Trinta e duas pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil na conclusão do inquérito da Operação 'Grãos de Areia', deflagrada pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, e Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
A investigação apontou esquema de furto e adulteração de grãos de soja e milho com mistura de areia em produtos que seriam exportados de Mato Grosso para a China.
O inquérito, encaminhado para Justiça na sexta-feira (5), tem mais de quatro mil páginas de investigação, resultando no indiciamento dos investigados pelos crimes de furto qualificado, estelionato, e integrar organização criminosa, além de 22 veículos apreendidos e mais de R$ 3 milhões bloqueados.
As investigações identificaram que a organização criminosa, composta por 32 pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, praticava os crimes de furto qualificado e estelionato, na modalidade fraude na entrega do produto, associação criminosa, sendo demonstrada a autoria e materialidade dos crimes investigados.
Com base nos elementos levantados durante o curso inquérito policial, foi identificado que o grupo criminoso vem atuando em Rondonópolis desde o ano de 2020, contando com a participação de motoristas de caminhão e funcionários da empresa vítima.
Agindo como uma máfia, o grupo desviou, aproximadamente, nove mil toneladas de soja e farelo de soja entre os meses de janeiro e março de 2021 (correspondente ao período investigado), com valor estimado de R$ 22,5 milhões em produto subtraído em apenas três meses.
O delegado da Derf Rondonópolis, Santiago Rozendo Sanches, explica que a maioria da mercadoria desviada e adulterada tinha como destino o terminal de cargo ferroviário da cidade Rondonópolis, operado pela empresa vítima, com média de 1.500 caminhões descarregados por dia.
Em continuidade às investigações, foram identificadas novas vítima, e que a organização criminosa também atuava no ramo de adulteração de fertilizantes utilizados em plantações de soja e milho, a depender da época do ano em que os produtos eram transportados.
No momento da deflagração da operação, a organização criminosa estava em pleno funcionamento. Durante as buscas nas empresas foi apreendido um caminhão bitrem carregado com farelo de soja, cuja carga havia acabado de receber o processo de adulteração com areia, tendo o laudo pericial atestado uma quantidade de areia 43 vezes acima do que é tolerado na carga.
No primeiro tipo de crime, o farelo de soja era carregado por integrantes do grupo criminoso em uma empresa em Primavera do Leste com destino ao terminal de cargas em Rondonópolis. Então era realizada a clonagem de outro caminhão com mercadoria adulterada nas empresas da organização criminosa.
O caminhão clonado entrava no pátio da empresa com a ajuda de funcionários envolvidos no esquema e descarregava a mercadoria adulterada. O caminhão com a carga sem adulteração retornava para empresa do investigado, onde era descarregada e posteriormente comercializada por valores abaixo do preço de mercado, gerando um lucro aproximado de R$ 100 mil por carga desviada.
Em outra frente criminosa, com foco nos produtos soja a granel e farelo de soja, era realizado o aliciamento dos motoristas de caminhão e as cargas sem adulteração provenientes de todo o estado eram levadas até a empresas dos investigados, onde eram adulteradas com areia para depois serem entregues no terminal ferroviário.