Presa no dia 18 de maio, acusada de matar o menino Brian, de apenas quatro meses, em Sorriso (400 km de Cuiabá), Ramira Gomes da Silva, de 22 anos, chegou nesta quarta-feira (26) a Penitenciária Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, onde fica em uma cela sozinha. A criminosa estaria preocupada em ficar com as demais detentas e temia represálias.
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Qualquer pessoa que está entrando no sistema penitenciário precisa seguir os protocolos de biossegurança por conta da Covid-19. Ou seja, ficar isolada dos outros detentos de 7 a 14 dias.
No entanto, por conta do crime que Ramira cometeu, ela não deve ser colocada junto do convívio das demais detentas. “Iremos manter ela isolada das demais. Por conta do no caso de repercussão, a gente vai aguardar mais um dia”, afirmou a diretora da penitenciária, Maria Giselma Ferreira da Silva, ao Olhar Direto.
Em depoimento à Polícia Civil, Ramira confessou que assassinou o próprio filho e cortou seus braços e pernas para seguir com um relacionamento. Ela também deu detalhes de como, de forma cruel, cometeu o homicídio e também como foi a sua fuga.
A diretora da penitenciária acrescentou ainda que o tipo de crime cometido por Ramira não é aceito na comunidade carcerária. Diante disso, a transferência dela para a capital causa espanto entras as outras presas. Mas até o momento, não há burburinho sobre possíveis represálias a Ramira. “Estão [todas] chocadas, mas sobre ameaças não teve nada do tipo porque a gente não deixa acontecer esse tipo de coisa”, afirmou.
A localização
Parte do corpo do bebê, que nasceu em 21 de dezembro de 2020, foi encontrada enterrada nos fundos da casa, no bairro Benjamin Raiser, onde a mãe morava há poucas semanas. O menino sofreu mutilações após ser morto, tendo mãos e pés cortados, e o tronco foi enterrado em uma cova rasa cavada próxima a um tanque, nos fundos da casa. O corpo foi descoberto depois que o cachorro de uma vizinha escavou o buraco e o desenterrou.
A partir da descoberta do corpo e acionamento da Polícia Civil, no dia 17 de maio, três dias após o crime, a equipe da Divisão de Homicídios da Delegacia de Sorriso iniciou as diligências, coletando informações na casa onde ocorreram os fatos, ouvindo vizinhos e solicitando as perícias necessárias para esclarecer as circunstâncias em que o bebê foi morto, assim como detectar vestígios de sangue na casa.
Com os primeiros indícios de autoria reunidos, o delegado José Getúlio Daniel representou à Justiça pela prisão da suspeita, que foi deferida dez horas após o início da investigação. A prisão foi decretada pela juíza Emanuelle Chiaradia Navarro, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Sorriso.
Ramira fugiu da cidade no mesmo dia em que cometeu o crime e foi presa em Porto Velho (RO) no dia 18 de maio, quando tentava seguir viagem em uma embarcação, rumo ao estado do Amazonas.
Na mesma data, uma equipe da Delegacia da Polícia Civil de Sorriso seguiu ao estado vizinho para fazer o recambiamento a Mato Grosso e ouvi-la em depoimento. Na sexta-feira passada (21), a mulher chegou a Sorriso.
Crueldade
O bebê foi morto na sexta-feira, 14 de maio, por volta das duas horas da madrugada. Em depoimento ao delegado José Getúlio, segunda-feira (24), Ramira confessou que matou o filho sufocando-o enquanto ele dormia em um carrinho de bebê. Ela contou que fez uma primeira tentativa pressionando um travesseiro contra a cabeça do pequeno para asfixia-lo, mas depois de um minuto notou que ele estava vivo, respirava e chorava.
Ainda de acordo com o depoimento, a investigada relatou que fez novamente o mesmo movimento para asfixiar o bebê, pressionando o travesseiro com mais força sobre a cabeça por aproximadamente três minutos e que não ouviu nenhum barulho, pois alegou que estava agitada com a situação.
Após esse tempo, ela o pegou no colo e constatou que ele não estava respirando e não tinha nenhum outro movimento. Depois de ir ao banheiro, ela pegou o corpo do bebê e o colocou na pia da cozinha, onde cortou braços e pernas, a fim de facilitar a ocultação do cadáver. Em seguida, colocou os membros do filho dentro de duas latas de bebida láctea, embalou-as em sacos de lixo e depositou na lixeira. O restante do corpo do bebê, ela levou até o buraco e depois cobriu com o restante da terra que estava solta, cavou mais um pouco de terra e terminou de encher o lugar.
Ela conta que lavou a pia com um produto para limpar panelas e que jogou fora a roupa que usava no momento em que cometeu o crime, não se recordando se o vestido ficou sujo de sangue. Todo o ato criminoso, ela informou que terminou ao amanhecer do dia.
Ainda conforme o depoimento prestado ao delegado responsável pelo inquérito, a investigada disse que por volta das 10h da sexta-feira, ele foi a um supermercado onde comprou produtos como bicarbonato de sódio, álcool e água sanitária, que usou para terminar de limpar a cozinha. Depois disso, ela descansou na varanda da casa e à tarde foi ao dentista, seguindo depois para a rodoviária, onde consultou horários de ônibus.
Fuga
De volta à casa no bairro Benjamin Raiser, a investigada relatou que terminou de arrumar a mala, tomou banho e foi, por volta da meia noite, para a rodoviária, onde comprou uma passagem para Cuiabá. Na Capital, ela chegou no sábado de manhã e conseguiu comprar outra passagem, desta vez para Porto Velho, embarcando por volta das 10h. No domingo à tarde, chegou à capital de Rondônia.
Ramira dormiu na rodoviária e na manhã da segunda-feira, 17 de maio, comprou uma passagem de barco a fim de seguir até Manaus. Ainda na segunda-feira, ela informou que recebeu mensagem de um familiar pedindo explicações e falando que a Polícia Civil havia localizado o corpo do bebê. Em seguida, ela foi para a barca, permanecendo no local até o momento em que foi presa, na manhã da terça-feira, por policiais civis de Porto Velho.
A investigada tem outra criança, de dois anos, que é criada pelos avós paternos. Natural do estado do Acre, ela morava em Sorriso desde fevereiro deste ano.
O delegado José Getúlio concluiu o inquérito nesta terça-feira, com o indiciamento de Ramira por homicídio qualificado (meio cruel, motivo torpe, asfixia e impossibilidade de defesa da vítima) e ocultação de cadáver. A Polícia Civil segue a investigação para apurar se há envolvimento de terceiros no crime.