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Caso Ferrugem: 'Não sabem viver em sociedade', diz viúva após indiciamento de suspeitos

Investigação revela que os quatro jovens que estavam em embarcação vão responder por homicídio triplamente qualificado

Data: Quinta-feira, 20/10/2022 09:38
Fonte: Fabíola Perez, do R7

“É um processo de adaptação todos os dias, perdemos a base e a segurança. Tenho vivido um dia de cada vez”. A angústia de Uiara Sousa Duarte, mulher de Adolfo Duarte, ambientalista encontrado morto na represa Billings, na zona sul de São Paulo, se estende há quase três meses.

Desde que Ferrugem desapareceu, em 1º de agosto, são 80 dias em que a família sente sua ausência. “O peso emocional está vindo agora, principalmente para a Helena (filha do casal)”, relata Uiara. 

 A Polícia Civil indiciou, nesta quarta-feira (19), os quatro jovens que estavam na embarcação após o desaparecimento do barqueiro e pediu a prisão preventiva deles. 

Um dos investigados, Mauricius da Silva, pediu para ser ouvido pela polícia outra vez e mudou sua versão sobre os fatos: ele afirmou que Vithorio Alax Silva Santos, também presente no barco, matou Adolfo Duarte. O motivo do assassinato seria ciúme, segundo as apurações.

Após ler o inquérito policial, Uiara Duarte relatou que desde o começo acreditava ser esse o motivo da morte de seu marido, “que havia acontecido algo nesse nível dentro do barco”.

“Ele sempre foi muito solícito, dessas pessoas que interagem, isso era uma qualidade e um defeito. Eu falava pra ele: 'Cuidado, nem todo mundo vai te entender'. Por ele ter dançado com essas meninas, acredito que tenha faltado um pouco de prudência”, ponderou a mulher da vítima.

Para ela, os jovens podem ter interpretado o comportamento do ambientalista de maneira negativa: “Ele era uma pessoa muito aberta para conversas”.

Saindo da esfera policial, o caso irá para o Ministério Público paulista. Os quatro jovens responderão por homicídio triplamente qualificado. “Ainda tem o julgamento, tem uns passos pela frente. Mas só o fato de eles estarem presos e não na sociedade já me deixa mais tranquila. Essas pessoas não sabiam conviver em sociedade”.

Convivendo com o luto

Da confirmação da morte de Ferrugem em diante, Uiara Duarte e Helena, de 15 anos, têm de conviver agora com a rotina sem o marido e pai. “Não vamos trazer a naturalidade da vida como ela era. Vou ter que refazer essa adaptação”, lamenta a mulher.

Ela conta que vive momentos de solidão desde a perda de Adolfo, e até hoje se pergunta sobre o porquê de ter de passar pelo que passou. “Sinto um pouco de raiva, os outros três poderiam ter ajudado. O Adolfo não está mais aqui para responder por isso”, diz.

Ainda em convívio com o luto, Uiara tem tocado projetos relacionados à ONG Meninos da Billings, projeto do marido. Porém, devido ao trauma pela perda, ainda se sente insegura sobre seguir com o mesmo trabalho da organização, com um profissional dentro da embarcação. 

“Hoje, ainda conversando com as pessoas, elas não acreditam. O legado dele é trabalhar para a melhoria da população, da conscientização. Ele deixa um pedaço dele para cada pessoa com quem ele trabalhava. Vamos tentar tocar esse legado”, afirma a mulher. O projeto ainda busca parcerias. 

Polícia indicia quatro jovens que estavam na embarcação

A polícia concluiu que a morte de Adolfo Duarte foi causada por ciúme. Após a investigação, a polícia indiciou os jovens que estavam na embarcação após o desaparecimento do barqueiro e pediu a prisão preventiva dos quatro suspeitos.

Segundo a polícia, no momento em que não estava na presença de Vithorio Alax Silva, um dos jovens, o investigado Mauricius da Silva, decidiu mudar sua versão e pediu para ser ouvido mais uma vez. No novo depoimento, disse que Vithorio matou Adolfo, conhecido como Ferrugem.

Mauricius e Vithorio, de acordo com o depoimento, tinham a intenção de ficar com as jovens quando começaram o passeio. Na noite da diversão, Vithorio teria se sentido enciumado quando Ferrugem dançou com Mikaely. Nesse momento, ele teria, segundo a polícia, acionado intencionalmente um dispositivo do barco para ocasionar o solavanco e a queda da vítima, juntamente com Mikaely.

Os laudos do IML (Instituto Médico Legal) revelaram que não houve afogamento. Segundo os resultados, o ambientalista morreu por asfixia mecânica. De acordo com o depoimento de Mauricius, Adolfo teria tentado retornar ao barco pela escada dos fundos, mas Vithorio não teria permitido. No depoimento, Mauricius não soube informar "qual o instrumento usado por ele [Vithorio] para asfixiar a vítima".

Agora, segundo a polícia, é possível dizer que o executor da asfixia mecânica foi Vithorio e que os demais participaram do embate corporal e colaboraram para que o crime fosse praticado.

Os quatro jovens vão responder por homicídio triplamente qualificado. A perícia realizada nos celulares dos envolvidos mostrou diálogos em que os jovens combinaram versões e planejaram uma fuga. Eles estavam presos temporariamente desde o dia 4 de agosto. A polícia indiciou os quatro jovens por homicídio triplamente qualificado e representou pela prisão preventiva.

Desaparecimento e morte de Ferrugem

O ambientalista Adolfo Souza Duarte desapareceu após cair de uma embarcação na represa Billings, no Grajaú, zona sul de São Paulo, no dia 1º de agosto. Segundo informações do boletim de ocorrência, ele trabalhava com viagens de barco para visitantes que quisessem conhecer a represa.

Nessa noite, os amigos Kathielle Souza Santos, Mikaely da Silva Moreno, Vithorio Alax Silva Santos e Mauricius da Silva estavam em um bar próximo à represa quando decidiram fazer um passeio de barco, oferecido por Ferrugem.

O grupo teria pago cerca de R$ 55 para começar o passeio, às 19h16. Segundo depoimento, Ferrugem teria posto colete salva-vidas apenas nas mulheres e dito que elas poderiam ficar sem a proteção após alguns minutos de viagem.

Em determinado momento, o barco sofreu um solavanco, o que fez com que Mikaely e Ferrugem caíssem na água. Os amigos conseguiram fazer um retorno com o volante do veículo e jogar uma boia para resgatá-los. Apenas Mikaely teria se segurado na boia, e Ferrugem não foi mais visto.

O barco, então, atracou na margem da represa. O quarteto desceu e pediu ajuda a frequentadores do bar, porém alguns deles teriam começado a agredir três dos amigos com socos e chutes, alegando que eles teriam matado Ferrugem.

Antes das buscas oficiais, alguns colegas de Ferrugem o procuraram, sem sucesso. De acordo com a polícia, os quatro jovens não conheciam o ambientalista. Mauricius, Kathielle e Vithorio, que sofreram ferimentos com as agressões, foram encaminhados ao IML (Instituto Médico-Legal) para exame de corpo de delito.

O sócio de Ferrugem, Adrian, confirmou que a vítima era responsável por conduzir as embarcações. Ele informou que o barco estava com a popa danificada. O rastreador mostra que ele foi ligado às 19h16 e desligado às 20h12, o que acabou causando estranhamento.