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DIVERSIDADE RELIGIOSA: ENTRE A INTOLERÂNCIA E A IGNORÂNCIA

Texto para contrapor o vídeo que circula nas redes sociais de Juara do ex-deputado Estadual Oscar Bezerra

Data: Terça-feira, 10/11/2020 21:05
Fonte: Amplitunews

Voltaire, filósofo iluminista já manifestava seu repúdio quanto à intolerância religiosa em uma França do século XVIII, onde os protestantes foram duramente reprimidos, pela sua fé, por um governo católico.  

Mas, Voltaire estava lá lutando a favor da liberdade religiosa, contra a intolerância e a ignorância. Poder-se-ia, aqui, citar inúmeros outros personagens históricos que foram perseguidos e massacrados em nome da religião do outro.

Optou-se por Voltaire, porque lutou a favor da religião do outro e, não a favor de sua crença pessoal, como verdade única.

O desconhecimento de uma religião não permite que a desqualifique, a rebaixe ou a menospreze. A história nos conta ainda, que as religiões universalistas monoteístas foram o fio condutor de grandes guerras e sofrimentos.

E, pelo que parece, ainda continua. A diversidade religiosa no mundo é um presente para a humanidade, nela existem múltiplas maneiras de reverenciar o sagrado.

As religiões monoteístas acreditam em um único Deus transcendente e onipotente, mas isso não quer dizer que outras religiões, dualistas, por exemplo, não possam acreditar em outros Deuses. Então, porquê “a minha” é a correta é a do outro é a seita, a coisa do diabo ou até mesmo a macumbaria? Só há uma resposta: ignorância! Que tem como significado no dicionário “estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática”.

Assim, para deixar a ignorância religiosa desaparecer, precisa saber e conhecer. Existem pessoas que ao se referirem às religiões alheias, precisam entendê-las, antes de emitirem comentários infundados, preconceituoso ou até mesmo, discriminatório.

Isso é empatia e respeito à diversidade humana nas múltiplas formas. Reproduzir chavões populares não resolve a questão da intolerância e, muito menos da ignorância.

É recorrente, ver, ouvir e ler aqui e acolá, o quanto as religiões de matrizes africanas são rechaçadas, pelo mero desconhecimento de suas origens. O Candomblé, o Catimbó, a Pajelança, a Umbanda etc., são religiões, essencialmente, brasileiras.

Forjadas, ao longo do período mais cruel da nossa história, a escravização. Entretanto, não se leva em conta as vidas que se perderam para manterem-se fiéis às suas crenças e a esperança de liberdade. Resistência e fé são pilares que sustentam essas religiões.

Principalmente, a Umbanda, religião monoteísta, que ostenta no mais alto lugar do congar a imagem Jesus Cristo ou se preferir, em ioruba, Oxalá.

Foi no cerne da necessidade da fé e da resistência que os negros recém-libertos, no final do século XIX, encontrou no Cristianismo Católico, nas religiões Bantús e no Espiritismo Kardecista a síntese de sentirem-se vivos e filhos de Deus.

Ela e todas as outras que formam o campo religioso brasileiro, tem o direito reconhecido na Constituição Federal de sua prática.

Por isso, cabe a cada pessoa despir-se dessa ignorância para irradicar, de uma vez por todas, a intolerância religiosa nesse país.

 

Marina Silveira Lopes,

Mestre em Ciências da Religião - PUCSP