s coronéis da Polícia Militar Evandro Lesco e Ronelson Barros foram exonerados, a pedido, dos cargos de secretário-chefe e secretário-adjunto, respectivamente, da Casa Militar de Mato Grosso. A saída dos cargos comissionados foi publicada no Diário Oficial do Estado que circula nesta quarta-feira (26). O DOE traz ainda a exoneração, da mesma pasta, do cabo Gerson Correa Junior, e a nomeação do coronel Wesney de Castro Sodré como novo chefe da Casa Militar.
Os três estão presos preventivamente acusados de terem feito parte de um esquema de espionagem na PM que fez mais de 100 vítimas entre 2014 e 2015. Lesco, Barros e Gerson foram denunciados por crimes militares pelo Ministério Público, que acusou ainda o coronel Zaqueu Barbosa, ex-chefe da PM, e o tenente-coronel Januário Batista, comandante do 4º Batalhão.
Lesco e Barros já estavam afastados dos cargos de secretários desde o dia 23 de junho, após terem sido presos. Sodré, que assumiu o comando da pasta, estava exercendo a função de forma interina desde então.
Investigação
Conforme o Inquérito Policial Militar que embasou a denúncia do MPE, os cinco PMs criaram um 'Núcleo de Inteligência' para fazer os pedidos de interceptações telefônicas à Justiça, usando como justificativa uma suposta investigação de tráfico de drogas envolvendo policiais. Os números de pessoas que não eram suspeitas foram incluídos, numa manobra ilegal conhecida como 'barriga de aluguel'.
O IPM aponta que os policiais implantaram de forma clandestina um sistema chamado 'Sentinela', com a finalidade de "vasculhar a intimidade de pessoas, utilizando como subterfúgio investigação de alvos criminosos" O inquérito diz o sistema foi usado ainda, em setembro e outubro de 2014, com finalidade política por causa do pleito daquele ano.
O escritório em Cuiabá onde funcionava o Sentinela foi desmontado no dia 8 de outubro de 2015, mesmo dia em que o então secretário de Segurança Pública (Sesp), promotor de Justiça Mauro Zaque, fez a primeira denúncia ao governador Pedro Taques (PSDB) sobre o esquema de arapongagem, por meio de um documento que foi protocolado no governo.
Os acusados espionaram advogados, um desembargador, políticos, jornalistas, policiais militares, médicos, uma ex-amante do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques - que deixou o cargo em maio, dias antes do escândalo dos grampos vir à tona - e um telefone funcional usado pelo Gaeco.
Gerson e Zaqueu Barbosa foram presos no dia 23 de maio, por determinação da Vara Militar. Lesco e Barros foram presos um mês depois, por decisão do desembargador Orlando Perri, relator da investigação sobre os grampos no Tribunal de Justiça (TJMT).
O coronel Lesco estava na Casa Militar desde 2015, e foi nomeado secretário-chefe no dia 11 de janeiro deste ano. Barros, que também foi para a pasta em 2015, foi nomeado secretário-adjunto no dia 13 de janeiro de 2017. O cabo Gerson foi transferido do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) para a Casa Militar em junho de 2016.
Na época em que os grampos começaram, Lesco, Barros, Batista e Gerson eram cedidos ao Gaeco . O coronel Zaqueu Barbosa também já havia trabalhado na instituição, como coordenador militar.
Denúncia
O promotor de Justiça Mauro Zaque denunciou à Procuradoria-Geral da República que avisou o governador Pedro Taques (PSDB) em outubro de 2015, quando comandou a Sesp, sobre a existência de um "escritório clandestino de espionagem".
Em depoimento encaminhado à PGR, Zaque disse que naquele ano ouviu o coronel Zaqueu Barbosa dizer que as interceptações telefônicas eram feitas por determinação de Taques. O promotor de Justiça diz que falou sobre o assunto com o governador e que este ficou constrangido, mas não comentou.
Zaque afirma ainda ter avisado Taques por meio de dois ofícios. O primeiro foi enviado para o MPE, mas a investigação foi arquivada depois de cinco dias por falta de provas. O segundo, que o governador diz nunca ter recebido, foi protocolado na Casa Civil, mas cancelado no mesmo dia e substituído por outro, conforme apontou uma auditoria feita pela Controladoria Geral do Estado.
Antes do relatório da CGE, Taques chegou a entrar com representação contra Zaque em instituições como o Conselho Nacional do Ministério Público e a PGR, acusando-o de falsificação de documento público. O governador nega qualquer envolvimento com o esquema de espionagem.