Astronômos observaram um fenômeno bastante gigantesco e intrigante. Um buraco negro supermassivo devorou uma estrela e a vomitou após três anos. O evento começou em outubro de 2018, quando uma pequena estrela foi destruída em pedaços quando passou perto demais do buraco negro, localizado no centro de uma galáxia a 665 milhões de anos-luz da Terra.
Em 2021, um telescópio do Novo México, nos Estados Unidos, captou o mesmo buraco negro "vomitando" restos da estrela ao emitir um clarão luminoso, a metade da velocidade da luz.
A destruição violenta da estrela e a excreção luminosa de parte do material dela não foi a causa da surpresa, mas sim o prazo de três anos.
"Isso nos pegou completamente de surpresa – ninguém nunca viu nada assim antes", afirmou Yvette Cendes, pesquisadora associada do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian, principal autora do estudo que analisou o fenômeno, chamado de "evento AT2018hyz", e publicado no último dia 11, no periódico Astrophysical Journal.
Segundo a análise criteriosa dos pesquisadores, que utilizaram quatro observatórios terrestres e dois no epaço no estudo, o devorador não engoliu nenhum outro corpo celeste no período, o que talvez explicasse a devolução de material luminoso.
Um buraco negro supermassivo se distingue de um buraco negro estrelar por geralmente ser encontrado no centro de galáxias, e ser formado por por aglomerações de milhões de estrelas ou nuvens de gás colossais, que colapam sobre sua própria gravidade. Têm a massa milhões ou até bilhões de vezes maior que a do Sol.
A destruição de uma estrela por um buraco negro supermassivo é um evento bastante distinto, chamado "Evento de perturbação de marés". Ocorre quando uma estrela chega perto demais de um buraco negro do tipo e é esticada, camada por camada, pela gravidade do buraco.
Durante o processo, a luz da estrela se torna uma espécie de corda esticada ao redor do buraco negro, em um processo chamado de "espaguetificação", por se assemelhar metaforicamente a um fio de macarrão enrolado em um garfo. Esse fio gigante de luz gira e gera um flash brilhante, captado telescópios e observatórios.
Esse processo ocorre quase ao mesmo tempo em que o buraco negro "janta" a estrela, e não três anos depois, como o ocorrido.
E para tornar tudo ainda mais estranho, essa foi uma das espaguetificações mais luminosas já observadas por cientistas e viajou a cerca de 50% da velocidade da luz, ao invés de 10%, como a grande maioria dos eventos do tipo.
"Esta é a primeira vez que testemunhamos um atraso tão longo entre a alimentação e a saída. O próximo passo é explorar se isso realmente acontece com mais regularidade", completou Edo Berger, professor de astronomia da Universidade Harvard e coautor do estudo, em um comunicado.
A principal hipótese para o evento, por enquanto, é essa: talvez esse atraso seja mais comum do que se pensa. Essa dúvida só será sanada com a observação de mais "refeições" feitas por buracos negros supermassivos.