Um morador de Planaltina, no Distrito Federal, encontrou fósseis pré-históricos e de comunidades humanas que habitaram a região há milhares de anos. O professor de artes Adeilton de Oliveira, de 48 anos, que atua na rede pública de ensino, conta que faz diversos passeios pela região de bicicleta e realiza trilhas por rios e matas e, em uma dessas viagens, encontrou o material.
Ele enviou as fotos para diversos especialistas em arqueologia, paleontólogos e demais especialistas no Brasil e no exterior. Todos eles apontam a semelhança com achados que recontam a história da humanidade. Os primeiros objetos foram encontrados na área do Parque Ecológico do Colégio Agrícola, nas proximidades do campus do Instituto Federal de Brasília (IFB).
Se tratam de estromatólitos, que são fósseis das formas de vida mais antigas do nosso planeta, que remontam há bilhões de anos, quando a Terra dava os primeiros passos da evolução de todas as espécies. O nome tem origem no idioma grego – stroma significa "colchão", e lithos, "pedra". Estromatólito significa, então, "rocha em camadas". Em outra região rural, nas proximidades da Embrapa Cerrados, Adeilton encontrou um batedor, uma pedra moldada por civilizações indígenas do passado para preparar alimentos.
Adeilton é membro da Aplac (Academia Planaltinese de Letras, Artes e Ciências) e conta que sempre teve interesse pelo tema."Como professor de artes, eu não poderia deixar de ser observador. Estudei sobre a arte pré-histórica, e esse conhecimento, mesmo que raso, aguça essa curiosidade. Lá tinha outras coisas, e eu não tirei do lugar pra preservar. Agora é necessário que pessoas que tenham um olhar mais atento, treinado, visitem a região", diz Adeilton.
O educador conta que sempre acreditou que a pré-história do DF e do país também tivesse deixado vestígios na cidade em que ele mora. "Sempre desconfiei que Planaltina poderia ter sítios arqueológicos, já que estamos em uma região cercada por eles. Temos achados em Formosa, Planaltina de Goiás, Unai, Fercal etc.", completa o professor.
O professor Luis Cayon, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), que atuou como colaborador do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e é especialista nos povos indígenas do noroeste amazônico, destaca que não existem dúvidas que se tratam de achados arqueológicos.
"Eu entendo mais da parte de vestígios culturais, e das fotos que mandaram, uma [peça] claramente é fabricada por indígenas. Pelo formato, me parece que se trata de um batedor indígena. Talvez em algum momento tenha tido alguma ponta, para cortar, mas parece mais um batedor", explica.
O professor destaca que não existe ligação histórica entre o machado e os fósseis biológicos. "Tem a dimensão temporal, arqueológica, que tem a ver com as ocupações humanas e artefatos contruídos por humanos. Os fósseis são outros registros temporais, muito mais profundos. São antigas espécies de animais e plantas que acabaram se fossilizando. O lapso temporal é enorme", disse.
Luis explica que é preciso uma avaliação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para definir se a área corresponde a um sítio arqueológico. "Precisa ver se realmente os achados estão formando um conjunto, aí seria um sítio arquelógico. Precisa passar por pesquisa, tem que ser registrado no Iphan. A pessoa que encontra [material arqueológico] pode fazer esse registro pelo site do Iphan. Mas seria interessante entrar em contato com um arqueólogo para deliminar. Mas se são coisas aleatórias, às vezes material arrastado pelas águas, pode não ser um sítio arqueológico", explica.
Adeílton conta que o material encontrado em Planaltina deve ser entregue para a Universidade de Brasília, para pesquisa e posteriormente integrar exposições. A orientação para quem encontra este tipo de objeto é não pegar o material ou tirar de sua região original.
O R7 entrou em contato com o Iphan para saber se uma equipe será enviada aos locais onde os artefatos foram encontrados e aguardamos retorno.