O levantamento do ICV traz uma caracterização dos incêndios ocorridos em Mato Grosso em 2020 por bioma, categorias fundiárias e principais municípios afetados, e a identificação do tamanho da área incendiada no estado com base nos dados disponibilizados pela plataforma Global Fire Emissions Database, da Nasa.
Para o Pantanal, bioma proporcionalmente mais atingido pelo fogo esse ano, o ICV analisou o local de origem e a área afetada pelos maiores incêndios ocorridos no período proibitivo.
Neste ano, o governo estadual antecipou o início do período proibitivo de queimadas para 1º dia de julho (15 dias antes da moratória do fogo imposta pelo governo federal) e estabeleceu sua duração até 30 de setembro. Ao longo desses quase 50 dias, cerca de metade do período total, o Pantanal registrou 480 mil hectares de áreas atingidas por incêndios.
A partir da metodologia que combina os dados dos focos de calor e a interpretação de sequência de imagens de satélite, o ICV identificou que apenas nove pontos iniciais de incêndio foram responsáveis afetar cerca de 324 mil hectares, ou 67,5% da área total atingida por incêndios no bioma nesse período.
Quatro desses incêndios partiram e consumiram boa parte do Pantanal, entre a rodovia Transpantaneira (MT-060) e o rio Paraguai (divisa com Cáceres).
Dois pontos tiveram origem e queimaram áreas nas proximidades da Transpantaneira. E os demais foram originados na região de Porto Cercado em Poconé, e nas proximidades do distrito de São Pedro de Joselândia e da Terra Indígena Perigara, em Barão de Melgaço.
Cinco desses pontos estão localizados em propriedades já inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), sendo a origem do fogo que queimou aproximadamente 117 mil hectares no bioma.
Outros três pontos de incêndio começaram em áreas não cadastradas e impactaram 148 mil hectares. E um ponto de origem de incêndio ocorreu na TI Perigara, que avançou por 59 mil hectares.
Considerando os registros do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o ICV descobriu que metade dos incêndios mapeados aconteceram em imóveis rurais (874 mil hectares), seguido pelas áreas não cadastradas (367 mil hectares).
As Terras Indígenas (TIs) tiveram 307 mil hectares atingidos pelo fogo. As TIs com as maiores áreas afetadas por incêndios foram a Pareci e a Parabubure, ambas no bioma Cerrado. Nas TIs Perigara e Tadarimana, os incêndios consumiram mais da metade de seus territórios.
As Unidades de Conservação (UCs), por sua vez, registraram 6% do total das áreas queimadas no estado, que somam quase 97 mil hectares, e os projetos de assentamentos os 5% restantes (91 mil hectares).
O município com maior área afetada por incêndios foi Poconé. Com 3.126 km², ele respondeu por 18% de toda a área impactada diretamente pelo fogo até agosto desse ano no estado.
Poconé é seguido de outros dois municípios do Pantanal: Barão de Melgaço e Cáceres. Juntos, eles registram 31% da área consumida pelo fogo no estado no período analisado.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os incêndios florestais no Mato Grosso em 2020 são os maiores já registrados desde que o monitoramento começou a ser feito, em 1998.
Neste ano, foram identificados 15.756 focos de calor no Pantanal. Antes disso, o maior número tinha sido registrado em 2005, 12.536 focos.
Dados do Prevfogo, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestais do Ibama, mostram que a área queimada no Pantanal, em 2020, já passou de 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão em Mato Grosso e mais de 1 milhão em Mato Grosso do Sul.
Essa área de mais de 2 milhões de hectares representa quase 10 vezes o tamanho das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas.
A fumaça dessas queimadas também está se deslocando para os países vizinhos e se espalha para o Sul do Brasil. Parte de Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai já são cobertos pela nuvem cinza.
Segundo o ICV, as consequências dos incêndios são enormes. Vão desde os impactos para a biodiversidade e equilíbrio ambiental até prejuízos econômicos, como o comprometimento do potencial turístico da região. Atualmente, voluntários trabalham para resgatar animais feridos.