A colheita da safra de soja não será a mesma para o agricultor Elton Zanella. Ele plantou 8.300 hectares da oleaginosa em Comodoro, no oeste de Mato Grosso. Com a lavoura em ponto de corte, reforçava o parque de máquinas da fazenda para agilizar os trabalhos, diminuindo o risco de ver a produção ameaçada pelas frequentes chuvas que caem na região. Só não imaginava que a precaução com o tempo úmido fosse esbarrar na infraestrutura precária da principal estrada de acesso à propriedade.
Conhecida como “Estrada da Baiana”, a rota tem 52 quilômetros de chão que ligam as fazendas do Vale do Guaporé à BR-174. É o principal caminho para escoar os grãos produzidos em uma área de 25 mil hectares de plantações, e também para transportar o rebanho de dezenas de propriedades que somam cerca de 100 mil hectares de pasto. Apesar da relevância da estrada, os produtores dizem que ela está “abandonada” pelo poder público.
Para evitar que o trecho fique intransitável durante a colheita, alguns agricultores e pecuaristas do Vale do Guaporé têm tirado dinheiro do próprio bolso para mantê-lo em condições mínimas de trafegabilidade. Nos últimos 3 anos, o grupo estima ter gasto pelo menos R$ 500 mil com as ações na “Estrada da Baiana”. Só com a manutenção de pontes, foram R$ 50 mil este ano, segundo Zanella – um dos produtores envolvidos nesta empreitada. E foi justamente uma ponte em péssimo estado que provocou um grande prejuízo ao agricultor.
Orçada em R$ 1,5 milhão, a colheitadeira recém-adquirida pela família Zanella seria peça-chave na colheita da safra. “Ela iria colher pelo menos mil hectares”, calcula. Só que durante o transporte, uma das pontes da “Estrada da Baiana” não suportou o peso. A madeira cedeu e a máquina despencou ao chão: cabine para baixo, rodas para cima. Foi preciso um trator e uma escavadeira hidráulica para erguer o equipamento, bastante danificado. O agricultor acredita que gastará cerca de R$ 500 mil para consertar a colheitadeira. Mas se a estrutura estiver empenada, ele diz, a perda será total. Além disso, terá que terceirizar a colheita de parte da lavoura, a um custo estimado de mais R$ 300 mil.
Indignado com a situação, Zanella reforça a cobrança do Rafael Vandresen, outro agricultor insatisfeito com a falta de atenção da gestão municipal com a estrada. Rafael planta 2.700 hectares de soja em Comodoro e também faz parte do grupo que está aplicando recursos próprios para melhorar as condições do trecho de chão. Ele destaca outro ponto em comum na reclamação dos produtores: acredita que dinheiro do Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) deveria ser utilizado pela prefeitura para garantir a trafegabilidade do trecho. “Colocamos nossas máquinas e nos unimos com outros produtores para consertar esta estrada. Estamos tirando dinheiro do bolso, cedendo funcionários, maquinário, óleo diesel. Precisamos de apoio para solucionar isso. Nós estamos gerando renda, riquezas para Comodoro. Gostaríamos de ter aporte do município para podermos fazer nosso trabalho”, desabafa o agricultor, que diz gastar cerca de R$ 300 mil por ano com o pagamento do Fethab.
O que diz a prefeitura?
Por telefone o prefeito de Comodoro, Jeferson Ferreira Gomes (DEM), confirmou a ação-conjunta com os produtores para minimizar os problemas na “Estrada da Baiana”. Segundo ele, o município disponibilizou máquinas (1 “patrola” 1 “pá-carregadeira” e 2 caminhões) e funcionários para realizar as ações, além de parte do combustível utilizado.
O gestor também destacou que “o trecho é considerado uma prioridade para o município” e que não concorda com quem diz que ele tenha sido “abandonado” pelo poder público. “Nos últimos 3 anos nós já empenhamos cerca de R$ 1 milhão na manutenção da “Estrada da Baiana”. Nesta semana estamos substituindo mais duas pontes de madeira e já estamos reunindo materiais para fazer o mesmo com a ponte onde ocorreu o acidente com a colheitadeira do agricultor”, afirmou.
Quanto aos recursos do Fethab, o prefeito de Comodoro frisou que “muitas vezes há confusão” por parte dos produtores sobre o dinheiro que realmente é repassado para os municípios. “O dinheiro recolhido sobre a venda de soja, milho, algodão e gado não vem para o município. Nós só recebemos parte do que é arrecadado com o Fethab incidente no óleo diesel”, explica.
Para 2020, a prefeitura de Comodoro espera receber algo em torno de R$ 2 milhões com o repasse do Fethab. “É um dinheiro insuficiente para atender a nossa demanda. Não cobre nem mesmo os gastos com a manutenção das duas rodovias estaduais que cortam o município: são 100 quilômetros de chão da MT-235 e outros 70 quilômetros de chão da MT-440. Infelizmente não sobram recursos do Fethab para investir nas demais estradas do município”, relata.