Uma grávida de 6 meses passou mal durante a gestação e procurou socorro no Hospital São Luiz de Cáceres, a 220 km de Cuiabá, mas perdeu o bebê após esperar horas por atendimento de um médico especialista, segundo a família.
Fernanda Schiavo e Wesley Ferreira, que são de Mirassol D'Oeste, a 329 km de Cuiabá, realizaram uma denúncia na ouvidoria do hospital e no Ministério Público Estadual (MPE) para que os suspeitos pela morte do bebê sejam responsabilizados.
A diretora técnica do hospital, Ana Maria Gonçalves, disse que já foram ouvidos alguns funcionários. “Já iniciamos uma conversa com todas as equipes assistenciais e estamos analisando o prontuário dela e tudo que foi prestado”, explicou.
O MPE informou que em casos de denúncias requisita as informações à unidade e ouve as partes. Depois deste caso, o órgão afirmou que vai pedir os prontuários de todos os fetos que nasceram mortos este ano no hospital para avaliar se há ou não um padrão, já que outras mortes de bebês durante o parto já foram registradas no mesmo hospital.
O sonho do casal sempre foi ter um filho e, depois de muitas tentativas, foi realizada a fertilização in vitro. Segundo os pais, tudo ocorreu bem durante a gestação e eles teriam uma menina. No entanto, no 6° mês de gestação, Fernanda teve um sangramento.
“Na minha cidade não tem obstetra de plantão, então fomos para Cáceres. Os médicos realizaram ultrassom e exames clínicos e disseram que o colo do meu útero estava fechado e eles não encontravam o motivo do sangramento”, contou.
Após o atendimento, Fernanda foi para casa com o marido. Dias depois, ela começou a passar mal novamente e voltou ao hospital.
Ela foi internada e ficou aguardando por um médico obstetra, mas depois de muitas horas de espera, Fernanda perdeu o bebê.
“O cordão umbilical tinha enrolado no pescoço dela [bebê] e deu um nó. Não tinha nenhum obstetra ou pediatra”, afirmou.
Segundo a família, o parto deveria ter sido cesária, devido ao problema com o cordão umbilical, mas o parto foi normal.
Wesley disse que chegou com a mulher no hospital ainda à tarde e que esperou até o dia seguinte, mas nenhum médico especialista atendeu Fernanda.
“Não sabemos até hoje quem era o profissional de saúde que estava de plantão naquele dia. Sabemos que começamos a chamá-lo às 15h e passou a tarde, a noite, a madrugada e ele não apareceu”, contou.
Em 2017, a mãe Rosa Maria denunciou o médico do mesmo hospital, Jarbes Balieiro Damasceno por ter causado a morte do bebê dela durante o parto.
O promotor Rinaldo Ribeiro de Almeida explicou que a violência obstetra vai além de muitas situações e que a consequência é a morte da criança.
“Um xingamento, insinuações são violência obstetra e muitos vezes as pessoas não têm consciência disso e não denunciam isso”, explicou.
A Polícia Civil informou que o inquérito sobre o caso do médico Jarbes foi concluído em 2018 e enviado ao Ministério Público.
O médico foi indiciado por lesão corporal grave contra a mãe, pois a vítima ficou com capacidade reprodutiva comprometida, e pelo crime de homicídio doloso pela morte do bebê.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) disse que existem três processos éticos em andamento contra o médico ainda sem conclusão.
Mais de 70% dos atendimentos do Hospital São Luiz são do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente, partos de alto risco. A unidade atende 22 municípios da região oeste do estado e da Bolívia.