A morte, nesta semana, do homem considerado o "mais sujo do mundo" chamou atenção para o fato de alguém conseguir passar cerca de 70 anos sem tomar banho. O iraniano Amou Haji faleceu aos 94 anos, ironicamente, meses após ser convencido a ir ao chuveiro.
De acordo com uma autoridade local citada pela agência de notícias Irna, o homem, que era solteiro, evitava tomar banho por medo de "ficar doente".
O medo, todavia, levou-o a uma vida de "vulnerabilidade", explica o gerente médico do pronto atendimento do Hospital Sírio-Libanês, Christian Morinaga.
"Esse hábito [não tomar banho] traz consequências muito sérias. Pode-se dizer que, realmente, a qualidade de vida dele não era boa. [...] Apesar de ter vivido tanto tempo, pelo estado que a gente vê da pele dele, ele viveu muito tempo em um estado de vulnerabilidade muito grande. Provavelmente, essa pele o incomodava muito."
Ao não tomar banho por mais do que dois dias, começamos a acumular pele morta, excesso de oleosidade e a ter um desequilíbrio das bactérias que vivem na nossa pele. Esse conjunto de fatores não costuma ter um desfecho positivo para a saúde, acrescenta o médico.
"Quando não tem essa remoção [de pele morta], a pele vai se espessando e gerando lesões. Nesse caso, você percebe que a pele dele é espessada, isso gera lesões, coceiras... pode precipitar algumas doenças dermatológicas como psoríase, dermatites, que por si só já causam muito incômodo."
O grande risco envolve microrganismos que podem causar infecções capazes de entrar no organismo, provocando sepse em casos mais severos.
Em indivíduos em situação de rua, por exemplo, também há dificuldade em manter uma rotina de banho.
"Muitas vezes, tem alguma consequência que os levam a procurar um serviço de saúde, e parte do tratamento acaba sendo dar um banho", ressalta Morinaga.
Pelas fotos, fica claro que Amou Haji também não adotava uma boa higienização das mãos, o que, alerta o médico, é outro fator de risco para o desenvolvimento de doenças, pois elas podem ser veículo para a ingestão de bactérias que causam problemas gastrointestinais.
O caso do iraniano é, obviamente, uma exceção. Na avaliação do médico, poucas seriam as pessoas que conseguiriam sobreviver por tanto tempo sem ter complicações de saúde que pusessem a vida delas em risco — muito antes de completar décadas sem ir ao chuveiro.
Se não tomar banho é um problema, o excesso também é. "Não existe na literatura médica a frequência ideal", lembra Morinaga, mas entende-se que deve ser algo diário ou a cada dois dias, e não mais do que dois banhos por dia.
"Em excesso, [o banho] também elimina essa camada de oleosidade que muitas vezes serve como proteção", afirma.