Bárbara de Goiás, a 27 Km da maternidade de Trindade, onde mora com o marido Murillo Praxedes Lobo.
Já Pauliana foi para casa em Trindade, onde reside com o marido Genésio Vieira de Souza. Os dias se passaram e o casal percebeu que o bebê não se parecia com eles e começou a desconfiar que algo de errado poderia ter acontecido.
Os dois resolveram fazer um exame de DNA, que aconteceu na segunda-feira (22), quando o recém-nascido estava com 13 dias de vida. O resultado saiu na sexta-feira (26), comprovando que o bebê não é o filho biológico do casal.
O casal, então, resolveu procurar à polícia. No dia do parto, 9 de julho, 16 crianças nasceram na maternidade. A suspeita da troca se espalhou rapidamente na cidade e o outro casal que teve filho na mesma data e que estava no mesmo quarto também procurou a delegacia.
Desde segunda-feira (29), as duas famílias decidiram ficar na mesma casa até que o resultado do exame saia.
"A gente entrou num acordo. A melhor forma para as mães não sofrerem tanto, para elas já pegar convívio com o neném, uma mãe com a outra”, contou Murillo.
Com o resultado do exame e com o depoimento das três funcionárias, a delegada disse que vai avaliar se há necessidade de ouvir outros funcionários da equipe, que tinha 15 profissionais atuando no dia do plantão que os meninos nasceram.
Renata contou ainda que até o momento trabalha com a investigação baseada no Art. 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê penalidade para quem não identificar corretamente o bebê e a mãe após o parto.
“Trabalhamos com a hipótese de ter sido culposa a troca [quando não há intenção]. Após a conclusão da investigação, vamos enviar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) sobre o caso à Justiça”, disse Renata, explicando que o TCO é um "registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo".
A delegada também esperava analisar imagens de câmeras. Porém, na terça, ela recebeu a informação do Hutrin que as imagens de câmeras da maternidade não estão mais disponíveis, já que ficaram armazenadas por 10 dias e foram automaticamente apagadas.