O câncer de mama foi descoberto pela professora Raquel Flores aos 38, dois anos depois de ter perdido a mãe para a mesma doença. Após sessões de quimioterapia e mastectomia, conseguiu se encontrar novamente com uma paixão antiga, a dança do ventre. E foi pensando nisso que ela se disponibilizou a dar aulas gratuitas a outras mulheres que passem pela mesma situação. Hoje, realiza a atividade com as assistidas da MT Mamma como forma de terapia, e formou também um grupo para apresentações, principalmente durante o outubro rosa.
Raquel é natural de Santo Antônio do Leverger. Descobriu o câncer durante uma sessão de acupuntura, quando disse ao médico, amigo da família, que percebia algo diferente no autoexame, e que havia aparecido ‘alguma coisa’ no ultrassom – mas ela não tinha tido tempo de ir ao retorno do ginecologista. Ele a encaminhou para um mastologista, e logo veio a confirmação. Os médicos decidiram que o melhor seria que a paciente fizesse quatro sessões de quimioterapia vermelha antes da cirurgia, para que o tumor diminuísse. O procedimento, no entanto, diminuiu sua imunidade, e ela teve que esperar, ainda, cinco meses até a mastectomia.
“Ele falou: eu vou tentar salvar uma parte do seu seio e o mamilo. E eu falei que não queria, porque eu vi todo o sofrimento da minha mãe... ela tirou uma parte, depois voltou no mesmo seio, e teve que fazer a mastectomia. Então eu falei, se for para tirar, tira tudo logo”, e foi o que ele fez.
Somente dois anos depois que Raquel fez a reconstrução. “Minha mãe já estava bem há quase 5 anos, era quase considerada curada, quando o câncer voltou com força total, e eu passei por uma experiência muito traumática com ela. Então o mais importante para mim era a vida, não a parte estética. Mas é lógico que vai passando o tempo e você começa a se olhar no espelho, e começa a sentir outros efeitos. Quando você vai ficando melhor, já olha para o lado estético”.
Neste meio tempo, assim que os cabelos começaram a crescer e Raquel passou a se sentir mais forte, decidiu voltar para a dança – algo que ela praticava desde os 28 anos, mas tinha parado para se dedicar à profissão de professora de química. “A médica me indicou a não ficar em casa, a fazer alguma coisa lúdica, me divertir, aproveitar esse momento meu... então eu resgatei a dança, e foi a melhor coisa que eu fiz, porque me ajudou muito mesmo”, lembra a professora.
Para ela, a dança foi um grande passo em direção à autoestima, ao autoconhecimento. No entanto, não foi fácil. Na reconstrução, foi retirado um pedaço de músculo de suas costas e, durante o tratamento, também foi necessário retirar os linfonodos dos braços, o que causou limitações. “A mobilidade do meu braço esquerdo diminuiu muito, tanto que a gente é enquadrada como deficiente depois que faz esse tipo de cirurgia. O braço não consegue segurar mais do que dois quilos, então eu tenho muita dificuldade com esse braço... mas graças a Deus que eu tenho meus braços ainda, né? Tenho que pensar assim. E consigo fazer o que é possível na dança”.
De aluna para professora, foi um passo. Assim que ela conheceu o MT Mamma, foi convidada pela organização, e aceitou o desafio. Desde então, às terças-feiras à tarde ela ministra as aulas de dança do ventre, que são seguidas de aulas de ioga e meditação, com outra professora – todas gratuitas e oferecidas às assistidas da instituição.
“Eu vi nelas a mesma coisa que eu sentia. Quando você chega você está um pouco retraída, um pouco tímida, e depois você começa a se olhar no espelho, a se apreciar, a ter aquele resgate com a mulher que tem dentro de você. Começa a se olhar no espelho e ver que é a mesma pessoa que está ali. Não é porque por fora está diferente, que por dentro você mudou”, declara.
Além destas aulas, ela também lidera um grupo de 17 mulheres que ensaiam em outro horário para fazer apresentações. “É um momento delas, de melhorar sua autoestima, e de alegria, de descontração. Porque o tratamento já é tão sofrido, tão dolorido... e este é um momento que você tira para você, que esquece tudo lá fora. Agora é você que vai mexer, se divertir, se olhar no espelho, olhar para a sua colega e ver o quanto você é bonita, usar palavras de carinho com você mesma, com seu corpo”. Faz tudo com o apoio de outra voluntária, Josy Fire.
As próximas apresentações do grupo acontecem neste sábado (26) no Teatro Zulmira Canavarros, durante a mostra de dança ‘MOVE’, às 19 horas, e no domingo (27), na Praça de Alimentação do Várzea Grande Shopping, às 18 horas.
Serviço
MT Mamma
Endereço: R. Amâncio Pedroso de Jesus Neto, 9 - Jardim Petropolis, Cuiabá - MT, 78070-040