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Médicos e equipes enfrentam rotina de agressões e ameaças

Data: Segunda-feira, 10/01/2022 09:25
Fonte: Elayne Mendes Gazeta Digital

Empurrões, ameaças verbal e física, xingamentos dos mais diversos. A violência de pacientes às equipes médicas está cada dia mais recorrente. Do vigilante ao médico plantonista, praticamente todos os profissionais têm algum momento de tensão durante o expediente para contar. Na Capital, uma médica chegou a ser ameaçada pela mãe de um paciente com uma barra de ferro. Coordenadores das unidades afirmam que situações de conflito se tornaram mais recorrentes após a pandemia da covid-19 seguida do surto de gripe influenza, uma vez que a demanda por atendimento dobrou e, com isso, o tempo de espera aumenta.

Coordenadora da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Morada do Ouro, Juselly Lima conta que chega a acionar a Polícia Militar até 3 vezes no mesmo dia devido ao clima de tensão causado por pacientes que não aceitam esperar pelo atendimento. O pior é que se tornou tão recorrente esse tipo de coisa que a PM chega, os ânimos se acalmam e ninguém registra boletim de ocorrência. Então, esses casos ficam subnotificados. Mas posso afirmar que todos os dias temos ao menos um caso de violência por aqui.

Lima cita um caso que os pais chegaram alcoolizados com um bebê afirmando que a criança precisava de atendimento rápido. Eles entraram pelo box de emergência e invadiram o consultório, onde o médico plantonista fazia o atendimento a outro paciente. O pai gritou que era para o médico atender o filho e quando foi solicitado que ele esperasse um pouco, o homem deu um empurrão com as duas mãos no peito do médico. A agressão só não evoluiu porque outros profissionais interviram.

Em uma outra ocorrência, na véspera do Natal (24/12), uma jovem chegou à UPA alegando estar com mal estar e falta de ar. Ela passou pela triagem e logo foi colocada no corredor da unidade para ser avaliada pelo médico. Chegou a receber atendimento e aguardava a medicação em um leito quando o namorado entrou, a pegou no colo e invadiu a sala da médica. Aos gritos, ele mandou a médica atender a moça, que no desespero nem conseguiu falar que já tinha recebido o atendimento. A profissional explicou que era para retornar a paciente ao leito e aguardar.

O homem fez o que a médica pediu, porém, retornou ao consultório e foi para cima dela proferindo palavras de baixo calão e no intuito de agredi-la com socos. O vigilante, enfermeiros e outros funcionários interviram e ele não conseguiu tocá-la fisicamente. Mas desestabilizou toda a equipe plantonista. A médica passou mal e tremia muito. Chamamos a PM e ela representou contra ele, que devido ao nível de alteração saiu algemado, lembra Juselly.

Recorrentes

As ameaças e agressões de todos os tipos são comuns nas unidades de saúde pública de Cuiabá. É o que afirma o clínico geral, Clayton de Oliveira Delone, que já atuou em todas as policlínicas da Capital. Atualmente, ele atende aos fins de semana na Policlínica do Planalto, a qual, segundo ele, é a unidade mais difícil de trabalhar.

Dos muitos momentos de tensão vividos, cita um em outubro do ano passado, quando várias pessoas de uma mesma família chegaram à unidade acompanhando uma mulher que passava mal. Pelos sintomas, o médico logo notou que se tratava de infarto, mas os familiares informaram que seria apenas nervosismo, pois a paciente havia brigado com o marido. Eles pediram para dar um calmante e eu dei medicação para o coração, porque era o que ela precisava. Estabilizamos e internamos a paciente, mas ela não resistiu e veio a óbito. Daí me acusaram de dar um calmante muito forte.

O grupo avançou sobre Clayton, que teve que ser socorrido pelos demais colegas do plantão. E este ano, a mesma família retornou ao plantão do médico, com outra familiar passando mal. Novamente a confusão foi armada. Eles não entendem como funciona um PA. Chegam nervosos, nos xingam, ameaçam. Isso é recorrente.

Delone afirma que os plantões sempre foram difíceis, mas que nos últimos dois anos tudo piorou. Covid seguida de surto de gripe e associado a uma galera que só vai às unidades médicas para pegar atestado, geram tumulto e muitos conflitos. Esses últimos dias tem sido realmente uma prova de fogo. Não é a toa que muitos colegas estão adoecendo psicologicamente.