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CERCA DE 71% DOS MORADORES DE RUA DE MT ESTÃO EM CUIABÁ E RONDONÓPOLIS

Data: Segunda-feira, 07/08/2017 10:44
Fonte: Andria Molina

 

Cerca de 71% dos Moradores de Rua de MT Estão em Cuiabá e Rondonópolis

 

Mato Grosso tem quase 1 mil pessoas em situação de rua no Cadastro Único (CadÚnico). Os dados são da Secretaria de Estado de Assistência Social (Setas) que apontam que desse universo, 542 recebem Bolsa Família. No Estado, duas cidades, Cuiabá e Rondonópolis, concentram 71% dessas pessoas em vulnerabilidade social. Apesar dos dados registrados até o mês de maio desse ano, o número dos que vivem nas ruas em todo o Estado é bem maior, prova disso é que até junho foram registrados quase 3 mil abordagens a essa população.

No ano passado 6.874 pessoas, entre moradores de ruas e migrantes, foram encaminhadas aos abrigos e albergues no Estado. De acordo com o secretário-adjunto da Setas, José Rodrigues, as 977 são apenas as pessoas que aceitaram ser cadastradas, mas há também aquelas que não querem e, por isso, não estão nesse universo, e fica mais difícil se ter um número exato.

 

Em 6 meses o número de abordagens realizadas no Estado para a população de rua chegou a 2.919. Desse total, 387 foram para idades de 0 a 17 anos. Segundo Rodrigues, os dados demonstram que a maioria das pessoas que está na rua, está fora do cadastro e é maior de 18 anos.

Ele lembra que nem sempre essas pessoas em situação rua têm dependência química ou são marginais como a maioria da sociedade pensa. Baseado nos dados da secretaria, o perfil dessa população é de pessoas que passaram por problemas familiares, como de convivência, 

separação, vícios, desemprego, abandono, o desajuste social, problemas psicológicos, entre outros, e acabam deixando suas casas.

“Encontramos diversas situações nas ruas entre elas a droga, o vício, mas não são a regra”. 
Conforme o secretário, na tentativa de retirar essas pessoas das ruas, as equipes de assistência nos municípios realizam as chamadas abordagens e oferecem serviços como o encaminhamento para uma unidade de acolhimento, ou o retorno para cidade ou estado de origem, verificam documentação, necessidades, questões de saúde entre outros.

Durante essas abordagens também são verificadas as pessoas que querem e estão dentro do perfil para serem inseridas no CadÚnico, e receberem benefícios na tentativa da melhoria de vida. Dos 977 cadastrados, 55% estão recebendo o Programa Bolsa Família. Os outros não estão porque de alguma forma não se encaixam no perfil do programa. “Ou eles são aposentados, ou recebem pensão ou qualquer outro auxílio”, explica.

Concentração

Do número de pessoas em situação de rua cadastradas no Estado, Cuiabá e Rondonópolis concentram 71% delas. Na capital são 384 enquanto em Rondonópolis 319 pessoas. Outros municípios com moradores de rua cadastrados são Sinop (65), Alta Floresta (48) e Campo Verde (30). Várzea Grande tem apenas 7 cadastrados.

Nessas cidades assim, como na maioria, o perfil são de pessoas que estão em trânsito, em busca de trabalho ou que enfrentam problemas de dependência química ou problemas psicológicos. Na capital, a Secretaria de Assistência Social estima que existem cerca 600 pessoas em situação de rua.

Conforme a secretária Marlene Anchieta, um grupo de trabalho foi criado para discutir políticas públicas voltadas para essa situação e assim saber o número exato e quem são. “Estamos com o projeto Quero te Conhecer, com objetivo de ter um levantamento exato desse número de população de rua e traçar planos para trabalhar com essa parcela da sociedade que muitas vezes é marginalizada”.

Segundo Marlene, a questão da população de rua não pode ser resolvida do dia para a noite, é uma questão social que vai além de polícia e assistência social. Ela precisa ser abordada em um tripé de ações que é fundamental para solução do problema. O tripé é formado pelo combate ao tráfico de drogas, a política de prevenção e o atendimento aos que já estão nas ruas. “Se trabalharmos isso vamos conseguir mudar a realidade. A política de prevenção, por exemplo, começa na escola, com o envolvimento da criança em projetos sociais, com a qualificação dos jovens e assim por diante”.

Em Rondonópolis, a Secretaria de Assistência Social afirma que realiza um trabalho junto com a polícia e secretarias de Saúde e Esporte para cadastrar aqueles que estão em situação de rua na cidade e assim garantir a possibilidade de serem atendidos, bem como receber atendimento médico e demais encaminhamentos.

Cenário

Para a socióloga Carmem Vertilho, uma das explicações para o número de pessoas que vive em situação de rua está no reflexo da realidade social do país e do Estado. Segundo ela, com a economia em crise, a falta de emprego e de perspectiva, a concentração dessas pessoas é maior nas grandes cidades já que muitas delas saem de seus estados e cidades de origem com o sonho de uma vida melhor que acaba sendo frustrado. “A dificuldade e a falta de perspectiva leva essa pessoa a ir em busca de uma realidade melhor que muitas vezes não acontece. As cidades com mais concentrações são aquelas que geralmente são mais promissoras e poderiam oferecer mais oportunidade”.

Conforme ela, com essa demanda muitas cidade acabam desenvolvendo problemas sociais que não são resolvidos apenas com o trabalho de assistência dos municípios, que são importantes, mas sozinhos não resolvem. Ela ressalta que um dos motivos de muitas vezes os moradores de rua não irem para os albergues, que oferecem programas de moradia, é porque não é permitido que se leve grandes pertences como carroças e cachorros, bens que a maioria deles não consegue deixar para trás.

O grande desafio para começar a mudar essa situação, segundo a socióloga, é começar rompendo o preconceito que se tem em relação a essa parcela da população e trabalhar de forma mais reforçada políticas públicas sociais e de saúde mental voltadas para a realidade deles.

Conforme ela, apenas um trabalho de assistência não é suficiente para mudar a realidade, é necessário envolver essas pessoas, estimular sonhos e assim resgatá-las. “São pessoas que muitas vezes estão desamparadas tanto financeiramente, por causa da dificuldade econômica que estamos vivendo, ou até mesmo por falta de amparo social e familiar. Quando você trabalha cursos como, por exemplo, com materiais de reciclagem, costura, você está dando oportunidades para ganho financeiro e mudança”.