O senador Alexandre Silveira (PSD-MG) recusou o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir a liderança do governo no Senado, e comunicou a decisão aos colegas de bancada em reunião na última terça-feira (8). Na ocasião, ele foi questionado sobre como ficou a liderança, e apenas informou que não havia aceitado o convite, e que havia informado ao governo sobre a decisão desde o começo.
Agora, a reportagem apurou que as opções do governo hoje estão centralizadas em dois nomes: Marcos Rogério (PL-RO), defensor ferrenho do governo, e o líder do Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), do mesmo partido do ex-líder do Senado, Fernando Bezerra (PE).
O anúncio que Silveira seria o novo líder do governo foi feito pelo próprio presidente Bolsonaro. No dia 20 de janeiro, Bolsonaro afirmou em transmissão ao vivo pelas redes sociais que o senador era o novo líder do governo. O presidente também disse ao R7 que Silveira havia aceitado o convite.
No mesmo dia, entretanto, o senador, que assumiu o mandato no lugar de Antonio Anastasia (PSD-MG), falou pelas redes sociais que não poderia avaliar o convite pois ainda não havia assumido o cargo. "Recebi do presidente da República o convite para assumir a liderança do governo no Senado (...) Mas, como não estou investido do cargo de senador da República, não posso considerar a avaliação da proposta no momento", escreveu à época.
Por alguns dias, houve muita especulação se o senador ocuparia mesmo o cargo. Havia uma forte pressão no PSD para que ele não aceitasse, tendo em vista a posição do partido no cenário político nacional. A legenda tem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como pré-candidato à presidência da República. Além disso, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, tem se aproximado do ex-presidente Lula, também pré-candidato ao pleito deste ano.
Como publicado no R7, a cúpula da sigla avaliava que o melhor a ser feito era Silveira deixar a legenda, caso aceitasse assumir a liderança do governo. O senador recebeu um recado direto de Kassab sobre a possibilidade de assumir a liderança do governo.
Silveira preferiu não dizer expressamente, e publicamente, que negou o convite. Ao tomar posse como senador, no último dia 2, ele não tocou no assunto, mas fez um discurso falando sobre os problemas vividos no país e fez críticas à política econômica do governo.
"Há mais de dois anos, ouço falar na tal 'recuperação em V', na estabilidade do dólar e no equilíbrio fiscal como fonte geradora de justiça social, e onde está o resultado desse discurso? Não dá mais para esperar. Precisamos de ousadia e coragem. Não estamos discutindo viagem à Disney", disse, em referência ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, estava presente na posse, e foi lembrado mais de uma vez no discurso de Silveira. Kalil é oposição ao presidente Bolsonaro e é aliado do senador.
O cenário continua difícil para o governo, que permanece sem liderança no Senado em um ano eleitoral. Marcos Rogério, apesar de ter o nome na mesa, não gostaria de assumir o posto. Ele é cotado a disputar o governo do seu estado, e também tem outros planos em mente. Assumir a liderança em ano eleitoral é desgastante ao parlamentar. Além disso, a forma como Bezerra deixou o governo desagradou muitos senadores.
O ex-líder saiu do cargo depois de sofrer uma derrota esmagadora na eleição do Senado no processo de escolha do novo ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). Bezerra não teve apoio do governo e levou apenas sete votos, enquanto o vencedor, Antonio Anastasia (PSD-MG), teve 52. O clima não ficou dos melhores na Casa, que observou a falta de apoio do governo com Bezerra.
No dia 16 de dezembro, ao R7, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos filhos do presidente, defendeu que o mandatário deveria escolher um novo líder ainda no fim do ano passado. "Na minha opinião, tem que decidir logo para o líder ter tempo de trabalhar e reorganizar a base aqui. Na minha opinião, tinha que decidir hoje", afirmou.
O Senado é onde o governo tem mais tem dificuldade de articulação, e onde os projetos de interesse do Planalto acabam travados. Para aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios, matéria de interesse ao governo, foi necessário um trabalho árduo do ex-líder, com muita negociação com as diversas bancadas.
A reportagem apurou que, nesta semana, diante da ausência de um líder, a bancada do PSD foi procurada por assessores do governo para discutir um projeto que prorroga até 2024 a obrigatoridade de que o governo pague perícias médicas judiciais do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A matéria preocupa o governo pelo aumento de despesa. O texto foi aprovado no Senado na quarta-feira (9), e vai para a Câmara.