A mulher que foi vítima de importunação sexual na última segunda-feira (30), enquanto cuidava do filho no Hospital Infantil e Maternidade Femina, em Cuiabá, disse que ficou em estado de choque e que espera justiça das autoridades competentes. Na ocasião, ela limpava a sonda alimentar da criança, de um ano de idade, que tem síndrome de Dandy-Walker — má-formação cerebral associada à hidrocefalia —, quando um técnico em enfermagem passou a se masturbar atrás dela. O caso ocorreu por volta das 19h.

Em depoimento ao Olhar Direto, a mãe da criança, que preferiu não se identificar, contou que chegou à unidade hospitalar por volta de 14h da tarde procurando atendimento. Isto porque a sonda alimentar que o filho havia recebido, por meio de uma cirurgia há duas semanas, havia estourado.

“Fiquei em estado de choque, não tava acreditando que aquilo tava acontecendo ali naquela situação. Chorava com falta de ar, não conseguia falar”, conta. “Ela [médica] falou assim ‘calma é um procedimento simples, só trocar a sonda’ porque ela achou que eu tava preocupada, mas eu fazia gesto, batia no peito falando que era comigo, aí que ela entendeu”.

O menino, segundo ela conta, realiza acompanhamento frequente na Femina desde que nasceu. Entre os procedimentos que realizou em um ano de ano de vida, a criança operou a cabeça, fez tratamento para a pneumonia e teve diversas outras complicações, além das relacionadas à síndrome rara relacionada à hidrocefalia.

Naquele dia, do horário que chegou até o momento em que aconteceu o episódio de violência sexual, ela ficou na unidade hospitalar dentro de um box aguardando a liberação, pelo plano de saúde, de uma nova cirurgia para realizar a troca do aparelho que auxiliava a alimentação do filho.

Foi nesse meio tempo que o técnico de enfermagem se aproximou oferecendo ajuda, porém, na verdade, estava se aproveitando do estado de preocupação da mãe para a importuná-la sexualmente. “Eu tava passando o leite na sonda, tava na hora de ele comer e eu não ia deixar ele com fome mesmo com a sonda vazando”.

Em um primeiro momento, o enfermeiro perguntou se a mãe queria que ele limpasse a sonda do filho, mas ela recusou a ajuda, uma vez que em pouco tempo ele realizaria uma cirurgia e teria que ser limpo de novo. Após muita insistência do funcionário, ela mesma, então, decidiu limpar a sonda do filho.

“[Quando] eu meio que olhei de lado assim, eu vi que ele não tava ali do meu lado, que eu olho pra trás ele já tava colado comigo, atrás de mim, com uma mão dentro da roupa, fazendo movimento de masturbação”, relembra ela com pavor sobre como foi surpreendida enquanto higienizava o aparelho do filho.

O técnico em enfermagem, ao ser flagrado pela mãe, desconversou e começou a fingir que arrumava o sapato. Apesar disso, segundo ela conta, pediu desculpas por várias vezes.

“Ele abaixou e falou ‘desculpa, dona’ começou a pegar na perna dele [disse] ‘ai nossa, olha que situação, olha o que aconteceu aqui’ e falando ‘desculpa dona’. Ficou abaixado mexendo no pé dele, dando uma desculpa que ele tava abaixado mexendo no pé dele”

Nesse momento, ela diz que espera que a justiça seja feita, temendo que outras pessoas que frequentam o hospital possam ser vítimas da mesma situação, inclusive piores tipos de violência sexual.

“Nós queremos que a polícia faça alguma coisa. Eu não estava com roupa curta para ter esse negócio de falar, ‘a ocasião faz o ladrão’, não tava com roupa curta, não tava de decote, não estava nem arrumada, nem maquiada, nem de cabelo solto para ter assim qualquer tipo de motivo, que isso aí não é motivo, isso é desculpa”.

Mãe de mais um filho, além do que estava com ela no hospital, ela relembra a luta diária que enfrenta para oferecer uma qualidade de vida melhor para a criança: “Quem é mãe de filho especial assim sabe que não é fácil, e passar por uma situação desse tipo, dentro do hospital (...) Nossa, eu fiquei, tô muito chocada até agora, tô assim sem acreditar que isso aconteceu comigo”.

O que diz o hospital

Em nota enviada à imprensa, Femina repudiou o comportamento do técnico de enfermagem e o afastou, além de garantir colaborar com as autoridades policiais. 

Leia a nota de esclarecimento na íntegra:

O Hospital e Maternidade Femina repudia veementemente todo e qualquer tipo de conduta desrespeitosa e informa que está colaborando com a autoridade policial na investigação e apuração do fato ocorrido nesta segunda-feira (30.08). O funcionário já encontra-se afastado, enquanto aguarda a resolução do inquérito, onde serão adotadas todas as medidas cabíveis nos termos da lei.