Produção agrícola de Mato Grosso cresceu 16 vezes nos últimos 20 anos e chegou a 86,5 milhões de toneladas na safra 2021/2022. “Celeiro do Brasil” e com faturamento bruto no campo de R$ 218,6 bilhões em 2022, recorde nacional, o Estado tem também a maior proporção de domicílios em situação grave de insegurança alimentar, com 17,7%, comparado com as demais 26 unidades federativas.
Além disso, 34,2% das residências com crianças de até 10 anos estão submetidas a escassez de alimentos. Média que é o extremo do Distrito Federal (9%) e superior a todos os estados do Sul, da maioria do Sudeste - exceto Rio de Janeiro (39,1%) -, além da Paraíba (33,8%), na região Nordeste.
Mato Grosso detém, ainda, a maior parcela da população (16,9%) do Centro-Oeste vivendo com a menor faixa de renda, ou seja, um quarto (1/4) de salário mínimo. A capacidade das famílias de garantir alimentação é influenciada, entre outros fatores, pelo rendimento, escolaridade, condições de emprego e nível de endividamento, bem como inclusão em programas de transferência de renda, segundo os pesquisadores do 2º Inquérito Nacional da Insegurança Alimentar no Brasil no Contexto da Covid-19 - II Vigisan, produzido pela Rede Penssan.
Nos domicílios com menores de 10 anos o pleno acesso aos alimentos fica abaixo da média nacional (33%) em todos os estados do Centro-Oeste. Em Mato Grosso, apenas 28,9% das famílias com crianças vivem em situação de segurança alimentar, revela o estudo.
“Em um estado agroindustrial e com apenas 3 milhões de habitantes, (a fome) é a vergonha das vergonhas”, critica o economista Vitor Galesso.
“Teríamos que garantir alimentação por meio de políticas de amparo social, inclusive com restaurantes públicos”, diz. Para avançar no desenvolvimento econômico e acabar com a fome, é fundamental uma política de Estado -e não de governos - de longo prazo, sem visar apenas reeleição. Almejar o crescimento econômico com geração de emprego e renda, contemplando as diferenças regionais, considera Galesso. “Temos o 7º PIB per capita do Brasil. Como justificar o fato de termos cerca de 631 mil pessoas sob insegurança alimentar grave? Isso representa 17,7% de nossa população”, observa o economista Jonil Vital de Souza.