Areões, território indígena devastado pelo fogo no Mato Grosso, teve as primeiras queimadas do ano em 11 de maio. Os dois focos — únicos naquele mês — foram detectados pelo Aqua, satélite de referência doInstituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), já naquele dia.
A maior quantidade de focos ocorreu em agosto. Foram 124 pontos de calor detectados neste mês, sendo que 90 deles a partir do dia 15 (72% dos casos). Há ainda os territórios vizinhos de Areões I e Areões II, também atingidos pelo fogo (veja gráficos abaixo).
Nesta quarta-feira (28), ao fazer operação na área afetada para tentar identificar os criminosos responsáveis pelo fogo, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) informou que as queimadas já atingiram quase todo Areões.
A operação também contou com agentes da Polícia Federal. O território ocupa cerca de 219 mil hectares de Nova Nazaré, a 800 quilômetros de Cuiabá.
A reportagem entrou em contato com o Ibama e com o Ministério do Meio Ambiente sobre o tema, mas até por volta de 9h não havia obtido resposta.
Todos os focos em Areões estão no Cerrado, segundo os dados do Inpe. Alberto Setzer, pesquisador do Programa Queimadas, explica que tanto na Amazônia quanto no Cerrado o fogo é utilizado para a expansão da fronteira agrícola e também para a manutenção de áreas que já foram desmatadas.
Segundo ele, o "fogo natural" do Cerrado ocorre com a incidência de raios, com uma frequência muito menor do que as queimadas causadas pelo homem. As queimadas vistas recentemente estão acima do necessário para a manutenção do bioma, dizem especialistas.
O cacique Carlos Wa’râiró disse que muitos índios já estão doentes. "Não sabemos quem colocou [o fogo]. É perigoso também porque nossas casas são de palha", afirmou. Uma centena de indígenas vive na aldeia Campo Alegre. Há pelo menos outras 30 na área, onde vivem cerca de 1,5 mil indígenas.
A coordenadora distrital de Saúde Indígena da etnia Xavante, Luciene Cândida Gomes, afirmou que houve aumento do número de casos de doenças respiratórias entre indígenas da região nesse período.
Para a Fundação Nacional do Índio (Funai), uma das iniciativas que poderiam ajudar na prevenção de incêndios na terra indígena seria a instalação, lá dentro, de uma base do Prev Fogo (órgão ligado ao Ibama que atua em casos de queimadas).
"Esse trabalho já é feito em outros territórios indígenas e é importantíssimo. Mas é preciso recurso financeiro e estamos aguardando resposta do Ibama", explica Jailton Alves Brito, coordenador regional da Funai.
No domingo (25), os dados do Inpe mostraram que o número de queimadas no Brasil ultrapassou a média histórica na Amazônia para agosto. Até esta terça-feira (27), antes mesmo do fechamento do mês, foram registrados 27.497 focos - a média é 25.853, desde 1998.
O Amazonas bateu o recorde mensal histórico de queimadas: em nenhum outro mês, de qualquer outro ano monitorado, tantos focos avançaram no estado. Veja abaixo a situação na Amazônia Legal:
O governo federal apresentou nesta quarta-feira dois mapas de calor para dizer que as queimadas na Amazônia reduziram entre os dias 25 e 27 de agosto. Em entrevista coletiva no Ministério da Defesa, no entanto, não foram apresentados os dados comparativos de focos de incêndio para demonstrar a redução.
Os mapas apresentados são produzidos pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), subordinado ao Ministério da Defesa. Segundo o ministro, Fernando Azevedo e Silva, a situação na região está "sob controle".
Na última sexta-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto autorizando o envio de tropas das Forças Armadas à região para combater a queimadas na Amazônia Legal. Todos os estados da região já pediram ajuda dos militares.
Durante entrevista coletiva nesta quarta-feira, o coordenador da Operação Verde Brasil, que reúne as Forças Armadas e vários órgãos do governo, almirante Ralph Dias, afirmou que a avaliação da operação é "positiva".
"De um modo geral, hoje, eu considerei positivo tudo o que a gente conseguiu fazer, com o período de mobilização que nós tivemos, com o tamanho da área que nós estamos tratando, da Amazônia Legal, eu acho que o balanço é positivo", afirmou Ralph Dias.
Representante do Ibama na entrevista coletiva, Gabriel Zacharias disse que ainda não é possível apresentar um número preciso da diminuição dos focos de incêndio.
"Posso chegar para vocês e informar que do dia 23 para o dia 24, nós caímos de 443 focos de calor, em Rondônia, para 24. E a interpretação vai ser uma. Ou posso falar que do dia 22 para o dia 23, nós saímos de 62 para 440. Essa análise dia a dia dos focos de calor, numericamente, que é o satélite de referência, ela não traz para a gente um índice real", afirmou Zacharias.
O representante afirmou, ainda, que condições climáticas, como a presença de uma grande nuvem na região, podem interferir no aferimento de focos de calor.