Com apenas 1165 casos do novo coronavírus (COVID-19) confirmados, a República Tcheca adotou medidas drásticas para evitar a propagação. Patrícia Regina Mrkvička, 39, professora de inglês que vive na cidade de Mlada Boleslav, a 50 km de Praga, conta que a população está proibida de sair na rua sem máscaras, e que ela já não encontra álcool em gel para comprar há dois meses. Além disso, as fronteiras estão fechadas e os tchecos que precisam voltar são todos testados.
Patrícia mora na Europa há mais de dez anos. Decidiu quando conheceu seu atual marido durante um intercâmbio. Hoje tem dois filhos, um de cinco e um de dois anos de idade. Segundo ela, o primeiro caso foi confirmado no país há cerca de três semanas e, desde então, o governo tem tomado medidas drásticas.
“Na primeira semana o governo tcheco determinou o fechamento das escolas, universidades, cinemas, teatros, vários ambientes públicos, porque acredita que o isolamento vai achatar a curva de infecção”, disse ao Olhar Conceito. “Com 74 casos eles decidiram tomar essa atitude, e mesmo assim os números foram subindo. Na segunda semana, fecharam os shoppings centers, restaurantes, e só ficou farmácia e supermercado abertos”. Hoje, o Brasil tem mais casos que a República Tcheca, com 1.619.
No país onde Patrícia vive hoje, aconteceu apenas uma morte. No Brasil, já foram 25. “Está sendo controlado. Essa semana, a partir do último sábado, saiu um decreto que nós não podemos sair na rua sem a máscara, sem o respirador. Nós temos que usar a mascara, e eu só estou indo pro supermercado e farmácia, estou estocando bastante comida em casa porque eu não quero ficar circulando. É o único lugar que eu vou uma vez por semana, no máximo. Ontem em Praga mil pessoas foram multadas porque não estavam usando a máscara”, conta. Quem não consegue comprar as máscaras, está fazendo em casa, com tecido.
O marido de Patricia, que é engenheiro industrial em uma empresa que presta serviços à Škoda, montadora de carros, está trabalhando dois dias de casa, e nos outros ele vai a um escritório próprio, onde fica sozinho. A montadora em si, que emprega 30 mil pessoas, está fechada temporariamente.
Desde que o surto começou a ficar sério na Itália, o povo checo já começou a se precaver, conta Patricia e, por isso, há dois meses ela já não encontra álcool em gel para comprar. Como alternativa, usa desinfetantes ou vinagre para higienização das mesas.
França
Em situação ainda mais complicada, a França tem 16.720 casos confirmados e 676 mortos. A catarinense Fatima Pavesi Becker, 37, mudou-se para a região da Bretanha, na França, há dois meses, vindo da República Tcheca, e nem imaginava o que estava por vir.
“Há cerca de três meses, quando estávamos preparando pra mudar pra França, eu estava olhando as notícias da China e me preocupei pois nossa conexão era Budapeste/Paris/Rennes. Então fui atrás de máscara e álcool em gel e naquela semana em Budapeste era férias das universidades de medicina, e então já não tinha mais máscaras. Ali senti um certo medo tomando conta das pessoas”, contou ao Olhar Conceito.
Ela, que é analista comercial, mora com o esposo e com a filha de quatro anos, e está de quarentena dentro de casa. Com tudo o que acontece, sente vontade de voltar ao Brasil. “Na real, desde que mudamos pra Budapeste temos muita saudade de nossa cidade, de nossos amigos e familiares, nossa cultura, nossa comida. E agora nesta fase dá mais certeza que iremos voltar e logo que pudermos. Mas, agora temos que passar esta fase aqui e superar tudo com saúde”, lamenta.
Em relação aos parentes que ficaram no Brasil, ela alerta: “Ainda não caiu a ficha da guerra que estamos vivendo. Tenho amigos que me mandam mensagem perguntando se é real isso tudo que passa na TV. Eu respondo que é sim, é até pior, pois não contam a toda a verdade”, finaliza.