A morte de Isabele Ramos, de 14 anos, em um condomínio de luxo de Cuiabá, completa um mês nesta quarta-feira (12), e até agora as investigações não foram concluídas. Em depoimento, a adolescente, também de 14 anos, suspeita de ter atirado contra a amiga, e a família dela afirmam que o tiro foi acidental. No entanto, o laudo de balística da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) contesta essa versão.
A mãe de Isabele, Patrícia Helen Guimarães Ramos, afirmou que a data de hoje é muito marcante e dolorosa na vida da família. Ela cobra justiça.
“A verdade é libertadora, mas não vai me libertar disso tudo. Vou viver com esse vazio para sempre. Posso ter outros filhos, mas ninguém vai substituí-la. Meu clamor hoje é por isso. Onde está a Justiça?”, ressaltou.
Nesta semana, o laudo da Politec, assinado pelo perito Oficial Criminal Reinaldo Hiroshi dos Santos, a arma de fogo utilizada no caso não pode produzir tiro acidental.
Nas circunstâncias alegadas constantes do Termo de Declarações da adolescente, a arma, da forma como foi recebida pela perícia, somente se mostrou capaz de realizar disparo e produzir tiro estando carregada, engatilhada, destravada e mediante o acionamento do gatilho.
“Agora, mais do que nunca, a perícia comprova que a versão dela [adolescente] é falsa e que o depoimento dela também é falso. Isso tudo revela que além de todo esse crime hediondo cometido naquela casa, essas pessoas mentiram nos depoimentos. Elas são mentirosas e estão soltas”, disse Patrícia.
Para Balística Forense há distinção entre os conceitos de “tiro acidental” e de “tiro involuntário”, sendo o primeiro provocado sem acionamento regular do mecanismo de disparo, ao passo que tiro involuntário pressupõe ação do atirador no mecanismo de disparo, mesmo que essa ação seja involuntária, não intencional.
“Aceitar a morte é difícil, mas aceitar as circunstâncias em que a minha filha foi morta é mais difícil ainda. Está sendo muito complicado pra mim e para o meu filho em tão pouco tempo. Ele perdeu o pai, eu o esposo, e agora a Isabelle. Isso mudou a minha vida de uma maneira que não sei como explicar”, declarou.
Isabele era filha do médico neurocirurgião Jony Soares Ramos, de 49 anos, que morreu em um acidente, em junho de 2018 na Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), em Cuiabá. Ele pilotava uma motocicleta e atropelou uma vaca.
A morte de Isabele ocorreu por volta das 22h30 do dia 12 de julho em um condomínio de luxo localizado no Bairro Jardim Itália, em Cuiabá.
O advogado da família da adolescente que efetuou o disparo, Rodrigo Pouso, explicou que o pai da suspeita do tiro acidental estava na parte inferior e pediu para que a filha guardasse a arma no andar superior, onde estava Isabele.
A adolescente pegou o case – uma maleta onde estavam duas armas – e subiu obedecendo ao pai. Apesar de estar guardada, a arma estava carregada.
Segundo o advogado, uma das armas caiu no chão e a adolescente tentou pegar, mas se desequilibrou e o objeto acabou disparando.
A menina negou que brincava com a arma ou que tentou mostrar o objeto para a amiga.
As duas famílias, a da adolescente que disparou, e a do namorado dela praticam tiro esportivo.
A Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) disse que a adolescente que matou a amiga é praticante de tiro esportivo há pelo menos três anos.
Segundo a federação, o pai e a menina participavam das aulas e de campeonatos há três anos. Os nomes deles constam nos grupos, chamados 'squads', que participavam das competições da FTMT.
Outros membros da família também participavam desses grupos e praticam o esporte.
O advogado da família contestou a informação e afirmou que a adolescente praticava o esporte há apenas três meses.
Logo após o ocorrido, o Exército Brasileiro resolveu suspender temporariamente os Certificados de Registro (CRs) das armas dos atiradores desportivos envolvidos na morte de Isabele Guimarães.