Um novo reforço vacinal contra a Covid-19 passou a ser recomendado a pessoas com mais de 50 anos e trabalhadores que atuam na linha de frente dos serviços de saúde. Mas por que a quarta dose é necessária, sendo que o primeiro reforço começou a ser aplicado no fim de 2021?
Ao R7, Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), esclarece essa e outras dúvidas.
Por que a quarta dose foi recomendada?
O especialista explica que no decorrer da campanha de imunização contra a Covid-19 foi observado que há uma queda gradual da proteção oferecida pelas vacinas em um período de quatro a cinco meses após a aplicação do esquema completo — duas doses no caso das vacinas da Pfizer, AstraZeneca e CoronoVac, e uma dose da Janssen — ou da dose de reforço.
“Então, se viu que era necessário reforçar para melhorar de novo a proteção, principalmente por esses dois aspectos: uma queda esperada da proteção da vacina e o aparecimento de variantes que não estavam respondendo da forma que se imaginava com o uso inicial dos imunizantes”, afirma Cunha.
Além disso, segundo a nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde, no caso dos idosos há uma redução da proteção causada pelo envelhecimento do sistema imunológico, o que requer estratégias diferenciadas para garantir a proteção desse grupo que é de maior vulnerabilidade para a infecção causada pelo Sars-CoV-2.
A dose de reforço contra a Covid-19 será sempre necessária?
Apesar das recomendações atuais, o presidente da SBIm destaca que ainda não se sabe por quanto tempo a dose de reforço será necessária ou de que forma a vacina anti-Covid será implementada no Calendário Nacional de Vacinação.
“Muitas pessoas perguntam se vai ser igual à [vacina] da gripe, mas ainda não sabemos. Não sabemos se teremos que utilizar vacinas com uma performance diferente. Então, existe essa possibilidade para o futuro, mas também pode ser que a gente venha a fazer exatamente como é a da gripe: alterar a composição da vacina especificamente para aquelas variantes que estão acontecendo. Mas ainda não temos essas respostas”, afirma Cunha.
Também pode ocorrer uma atualização das vacinas que estão sendo aplicadas, de acordo com o especialista.
“Tudo vai depender de como as variantes vão se comportar daqui pra frente, mas também tem a expectativa de vacinas de segunda geração que venham a potencializar a resposta e proteger por mais tempo e para várias possibilidades dessas mutações que podem acontecer”, explica.
A quarta dose será estendida para a população em geral?
No cenário mundial de vacinação contra a Covid-19, ainda não há uma recomendação para que o segundo reforço seja aplicado na população em geral, de acordo com o especialista.
“Temos que ver como a epidemiologia vai evoluir, porque essas decisões são baseadas no que os números estão mostrando e no que a gente tem de literatura de artigos médicos colocando se vale a pena ou não. Existe a possibilidade de melhorar a proteção com a quarta dose, mas a melhora é, em especial, para os mais vulneráveis. Então se vamos aplicar para outras faixas etárias e outros grupos ainda não está definido”, afirma Cunha.
A dose de reforço causa mais efeitos adversos?
Segundo Cunha, as reações adversas provocadas pelas vacinas variam de pessoa para pessoa. Mas, no geral, o que se tem visto na prática é que as doses de reforço não causaram novas reações nem as potencializaram.
Estou com sintomas gripais, posso tomar a dose de reforço?
Caso um teste confirme que os sintomas são de Covid-19, a pessoa deve esperar no mínimo quatro semanas para se vacinar; se o quadro evoluir para um estágio mais grave, o tempo de espera pode ser de até três meses, segundo o especialista.
No caso de sintomas gripais causados por outros vírus respiratórios, como o influenza, o recomendado é que se espere até a melhora clínica do quadro.
Por que não posso tomar a vacina se eu estiver com Covid-19?
Quando o Sars-CoV-2 infecta uma pessoa, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos para combater a infecção. Nesse sentido, Cunha explica que a aplicação da vacina pode interferir na resposta natural do organismo.
Vale ressaltar, no entanto, que a infecção prévia pelo vírus não descarta a necessidade de vacinação.
“Os dados que temos é que as pessoas que tiveram Covid e foram vacinadas depois, são as que têm a melhor resposta protetora. Ter a doença não significa que a pessoa não tenha que tomar a vacina, porque o escape dessas variantes também acontece com quem já teve [a infecção]. Por ter tido uma proteção induzida por um tipo de variante, não necessariamente [os anticorpos] vão proteger para outra”, destaca o especialista.
Posso receber a vacina contra a gripe junto com a dose de reforço?
No começo da campanha de vacinação contra o Sars-Cov-2, a aplicação conjunta das vacinas não era recomendada, mas no ano passado a orientação mudou e é possível receber a imunização contra a Covid-19 e a gripe no mesmo dia.
“Quando começamos a utilizar as vacinas anti-Covid, a recomendação era fazer esse intervalo de duas semanas. Com o passar do tempo e com a experiência que se tem, foi observado que uma vacina não interfere na resposta da outra, nem nos eventos adversos, que eram a maior preocupação”, afirma Cunha.
A regra, no entanto, permanece para crianças com idade entre 5 e 11 anos, que devem cumprir um intervalo de 14 dias entre as vacinas.
Tenho mais de 50 anos e não tomei a terceira dose, posso tomar a quarta?
Para quem não recebeu o primeiro reforço da vacinação, o recomendado é que faça essa aplicação e, só depois de quatro meses, receba a quarta dose.
Para aqueles que não completaram o esquema inicial — com duas doses da vacina da AstraZeneca, Pfizer ou CoronaVac, ou uma da Janssen — é importante regularizar a vacinação.
“Tem muita gente que não terminou o esquema primário ou que não fez o primeiro reforço. [É importante] estimular para que essas pessoas façam a vacina, completem o esquema, porque todos os dados têm mostrado que a Covid aumentou muito [nas últimas semanas] e que a maioria das mortes e internações é de pessoas que não foram vacinadas ou não estão com o esquema completo. Já temos certeza absoluta de que as vacinas evitam as formas graves e morte”, destaca Cunha.
Quem tomou a vacina da Janssen vai receber a quarta dose?
Como o esquema vacinal da Janssen é de apenas uma dose, o segundo reforço para essa vacina configura a terceira aplicação. Então, nesse sentido, para pessoas com mais de 50 anos e profissionais de saúde que receberam o imunizante, o segundo reforço também está autorizado.
Qual vacina será aplicada para a quarta dose?
A recomendação do Ministério da Saúde é que a quarta dose seja aplicada com a vacina da Pfizer, da Janssen ou da AstraZeneca.
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