Um dia após ser libertado e expulso da Venezuela, o catarinense Jonatan Moisés Diniz, 31, afirmou neste domingo (7) ter ido aos protestos contra o ditador Nicolás Maduro entre maio e agosto, período em que morou no país.
O brasileiro ficou dez dias preso na sede do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência, polícia política do chavismo) em Caracas sob a acusação de participar de uma organização criminosa.
Em texto publicado em uma rede social, o catarinense disse que se comoveu com o que viu nos protestos e, por isso, decidiu voltar à Venezuela em dezembro, segundo ele, para ajudar as crianças -ele foi detido no dia 27.
"Quando não chorava pela notícia de mais um jovem assassinado que batalhava por liberdade e um país melhor, chorava por ver crianças de 5, 6 anos prepararem bombas molotov no meio da avenida para se prepararem para os confrontos", declarou.
"Enquanto via adultos de 20, 30, 40, 50, 60, 70 anos olharem a situação e não fazerem MERDA NENHUMA para afastar aquelas crianças do perigo, e pior, se tentava falar para as crianças não fazerem isso ainda sofria ameaças."
Embora tenha participado dos atos e dito que, devido à repressão, "passou a odiar Maduro", Diniz afirma que viu "muita barbaridade tanto de um lado quanto do outro".
Ele não deu detalhes sobre os dez dias de prisão na sede do Sebin, que abriga opositores presos e apontada por organizações de direitos humanos como um local de tortura.
Também não informou seu atual paradeiro, disse que não dará entrevistas e pediu privacidade para retomar sua vida pessoal e profissional.
O período em que Diniz morou na Venezuela foi o auge das manifestações. Ele chegou dias após a convocação da Assembleia Constituinte, que levou à intensificação dos atos, e deixou Caracas pouco depois da instalação da Casa.
A lei venezuelana determina que os estrangeiros podem ser expulsos do país se se violarem a segurança da população, a ordem pública ou cometerem delitos contra os direitos humanos. Pela Constituição os estrangeiros não têm direitos políticos, salvo em caso de obterem cidadania. Isso pode ser estendido para a participação em protestos, assim como no Brasil e em outros países da região.
No mesmo texto, ele conta que sua relação com a Venezuela começou em 2016, em uma viagem com mochila.
Nos seis dias que ficou em Caracas, descobriu, por meio de amigos que fez, a crise econômica e política do país.
"Venezuela foi o primeiro país que em 1 hora que eu havia colocado o pé nele, já estava no apartamento de alguém que jamais havia visto na vida, comendo uma arepa e compartilhando boas experiências sem me cobrarem um centavo", afirmou.
Semanas depois, relata que começou a namorar uma venezuelana, com quem ficou por um ano. No momento da separação, em abril passado, os dois moravam em Quito. Foi quando ele decidiu morar ao país caribenho.
Ao deixar a Venezuela, em agosto, foi viver em Los Angeles. A residência nos EUA foi o argumento usado pelo número dois do chavismo, Diosdado Cabello, para acusá-lo de ser um espião na CIA.
Cabello qualificou como ONG de fachada a Time to Change the Earth, que Diniz confirmou ter criado. Segundo ele, a iniciativa "nada mais era que doar roupas, comidas, brinquedos e o que necessitasse para quem realmente precisasse".
"Não me envolvo em política, não me envolvo em nenhum desses teatros criados por pessoas ocultas para fazermos acreditar que existe democracia", declarou.
A reportagem contatou Diniz antes de ele publicar o texto, mas o brasileiro limitou-se a dizer que estava bem e não podia dar mais informações. Com informações da Folhapress.