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Aumento de bombardeios: o que esperar da nova fase do conflito entre Rússia e Ucrânia?

Intensificação dos ataques ocorre após destruição parcial da ponte da Crimeia; G7 terá enfoque diferenciado em relação à guerra

Data: Quinta-feira, 13/10/2022 09:38
Fonte: Maria Cunha*, do R7

Mais de 200 mísseis lançados, pânico e caos. Esse é o cenário na Ucrânia que, na última segunda-feira (10), sofreu uma onda de bombardeios russos coordenados e mortais contra várias cidades do país, incluindo a capital, Kiev. Os ataques ocorreram após uma explosão que destruiu parcialmente a ponte da Crimeia, considerada estratégica e simbólica pela Rússia. 

Com novas perspectivas do conflito, o R7 conversou com especialistas para questionar o que esperar desta próxima fase da guerra e como os líderes do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, vão agir em relação às ações de Vladimir Putin.

 De acordo com Igor Lucena, economista e doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, devemos assistir a um aumento na intensidade da conflito. "Os últimos ataques foram quase que indiscriminados do ponto de vista de alvos. Eles atingiram vários alvos civis", explica.

Para Leonardo Paz Neves, integrante do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (Fundação Getulio Vargas), a represália russa à destruição da ponte e os bombardeios em Kiev são considerados relevantes do ponto de vista geopolítico.

"[A onda de bombardeios russos] mostra a intensificação do conflito, pois, quando ele começa a atacar alvos importantes, a retaliação começa a aumentar, do mesmo modo que essa escalada de como chegar à capital mais uma vez, algo que não era feito desde abril."

Nesse contexto, o apoio da Bielorrússia, principal aliada da Rússia no conflito, é determinante. O país tem uma enorme fronteira com o norte da Ucrânia, o que fez com que boa parte dos ataques russos, no início da guerra, partissem do território bielorrusso, no qual os soldados de Putin se reagrupavam e eram protegidos.

"A Bielorrússia e o presidente Lukashenko, na verdade, são uma espécie de Estado-satélite e governo de apoio. Quando a gente faz uma análise na prática não há uma capacidade política, militar e econômica própria da Bielorrússia e ela depende de todos esses apoios para manter seu regime ditatorial", diz Lucena. "Então, Lukashenko faz todo o jogo político necessário que Putin solicita. Infelizmente, é um país marionete da Rússia."

Apesar disso, a intensificação do conflito ocorre no momento de maior fragilidade da Rússia, pois o ataque à ponte da Crimeia foi efetivo a ponto de desestabilizar parte das estratégias do governo russo.

Nesse contexto, o G7, que até então tinha como foco a mais nova crise no Reino Unido e, consequentemente, os desdobramentos da inflação na Europa nos Estados Unidos, deve ter um enfoque diferenciado. A entrega de um primeiro sistema de defesa antiaérea à Ucrânia, por exemplo, é iminente.

"Acredito que agora o ponto principal é o aumento das sanções contra a Rússia e como o Ocidente vai reagir a esse tipo de ataque, que é basicamente uma espécie de uso que a gente chama de 'nação pirata', onde não importam as regras internacionais e nem mesmo os chamados crimes de guerra", afirma o economista. 

Para Neves, novas medidas vão surgir, pois os líderes do G7 raramente se encontram em uma agenda como essa para não fazer nada.

"Certamente, os líderes do G7 vão discutir o que eles podem fazer para tentar enfraquecer ainda mais a Rússia e tentar segurar um pouco o conflito. Já foram sete ou oito tipo de ações e sanções em relação à Rússia e a expectativa é que a gente identifique mais."

Além disso, acredita-se que as incursões ucranianas para reconquistar os territórios da Crimeia e os quatro outros anexados na semana passada deverão contar ajuda traduzida em mais equipamentos militares e ainda mais recursos financeiros.

"Isso poria uma pressão enorme em cima de Putin, porque o mostraria como um líder fraco e militarmente questionável para a população russa, o que seria na prática muito complexo", pondera Lucena. "Não há dúvida de que a radicalização da Rússia em relação à Ucrânia também mostra uma pressão cada vez maior do tempo contra Putin, que não consegue encontrar soluções possíveis para o fim do conflito que não sejam uma derrota para a Rússia".