Duas antas que foram resgatadas com as patas queimadas durante os incêndios no Pantanal, em 2020, passam por reabilitação há um ano para voltar à natureza. À época, Tião e Jabuticaba ainda eram filhotes e perderam as mães no fogo.
Estudo feito por pesquisadores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que os incêndios no bioma afetaram pelo menos 65 milhões de animais vertebrados nativos e 4 bilhões de invertebrados.
Eles fazem tratamento na unidade de atendimento da ONG Ampara Silvestre, em parceria com o Sesc Pantanal. Voluntários se revezam nos cuidados com os animais que são tratados em um espaço que tem até uma piscina para se refrescarem.
Tião estava muito debilitado, com queimaduras pelo corpo todo, quando foi resgatado. Hoje estão bem e são tratados diariamente por voluntários, ainda sem previsão de data para retornar ao habitar natural.
"Hoje estão saudáveis. A intenção é que voltem à natureza. Eles passaram por tratamento e hoje ainda estão sendo cuidados", explicou a veterinária Taís Valéria de Souza.
Recentemente, a ONG postou que a dupla está cada dia mais perto de retornar à natureza. "Foi um longo trabalho de recuperação, com tratamentos para queimaduras que envolviam até pele de tilápia. Durante um ano, dezenas de veterinários, biólogos e zootecnistas voluntários se revezaram e se dedicaram aos cuidados das antas", diz.
A ONG quer construir uma base fixa de atendimento, onde estão sendo feitos recintos de reabilitação, para que eles possam ser transferidos e, futuramente, soltos em uma área monitorada. Para a realização do projeto, está fazendo uma vaquinha online para arrecadar recursos.
Os recintos, que serão construídos na região da Transpantaneira, atenderão os animais resgatados, tanto de maneira emergencial quanto em períodos mais longos de reabilitação.
"A gente torce para que o quanto antes eles vão para esse recinto e sejam devolvidos o quanto antes", afirmou Taís.
Os bichos também recebem ajuda para que sobrevivam durante o período de estiagem, em áreas devastadas pelos incêndios. Voluntários arrecadam doações de frutas e colocam os alimentos em pontos estratégicos na natureza para que os animais se alimentem.
A ação só é permitida nesses períodos de seca, seguindo todos os critérios técnicos e ambientais, para garantir a preservação da fauna.
Algumas espécies têm dificuldades na busca por água e alimentos. "Estamos distribuindo frutas e ovos para fazer a suplementação alimentar e também distribuindo cochos com água para suprir a falta d'água no Pantanal. É uma satisfação imensa, a gente se coloca no lugar do animal. Chegar no pantanal e ver seca para todos os lados e quando a gente vê que o animal está precisando do nosso trabalho só nos dá forças para continuar para ajudá-los", Jenefer Larrea, presidente da Associação É o bicho.
Em 2020, o Pantanal foi atingido pela maior tragédia de sua história. Incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares. 26% do bioma - uma área maior que a Bélgica - foi consumida pelo fogo. Cerca de 4,6 bilhões de animais foram afetados e ao menos 10 milhões morreram.
Em Mato Grosso, quase 2,2 milhões de hectares foram destruídos e, em Mato Grosso do Sul, 1,7 milhão de hectares, virou cinzas.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a precipitação dos últimos meses na bacia do alto Paraguai ficou abaixo do esperado. O Pantanal não tem uma “cheia” há três anos.