Passados mais de dois meses do confronto armado entre policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e bandidos que teriam como alvo um assalto a uma chácara de um político na região do Jardim Itamaraty, em Cuiabá, o inquérito não está pronto e por enquanto ninguém foi denunciado.
Dois sobreviventes da ação, que estariam no bando para praticar o crime, disseram em depoimento que não houve troca de tiros, mas sim uma espera da polícia e uma "chuva" de tiros contra o carro dos criminosos.
O advogado da dupla sobrevivente, o criminalista Waldir Caldas, disse que não teve acesso aos documentos do processo e nem aos exames periciais, porém sabe que em um caso dessa grandeza existe uma certa porosidade por conta dos depoimentos e do tanto de pessoas envolvidas.
"Normalmente a lei respeita pode ser que existem situações que não há segredo de justiça. Estamos trabalhando com o que a PJC entende que é recomendado que é disponibilizado. O que eu tenho é a afirmação de que está tendo andamento acelerado ou andamento exigido. Dentro do que é possível, o processo está andando", disse o advogado.
Conforme o jurista, seus clientes estão escondidos e tomando medidas de segurança para não sofrerem nenhum tipo de perseguição, ameaça ou ação contumaz que gere uma queima de arquivo.
"Não estão perambulando pelas ruas, mas estão em seus esconderijos. Eles não sofreram ameaça, não teve nada do tipo. Estão se resguardando. Não podem ficar andando, pois eles sobreviveram e são provas que podem ajudar no processo. Talvez a oportunidade de falar será apenas em juízo, isso em relação as provas técnicas", disse Waldir.
A defesa aponta, que no dia ação, apesar de ser um trabalho policial que evitou um crime contra patrimônio, com homens armados e preparados para fazer pessoas reféns, nenhum disparo foi realizado por parte do grupo contra o Bope, uma vez que parte dos envolvidos na ação sequer estariam armados. Para eles, houve uso da força de forma desproporcional por parte da corporação, que já aguardava os suspeitos com fardas camufladas em uma zona de mata próxima.
Os dois sobreviventes disseram também que havia uma outra pessoa no local do crime, que foi poupada porque teria sido a responsável por denunciar as intenções do grupo para a polícia.
Além dos apontamentos dos sobreviventes, a defesa também juntou à acusação o fato de que no dia cinco de agosto outras duas pessoas foram executadas pelo Bope no bairro Altos da Serra, em Cuiabá. Na ocorrência, os policiais também alegaram a existência de um confronto com os suspeitos.
"De fato, estamos diante de denúncia que apresenta extrema gravidade envolvendo agentes públicos que, em tese, utilizando-se do aparato estatal pode serem autores de diversos crimes hediondos, portanto, a Defesa, neste momento, processual, entende prematuro a incursão no mérito da causa, prudente aguardamos o acesso amplo aos autos e as provas até então materializadas, inclusive, as periciais para manifestação legal", apontou o advogado.
Na Polícia Civil, a delegada responsável pelo inquérito Eliane Moraes, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) não comenta sobre o assunto, por se tratar de um caso em sigilo.