O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, renunciou ao cargo nesta quinta-feira (7), após grande pressão para tomar a decisão e da renúncia de 59 membros de seu governo desde a última terça-feira (5).
"Claramente, a vontade do Partido Conservador agora é que deve haver um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro. Eu continuarei até que um novo nome esteja no meu lugar", disse. Segundo ele, o processo de escolha deve começar imediatamente e o cronograma será divulgado na próxima semana.
"Ninguém é indispensável. (...) Quero que saibam como estou triste por estar desistindo do melhor emprego do mundo", continuou e agradeceu ao povo britânico pelo "privilégio" de ser primeiro-ministro. "Mesmo que as coisas às vezes pareçam sombrias, nosso futuro juntos é dourado", concluiu.
Durante o discurso, ele ainda mecionou sua participação como líder do Brexit, nome dado à saída do Reino Unido da União Europeia, a grande campanha de vacinação contra a Covid-19 no país durnte seu governo, que segundo ele foi a mais rápida da Europa, e o importante apoio à Ucrânia em meio à invasão russa.
A rede britânica BBC já havia informado que Johnson renunciaria como líder do partido conservador nesta quinta-feira, o que significa que também deixaria o posto de chefe de Governo.
O governo do então primeiro-ministro passou por diversos escândalos que contribuíram para que vários políticos protestassem contra a sua legitimidade.
Os escândalos incluem o funcionário conservador Chris Pincher, que ocupava
um importante cargo parlamentar, e na semana passada se demitiu após ser acusado de apalpar, embriagado, dois homens.
O governo reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado de alegações anteriores contra Pincher em 2019, mas as "esqueceu".
Além disso, houve a investigação sobre o "partygate", festas celebradas em Downing Street (residência oficial) em meio às medidas restritivas para conter a Covid-19 no Reino Unido. Boris Johnson participou de uma festa surpresa por ocasião de seus 56 anos em junho de 2020 na sala do conselho de ministros.
Durante meses, uma dúzia de supostas festas organizadas nas dependências do governo durante os períodos de isolamento foram investigadas e a imprensa local destacou a presença de Johnson em várias delas.
Ele pediu desculpas pelas festas, que incluíram desde celebrações natalinas até a massiva despedida de um funcionário na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª, em cujo enterro só puderam ir 30 pessoas socialmente distanciadas devido às restrições impostas pela crise sanitária.
Boris Johnson vai ser investigado por uma comissão parlamentar que irá apurar se ele enganou conscientemente os deputados quando, em dezembro, negou a celebração de festas durante os confinamentos.
O governo Johnson também passou pelas instabilidades causadas pelo financiamento irregular da luxuosa reforma de sua residência oficial e pelas acusações de compadrio.
O então primeiro-ministro sobreviveu a uma tentativa de removê-lo do poder no início de junho. Apoiado por 211 de seus 359 legisladores, seguiu no cargo, mas os 148 votos contra ele deixaram claro que o descontentamento era muito grande.
O reveses eleitorais, o mais recente em 23 de junho em duas eleições de meio de mandato, também convenceram um número crescente de políticos do Partido Conservador de que Johnson não poderia levá-los a uma nova eleição em 2024.
Embora Boris Johnson tenha recebido um voto interno de confiança nesta segunda-feira (6), sua posição como chefe do governo britânico é considerada muito precária. Não há um sucessor claro no Partido Conservador, e vários nomes circulam como possíveis candidatos para substituí-lo.
O ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde Jeremy Hunt, de 55 anos, perdeu para Boris Johnson a liderança conservadora de 2019, apresentando-se como a alternativa 'séria'. Desde então, ele se prepara para concorrer novamente, construindo apoios e ficando fora do governo Johnson. Colega de Johnson e do ex-primeiro-ministro conservador David Cameron na Universidade de Oxford, Hunt, que ensinou inglês no Japão e é fluente em japonês, é presidente do Comitê Parlamentar de Saúde. Ele tem uma imagem de 'cara legal', embora alguns o considerem sem carisma.
O ministro das Finanças, Rishi Sunak, o primeiro hindu a ocupar o cargo, já foi o grande favorito para suceder Johnson, mas perdeu a legitimidade após uma série de escândalos. Os casos giravam em torno do status fiscal vantajoso de sua esposa bilionária indiana, que lhe permitia evitar o pagamento de milhões em impostos no Reino Unido, e da autorização de residência nos EUA que Sunak tinha até o ano passado. Ex-analista do banco Goldman Sachs e funcionário de um fundo especulativo, casado com a filha de um magnata indiano, Sunak, cujos avós emigraram do norte da Índia para o Reino Unido na década de 1960, acumulou uma fortuna pessoal substancial antes de se tornar um deputado, em 2015. Defensor do Brexit, e hoje com 42 anos de idade, Sunak foi nomeado ministro das Finanças em 2020, um cargo importante em meio à pandemia, mas foi criticado por fazer muito pouco para combater a sufocante crise do custo de vida.
Sem meias-palavras e crítica ferrenha dos movimentos de protesto 'woke', a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, tornou-se muito popular nas bases do Partido Conservador. Essa mulher de 46 anos, que por uma década trabalhou nos setores de energia e telecomunicações, foi nomeada chefe da diplomacia como recompensa por seu trabalho como ministra do Comércio Internacional durante a saída britânica da União Europeia. Nessa posição, a grande defensora do livre-comércio que votou pela permanência na UE antes de mudar de lado conseguiu fechar uma série de importantes acordos comerciais pós-Brexit.
O atual ministro da Saúde, Sajid Javid, filho de um motorista de ônibus imigrante paquistanês, foi um renomado banqueiro antes de se tornar ministro das Finanças de Johnson. Ele renunciou em 2020 e voltou ao governo há um ano. Javid, de 52 anos, votou em 2016 pela permanência na UE pelos benefícios econômicos, mas depois se juntou à causa do Brexit.
A ministra do Interior, Priti Patel, de 50 anos, é a mais conservadora dos ministras de Johnson. Firme defensora do Brexit, ela também votou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nasceu em Londres, em uma família ugandense-indiana, e adotou uma linha muito dura em relação à imigração. Apesar de suas promessas, o número de migrantes que chegam ilegalmente através do canal da Mancha está atualmente em níveis recordes. Grande admiradora da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher e acusada de assédio moral por seus colaboradores no local de trabalho, Patel trabalhou em relações públicas antes de entrar na política.
O presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns foi o primeiro a anunciar abertamente sua intenção de se candidatar se Boris Johnson renunciasse ou sofresse um impeachment. Ex-oficial do Exército britânico, serviu no Iraque e no Afeganistão. Filho de pai britânico e mãe francesa, Tom Tugendhat, de 48 anos, é perfeitamente bilíngue.
Ex-ministra da Defesa e atual secretária de Estado do Comércio Exterior, Penny Mordaunt, de 49 anos, foi uma das figuras da campanha a favor do Brexit em 2016 e desde então trabalha nas negociações de acordos comerciais para o Reino Unido. Considerada uma boa oradora, estima-se que possa ser uma candidata de unidade, capaz de obter apoio de diferentes alas do Partido Conservador.