O frio intenso em pleno outono, até com registro de neve e ciclone em algumas cidades brasileiras, tem chocado a população, que se questiona sobre a possibilidade de o inverno, que ocorre entre 21 de junho e 23 de setembro e já apresenta um clima gelado habitual em parte do país, ser ainda mais frio neste ano.
Para dois meteorologistas entrevistados pelo R7, essas condições devem se repetir com mais frequência e tornar o inverno mais rigoroso, especialmente nos estados do Centro-Sul do Brasil.
O grande culpado é o fenômeno chamado de La Niña — causado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico —, que acentua eventos climáticos extremos em diversos países.
"O [fenômeno] La Ninã influencia as temperaturas a serem mais baixas, e consequentemente as massas de ar que se originam no polo Sul podem chegar aqui mais intensas e causar frios recordes", diz o meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) Cléber Souza.
"Ela [La Niña] favorece o frio intenso principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, e também no sul da Amazônia, que pega principalmente o Acre e Rondônia. (...) Como também favorece nessas mesmas áreas clima menos chuvoso e seco."
Já a meteorologista da FieldPRO Dóris Palma prevê que o efeito não deve impactar tanto a falta de chuvas – que causaram uma seca histórica no final de 2021. As mínimas, porém, deverão ser mais baixas. "A máxima fica dentro da média, então não teremos grandes desvios. Mas as manhãs tendem a ser mais frias que o normal entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina por conta da influência do fenômeno. Ele não tende a causar eventos extremos durante o inverno [no Brasil]", comenta.
O fenômeno começou na primavera do ano passado, e a tendência é que se mantenha pelo menos ao longo do inverno, com diversas previsões que apontam a permanência até o fim de 2022.
As oscilações de temperatura causam outro efeito negativo: os danos no setor agrícola devido às geadas, que podem acabar até afetando ainda mais o preço dos alimentos. Segundo o Inmet, em 2019 a falta de chuvas por esse efeito fez com que o plantio de algumas culturas de grãos fosse adiado. Em algumas regiões, a estiagem obrigou produtores a recorrer ao replantio, o que provocou prejuízos.
No entanto, o órgão afirmou em comunicado do final de abril que as projeções para 2022 são positivas, "já que há um bom acúmulo de umidade no solo em consequências das recentes chuvas em março e abril".