O pequeno Caio da Costa Bento, de 7 anos, se emocionou ao tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19 nesta semana em Arandu (SP). Segundo a mãe, além do medo da agulha, o motivo das lágrimas do filho foi a lembrança dos avós que morreram com a doença há quase dois anos.
"Ele ficou com medo. Na foto você vê que ele estava com medo da agulha, mas depois ele chorou, me abraçou e ficou bem emocionado", conta a mãe de Caio.
Ao g1, Maria Eduarda Pires da Costa Bento contou que os pais dela morreram de Covid nos primeiros meses da pandemia no Brasil, com poucos dias de diferença, em março e abril de 2020.
Segundo ela, que também é enfermeira e diretora de Saúde de Arandu, os dois foram os primeiros pacientes a morrerem de Covid na região do Vale do Jurumirim, que engloba 17 municípios.
"Minha mãe falava que estava com Covid, mas na época não tinha teste assim. Fomos confirmar que ela teve Covid quatro meses depois. Agora do meu pai conseguimos saber antes porque fizemos um teste de laboratório que deu positivo. Na época foi muito caro, mas a gente precisava saber o que eles tinham", conta Maria Eduarda.
Após quase dois anos da morte do casal, a vacina contra a Covid-19 chegou para o neto de 7 anos em Arandu. Caio foi a primeira criança sem comorbidades a tomar a primeira dose na cidade, nesta segunda-feira (24).
"Eu estava contando os dias para poder vacinar meu filho. Não via a hora de chegar o e-mail e, quando chegou, ele falou: 'agora é a hora'. E fui eu quem aplicou a vacina nele", conta a enfermeira.
Maria Aparecida Silva da Costa, de 55 anos, e Ismael Pires da Costa Filho, de 57, foram homenageados durante a vacinação do neto, que carregou um cartaz com a foto deles enquanto recebia a dose de esperança.
A outra neta, Ana Laura Pires da Costa Araújo, de 5 anos, também levou a foto dos avós para tomar vacina em São Paulo.
"Vovó e vovô, estamos tomando a vacina que vocês não puderam tomar. Por vocês. Muitas saudades!", diz a frase no cartaz.
Segundo a enfermeira, Caio era muito apegado aos avós e tem aprendido a lidar com o luto diariamente. Para ela, a homenagem também foi uma forma de lembrar as pessoas o quanto a vacina é importante para salvar vidas.
"Por tudo que a gente passou e vem passando, a tristeza é uma luta diária. Meu filho era muito apegado a eles e vem fazendo terapia semanalmente, fazendo atividades para aprender a lidar com a dor. O nosso sentimento é de luta diária, um dia de cada vez para que as pessoas se cuidem e tenham consciência de que a vacina é o que vai manter a gente aqui", completa Maria Eduarda.