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Brasileira de 22 anos é premiada após descobrir 25 asteroides em projeto da Nasa

Um dos corpos pode se chocar com a Terra, conta Verena Paccola, aluna de medicina na USP de Ribeirão Preto. Tamanho e possível data de colisão, no entanto, ainda estão em estudo nos EUA.

Data: Quinta-feira, 13/01/2022 10:05
Fonte: G1

A estudante brasileira Verena Paccola, de 22 anos, foi premiada ao descobrir 25 asteroides após participar de um projeto da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Um dos corpos, segundo ela, pode se chocar com a Terra.

É o chamado asteroide fraco, que se movimenta na órbita de forma mais devagar. O tamanho dele e a possível data de colisão, no entanto, ainda estão em estudo nos Estados Unidos.

 

“Eu ainda não tive tempo de analisar qual dos 25 que é o asteroide fraco, que tem uma órbita diferente do resto. Mas quando eu analisar isso, vai dar para fazer sim o diâmetro, provavelmente, e ter uma ideia da órbita. É porque para definir essas coisas são várias observações no decorrer dos anos, de diferentes partes da Terra, para definir mais coisas dos asteroides”, disse
A história de Verena, que está no segundo ano de medicina da USP em Ribeirão Preto (SP), é parecida com a da dupla de astrônomos do filme "Não olhe para cima" (2021), da Netflix. No entanto, na ficção, os cientistas americanos lutam para alertar as autoridades após a descoberta. Na vida real, o caso já é conhecido e é acompanhado.

"As referências científicas no filme estão muito boas. Eles mostram o mesmo programa que eu usei para achar os asteroides. Falam do centro de Harvard e tudo mais", comentou a estudante, que agora tem o sonho de conhecer a Nasa.

A descoberta

 

Verena conta que, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, estudava para o vestibular da medicina em casa, em Indaiatuba (SP), mas queria uma atividade alternativa para distrair a cabeça diante da pressão para entrar na faculdade.

Cansada do conteúdo do Ensino Médio, decidiu se inscrever no treinamento da Nasa que havia visto na internet.

“Me passaram o cadastro para o software de caçar asteroides. Eles me começaram a me passar pacotes de imagens tiradas de um telescópio que fica no Havaí para eu analisar. Esse programa dá para achar vários corpos celestes, várias coisas no espaço, mas o que eu aprendi a detectar era asteroide mesmo. Tinha programação que eu fazia no software, jogava as imagens. Cada pacote de imagens era composto por quatro imagens tiradas em sequência lá do espaço”, explicou.

O software lançava imagens em sequência para ela. As estrelas, por exemplo, ficavam estáticas. Já os asteroides, moviam-se.

“Então, se eu via alguma coisa se movendo, eu fazia uma análise numérica daquele objeto e via se poderia ser um asteroide ou não. Isso gerava um relatório no próprio software, que era enviado para a Universidade de Harvard, que é o centro mundial que analisa esse tipo de coisa, e eles enviavam para a Nasa para ver se era mesmo um asteroide ou não”.

Nos relatórios dela, os números batiam com a margem do que poderiam ser asteroides. Depois, a Nasa confirmou que a estudante havia descoberto ao menos 25 corpos, sendo que um deles era considerado de grande importância para a agência espacial americana.

“Eu descobri que existem classificações de asteroides, que na verdade eu nem sabia, porque eu sou da área da saúde. Eu acabei descobrindo, então, um asteroide que é diferente, que ele se move mais devagar e é chamado de asteroide fraco nesse grupo, que são os asteroides mais importantes. Normalmente os que caem na Terra, os que têm chances de colidir, são os asteroides fracos, então eles exigem uma atenção maior", disse.

Premiação em Brasília

 

Por conta da descoberta há dois anos, foi premiada em Brasília em dezembro de 2021. Ela recebeu um troféu do coordenador do programa ‘Caça Asteroides’, da Nasa, e do ministro Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações.

"Nunca que eu ia imaginar uma coisa dessas acontecendo na minha vida. Mesmo quando eu estava fazendo o treinamento, quando eu estava procurando, a gente nunca acha que vai dar certo assim do jeito que deu, ainda mais com esse asteroide importante. É muito mais do que eu imaginava", contou.

A futura médica ainda não sabe quando vai poder nomear os corpos que descobriu. Porém, já informou que um dos asteroides receberá o nome da avó, Rochelle Paccola, uma das principais incentivadoras da estudante.

“ Eu estou na expectativa agora para nomear eles, porque demora alguns anos para sair essa documentação, pode levar até 8 anos (...) A minha vó, que ainda está viva, é a pessoa mais importante da minha vida, meu maior exemplo. Então, nada mais justo do que eternizar ela lá no céu”.

Medicina ou astronomia?

 

Verena sempre quis ser médica. É um sonho de criança, que começou a se concretizar após conseguir a vaga na USP de Ribeirão Preto. Se nada mudar, vai ser uma neurocirurgiã.

Mas uma pedra no meio do caminho, ou melhor, uns asteroides no meio do caminho podem fazer a jovem juntar as duas paixões: medicina e astronomia.

“Esse é um negócio que está pegando na minha cabeça, porque enquanto eu estava em Brasília para a premiação, eu tive a oportunidade de ter uma reunião particular, eu e o presidente da Agência Espacial Brasileira. Com ele, eu pude conversar sobre a medicina espacial, que é uma área que a gente não comenta muito aqui, porque o programa espacial brasileiro não era tão divulgado quanto é hoje em dia. Mas surgiu um interesse em mim no fundo do coração. Então, eu estou pesquisando mais, vendo como é a área, como eu posso chegar até lá. Mas é uma opção sim, juntar essas duas paixões”, revelou.

As conclusões da Nasa sobre os asteroides descobertos por ela e a formatura em medicina acontecerão praticamente juntas. As duas conquistam, segundo Verena, já dão orgulho aos familiares e amigos e movimentam as redes sociais com brincadeiras sobre o meme de não querer ser prima dela.

 

Minha avó é muito orgulhosa de mim, das minhas conquistas. Por exemplo, a gente foi agora na padaria e ela faz questão de contar para a atendente da padaria que eu faço medicina na USP, que eu descobri asteroide e tudo mais. Então eles acham um máximo e eu gosto também porque incentiva a aprender mais sobre ciência. Meus amigos agora estão super engajados, é muito bacana. Meu Instagram é só isso agora. Nas minhas fotos um monte de gente comentando: "Não queria ser sua prima", "Ainda bem que não sou sua prima", brincou.