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Modelo agredida por Thiago Brennand encoraja vítimas: 'Não podemos criar corrente de medo'

Helena Gomes relata ter recebido mais de 200 mensagens de mulheres violentadas pelo empresário desde que caso veio à tona

Data: Quinta-feira, 13/10/2022 10:55
Fonte: Fabíola Perez, do R7

Não são poucas as noites em que a modelo Helena Gomes interrompe o sono para responder a mensagens de mulheres vítimas de ofensas, perseguições e até mesmo abusos sexuais praticados pelo empresário milionário e foragido da Justiça Thiago Brennand.

Entre os dias 3 de agosto, data em que câmeras de segurança flagraram Helena ser agredida fisicamente por Brennand em uma academia de São Paulo, até esta quinta-feira (13), a modelo recebeu cerca de 200 mensagens e pedidos de ajuda.

 "Me senti mais forte para lidar com isso. Não imaginava algo assim ter tomado essa proporção toda. Imaginava que outras vítimas apareceriam, mas não sabia que seriam tantas", disse ela ao R7. "A quantidade de pessoas que vieram falar comigo mas têm medo de continuar o processo é imensa."

Hoje, passados pouco mais de dois meses desde que a agressão foi flagrada e outros casos, incluindo crimes sexuais, começaram à vir à tona, Helena concentra as atenções em conversas e escutas para fortalecer mulheres que foram atingidas por Brennand de alguma forma. "Amadureci a ponto de controlar minha emoção para ajudar as pessoas. Convencer outra pessoa a falar não é um processo fácil."

Helena, que prefere não se referir a essas mulheres como vítimas, ressalta que é preciso conscientizar pessoas que sofrem o trauma da violência física ou psicológica de que elas não devem carregar a culpa do que vivenciaram. "Elas estão psicologicamente afetadas, não se sentiram seguras a falar pelo medo. Minha tentativa é passar segurança para elas falarem."

O contato com as vítimas, diz Helena, fez com que ela se sentisse mais confiante para acompanhar as etapas do processo contra Thiago Brennand. "Isso teve um retorno para mim, não me passava pela cabeça que eu precisaria fazer isso."

No domingo (9), o milionário usou plataformas na internet para comentar pela primeira vez as denúncias de crimes sexuais e agressões físicas. No vídeo, apagado um dia depois da publicação, Brennand critica promotores e ex-promotores do Ministério Público, jornalistas e nega ter tido interesse em Helena: "Onde que eu teria interesse em uma mulher daquela? Nem beber eu bebo. Sóbrio não tem como. Quem não vê o nível daquela cidadã", disse em um dos vídeos.

"Ele pergunta quem é a Helena Gomes. Minha resposta para isso é 'a mulher que falou não, que não abaixou a cabeça, que procurou a Justiça, que expôs ele ao Brasil, que está lutando por si e por todas que não tiveram oportunidade, nem ajuda'", disse a modelo após a divulgação das imagens. 

Na avaliação de Helena e dos advogados de defesa da modelo, os vídeos não têm impacto sobre os rumos do processo. "Não influenciou em nada", diz ela. "Esperávamos que em algum momento ele fosse dar um retorno já que nunca se pronunciou. O que ele falou não é surpresa: é a forma como ele atinge as pessoas ao redor."

'Minha luta é para retirar o peso das costas das mulheres'

Durante as conversas com as pessoas que a procuraram, Helena diz que tentou encorajá-las a denunciar apesar do medo. "Consegui entender os medos delas, quando decidi falar sobre o acontecido o que eu mais escutei foi 'não faça isso'."

Nesse processo, Helena destaca o trabalho e a celeridade da Justiça e a responsabilização do agressor no lugar da culpabilização da vítima. Mas vê alguns obstáculos nesse percurso. "O primeiro é elas acharem que a Justiça não vai acontecer. Com isso, decidem automaticamente não falar." Ao deixar de procurar a Justiça, outras mulheres vivenciam crimes semelhantes, diz ela.

O segundo entrave é a vergonha. "A mulher violentada, que passa por essa situação, não consegue enxergar que a culpa é do agressor. Minha luta é para retirar o peso das costas das mulheres. Não podemos criar uma corrente de medo."

Até hoje, a maior dificuldade no contato com as vítimas, segundo Helena, é transmitir segurança. "Digo que o silêncio dos bons ajuda o agressor. Por mais que tenhamos medo, o silêncio tem um preço muito alto e pode fazer com que ele continue impune. Tem uma coisa muito poderosa que temos que é a nossa voz", diz ela. 

Protegida por uma medida que obriga Brennand a manter uma distância mínima de 300 metros, Helena conta que chegou a receber relatos cujos agressores eram outros homens. "Fiquei muito triste por vários dias porque não tinha como ajudar essas pessoas", diz.

"Naquele dia, ele recebeu o segundo não"

No dia 3 de agosto, quando as câmeras de segurança da academia frequentada por Helena e Brennand flagraram a violência usada contra a modelo, ela lembra que aquela foi a segunda ocasião em que o milionário ouviu uma negativa de sua parte. 

"Ele me olhava bastante na academia, mas nunca teve oportunidade de falar comigo. Pediu meu telefone que ele queria falar de algo sobre alguém que estaria falando mal de mim na academia", afirma. "Não sabia do que se tratava, mas passei. Tomei cuidado para conversar com ele. Na mensagem, ele muda completamente o assunto, faz o convite para jantar e eu não aceitei, mas de uma forma educada."

Segundo ela, Brennand insistiu na conversa até que ela decidiu bloqueá-lo. "Quando ele percebeu que eu conversava com uma outra pessoa, a que estaria falando supostamente mal de mim na academia, ele ficou desorientado. Bloqueei ele", lembra. No entanto, Helena diz que havia sido informada de que episódios semelhantes tinham ocorrido com outras mulheres. "Naquele dia [da agressão] ele levou o segundo não."

Agora, ela e os advogados que a representam no processo esperam que Brennand seja extraditado para o Brasil — ele está em Dubai, nos Emirados Árabes, mesmo após a Justiça brasileira ter determinado seu retorno e expedido um mandado de prisão preventiva. "Das vítimas, espero que elas vejam o que está acontecendo e tenham coragem para falar", diz. "Espero que elas lutem por seus direitos e não se envergonhem de um ato que não cometeram."