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Indígena percorreu 9 km com bico de pássaro cravado na garganta; primeiros socorros salvaram sua vida

Depois de percorrer nove quilômetros com o pássaro no pescoço, o indígena relata que desmaiou por conta da dor e da falta de ar.

Data: Sexta-feira, 30/04/2021 07:44
Fonte: Da Redação Olhar Direto - Wesley Santiago

O indígena Eik Júnior Monzilar Parikokoriu, de 23 anos, atingido no pescoço por um pássaro, quando voltava em sua motocicleta de uma pescaria, em direção a região da aldeia Águas Correntes, em Barra do Bugres (165 quilômetros de Cuiabá), no sábado (24), disse que percorreu nove quilômetros com a ave cravada no seu corpo em busca de ajuda. Os primeiros socorros da também indígena Elizete Ariabo Calomezore, que é técnica de enfermagem, foram primordiais para salvar sua vida.

Depois de percorrer nove quilômetros com o pássaro no pescoço, o indígena relata que desmaiou por conta da dor e da falta de ar. “Eu tentava caçar o fôlego e não achava. Começaram a orar por mim e, quando terminaram, pude puxar o fôlego da vida novamente”, disse em depoimento gravada em vídeo.

Familiares prestaram os primeiros socorros, que depois foram complementados por Elizete Ariabo Calomezore, uma técnica de enfermagem que também é indígena. O trabalho dela foi de suma importância para que a vítima não tivesse complicações.

“Ele puxou o pássaro [que ainda estava na garganta] e começou a sangrar pelo pescoço e pelo nariz. Fiz a limpeza e liguei para o médico, que me passou as orientações para o atendimento. Segui as orientações dele e o encaminhei, com o pássaro, para a médica de plantão avaliar de perto lá em Barra do Bugres”, contou Elizete em entrevista ao G1.

Eik foi levado então até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Bugres, onde terminou de receber auxílio médico. O pássaro morreu e o indígena ficou com sua carcaça como recordação da nova chance que teve de viver.

“Saiu muito sangue do meu nariz, do local [pescoço]. Senti que meu coração estava parando de bater. Eu senti a mão quente da mãe chorando desesperada", contou.

O biólogo Vítor Piacentini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que também é ornitólogo (especialista em aves), disse que o pássaro é da espécie ariramba-preta — nome científico Brachygalba lugubris.

Piacentini explicou que é comum que as arirambas e os beija-flores sejam tratados como "iguais", já que os dois grupos possuem bico comprido e têm plumagens brilhantes.

 “Inclusive o nome cuitelo/cuitelinho é usado regionalmente pra beija-flores, e cuitelo/cuitelão para algumas arirambas. Mas as arirambas são maiores, não param no ar (nem voam pra trás), nem visitam flores. Elas utilizam o bico como uma pinça e capturam insetos no ar, saindo de um poleiro e retornando comumente pro mesmo poleiro”, explicou.