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Família realiza sonho de mulher com doença rara sem cura e faz viagem à Alter do Chão, no Pará: 'valeu a pena'

Com quase 1,5 mil km até a praia em Santarém, viagem de carro durou dois dias. Maria Clemildes tem fibrose cística, que acomete os pulmões, e precisou ser internada na UTI e transferida para MT.

Data: Quinta-feira, 16/09/2021 15:47
Fonte: G1 MT

Quanto vale um sonho? A resposta pode estar em um sorriso largo seguido da frase "valeu a pena". Para realizar o desejo na matriarca diagnosticada com uma doença rara e sem cura, uma família percorreu de carro quase 1.500 km entre os estados do Mato Grosso e Pará. O destino era a vila de Alter do Chão, em Santarém.

Maria Clemildes dos Santos, de 62 anos, tem fibrose cística, doença rara mais comum no Brasil, sem cura, que acomete e faz os pulmões criarem muco excessivo.

Após uma consulta, ela e a família ouviram do médico para aproveitarem ao máximo e da melhor forma a vida. E assim fizeram.

 

Do sonho à realidade

Para dar à mãe as melhores experiências da vida neste momento difícil, a assistente financeira Inara Cristina dos Santos não pensou duas vezes. Ela decidiu fazer uma viagem, mas o destino seria escolhido por dona Maria Clemildes.

A matriarca não pensou duas vezes e decidiu conhecer uma das praias de água doce mais bonitas do Brasil.

 

"Mostrei vários destinos e ela se apaixonou por Alter do Chão", disse Inara.

 

A família é de Lucas do Rio Verde, distante cerca de 330 km de Cuiabá, em Mato Grosso, e saiu no dia 3 de setembro com destino a Santarém, no oeste paraense.

Foram dois dias percorrendo de carro os 1.437 km entre as duas cidades, na companhia dos filhos, sobrinhos, irmão e do companheiro de Inara, que embarcaram na viagem.

 

O amanhecer na praia

 

Na madrugada do dia 5 a família chegou à vila de Alter do Chão. Apesar do cansaço e mal-estar de dona Maria Clemildes, ela dormiu cerca de 5 horas e decidiu conhecer a praia logo pela manhã.

 

"Eu nunca vou me esquecer quando ela chegou e viu a Ilha do Amor e deu um sorriso gigante e disse: 'como é lindo'. Ela estava super feliz', lembrou Inara.

 

Dona Maria Clemildes dos Santos na orla de Alter do Chão, no Pará, aproveitando a viagem — Foto: Inara dos Santos/Divulgação

Dona Maria Clemildes dos Santos na orla de Alter do Chão, no Pará, aproveitando a viagem — Foto: Inara dos Santos/Divulgação

A família fez a travessia para ilha de areia branca em meio ao lago e rio de águas esverdeadas. Lá, dona Clemildes conheceu e se apaixonou pelos tradicionais bolinhos de piracuí, feitos com farinha de peixe típica da região.

 

Sinais de agravamento

 

Os sintomas da doença começaram a se agravar com doses frequentes, principalmente no período da noite. No entanto, no dia seguinte a família conheceu a praia de Pindobal, em Belterra, e experimentou pratos típicos e o suco de taperebá (cajá).

Por ter piora nos sintomas, Inara resolveu levar a mãe para casa. "Ela disse que queria comer pato no tucupi, então fui pra cidade comprar, mas quando voltei já a encontrei desorientada e desacordada. Levei para unidade saúde de Alter e depois foi encaminhada para a UPA de Santarém", contou a filha.

Antes de ser intubada devido a gravidade do caso, mãe e filha conversaram sobre a viagem. "Um dos últimos pedidos que ela fez, se Deus não permitir que ela volte para casa, era pisar na areia da praia, era colocar os pés na água, era conhecer Alter, que tem um rio que muito lembra o mar".

 

"Eu perguntei para ela: 'mãe, valeu a pena?'. Ela respondeu que um dos lugares mais bonitos que ela tinha ido na vida era São José do Rio Claro (MT), mas Alter superou todas as expectativas dela. Depois ela foi intubada", contou Inara.

 

 

Força-tarefa da saúde

 

Enquanto a mãe estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), já no Hospital Municipal de Santarém, Inara correu contra o tempo para conseguir a transferência para Mato Grosso. Nesse caminho "anjos" a ajudaram.

A equipe da Unidade de Pronto Atendimento (UPA-24h) de Santarém, sabendo da gravidade do caso e da importância da transferência, não mediu esforços e auxiliou a família para conseguir a liberação do Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para o estado do Mato Grosso.

"Sabíamos que era uma quadro grave e que a família estava ciente de todo o diagnóstico. Mobilizamos a equipe para transferir ela da UPA para UTI do HMS enquanto aguardávamos a transferência", explicou a diretora-geral do HMS, Christiani Swchartz.

Por ser uma transferência entre estados, o processo se tornou mais complexo, mas ao final deu certo. "A transferência foi feita por uma UTI área que veio do Estado do Mato Grosso, com suporte do Estado de origem", completou Christiani.

 

Quadro gravíssimo

 

Dona Maria Clemildes foi transferida na noite de segunda-feira (13) e está internada no Hospital São Lucas, em Lucas do Rio Verde. Segundo a família, o quadro clínico é considerado gravíssimo devido ao agravamento da fibrose cística.

Apesar do grande susto e correria para ter o atendimento necessário ao caso, a família cumpriu o seu papel.

 

"Se Deus recolher minha eu fico com a certeza de que valeu a pena, ela realizou o sonho de pisar na areia da praia", concluiu Inara.