A data que nos remete a pensamentos vermelhos, aos apaixonados, aos amantes, aos românticos, a paixão, a poesia, a música, as flores e os presentes que deixam os amados ainda mais aficionados!
Vejo nos comércios, nas avenidas, nos outdoors a imagem de corações e a predominância da cor vermelha, tudo estimula ao amor, ao amante!!!!
Também vejo essa mesma cor, no rosto de muitas mulheres apaixonadas! A mesma cor da decoração da loja feminina, vejo no sangue que escorre do nariz, da boca e principalmente dos olhos da mulher, o mesmo coração pendurado na vitrine, vejo espartilhado no peito da mulher agredida!
As mãos que trazem flores, que por sinal vermelhas e apaixonantes e as entrega para a amada sorridente, são as mesmas mãos que mais tarde vem a espancar e estrangular até que o sorriso cesse e, novamente a cor vermelha em face retorne, e quando não mais com vida carrega em seu corpo a cor vermelha da dor e das flores!
É difícil comemorarmos o dia dos apaixonados, dia do romantismo , numa sociedade que agride doze mil mulheres por dia e mata de quatro a cinco mil mulheres por ano, por “amor”, que nesta data de hoje enquanto umas estão ganhando declarações e beijos apaixonados, em média, treze estão ganhando abraços lagrimados e beijos de adeus, com a simples justificativa que tudo aconteceu porque ele a amava, e, que se dele não pertencer o seu amor de mais ninguém será, dando um parecer social de um apaixonado que foi provocado pela desobediência feminina!
É difícil comemorar o sinônimo dado ao amor onde na verdade é o antônimo!
É difícil comemorar o amor onde não se tem escolha de amar, onde não se tem respeito, dignidade e a igualdade de vida social!
Queria eu como mulher, que sinto violentada, triste e enfraquecida, tendo meus direitos que a grande custo foram conquistados e, por vezes retirados cada vez que uma mulher é agredida ou morta, comemorar nesta data tão romântica a vida feminina, comemorar o amor pela liberdade, pelo direito de sorrir, de ser mulher, de passar um batom e colocar um salto vermelho, comemorar o direito de ser chamada de mãe, de ser filha, de ser amiga, de estar apaixonada...
Queria eu hoje comemorar a vitória sobre a violência, a repressão, ao machismo e ao preconceito! Comemorar o desuso da lei 11.340 e todos os instrumentos normativos relacionados a violência contra a mulher, queria eu hoje comemorar a vitória da vida sobre a morte daquelas que dizem: Não dá mais para sermos um casal!
Mas infelizmente hoje em nome de cada vítima dessa cultura violenta e truculenta que grita por socorro, socorro de mudanças, de atitudes, ações de políticas públicas, de proteção, a NÃO comemoração desta data e sim a reflexão do poder do buquê vermelho nas mãos da amada e em sua lápide!
Texto de autoria: Lucinéia de Oliveira Moraes
Acadêmica do curso de Direito de Juara – MT