Batendo recorde sobre recorde nos três últimos ciclos, o Brasil concluiu a colheita de algodão da safra 2019/2020, atingindo a marca esperada de 2,9 milhões de toneladas de algodão em pluma, 5% a mais que em 2018/2019. Em torno de 700 a 750 mil toneladas da commodity vão abastecer a totalidade da demanda do mercado interno, e o excedente segue para exportação. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a cotonicultura brasileira – das mais produtivas do mundo – passa longe de qualquer risco de escassez, mesmo com a recuperação da indústria em função do reaquecimento do consumo varejista, após as medidas reabertura do comércio nacional, nesta etapa da pandemia.
O beneficiamento do algodão, processo que separa a semente da fibra para que esta possa seguir para a indústria, também se dá em ritmo acelerado. “Cerca de 50% do total colhido já foi processado, sem possibilidade de entressafra para a indústria têxtil. Somos o quarto maior produtor mundial de algodão, fornecedores de pluma em 12 meses do ano”, explica o presidente da Abrapa, Milton Garbugio. A associação contesta a atribuição do aumento no preço das roupas – que o consumidor final está percebendo nos pontos de venda – à valorização da commodity, baseada em uma suposta escassez da matéria-prima.
De acordo com a Abrapa, em relação ao preço, a suposta alta de que se queixam indústria têxtil e lojistas, se deve à variação cambial do real em relação ao dólar. Pela tabela do Índice ESALQ, que é a referência para a comercialização do algodão no Brasil, em setembro de 2018, o agricultor vendia seu algodão por US$ 1,70 por quilo de pluma ou R$ 7,02/kg. Em setembro de 2019, o algodão era vendido por US$ 1,31 o quilo, ou R$ 4,76 por quilo de pluma.
“Hoje, o produtor comercializa por US$ 1,32 o quilo ou R$ 7,05 /quilo de pluma. Ou seja, praticamente o mesmo valor em reais praticado em setembro de 2018”, contesta Garbugio.
Ainda segundo o presidente da Abrapa, atualmente, a rentabilidade do produtor de algodão está muito baixa. Conforme levantamentos da Conab, os custos de produção do algodão giram em torno de R$ 7 por quilo de pluma produzida, muito próximos aos preços praticados no mercado.
“Nós produtores ficamos muito contentes em saber que a indústria nacional está se recuperando, e dependemos de que isto aconteça. Ficamos também felizes em ver que a procura por algodão está aquecida, ainda mais com o preço dos sintéticos mais alto, em função da variação cambial do real. Da nossa parte, o que podemos garantir é produzir cada vez mais e melhor”, finalizou Garbugio, reforçando que o Brasil se prepara para iniciar o plantio da safra 2020/2021.