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Dólar cai a R$ 5,14, e Ibovespa fecha em alta, com aceno de moderação do governo

Moeda fechou em queda de 0,45%, mas chegou a saltar em até 1,48%; a Bolsa também oscilou com o noticiário de transição

Data: Quarta-feira, 09/11/2022 09:54
Fonte: por Reuters

O dólar caiu ante o real nesta terça-feira (8), com acenos do governo eleito ao centro e a indicação de uma equipe de transição econômica relativamente equilibrada trazendo algum alívio ao humor dos mercados, embora a incerteza sobre qual será a escolha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ministro da Fazenda continuasse sendo motivo de preocupação.

A moeda americana fechou em queda de 0,45%, a R$ 5,149 na venda. Depois de mais cedo ter saltado até 1,48%, a R$ 5,2497 na venda, o maior patamar intradiário em mais de uma semana, o dólar foi perdendo força ao longo da sessão, e chegou a cair 0,82% na mínima, a R$ 5,1308.

 O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, fechou em alta de 0,71%, a 116.160,35 pontos. Na mínima, pela manhã, chegou a cair abaixo dos 115 mil pontos. Na máxima, superou 117 mil pontos. O volume financeiro somou cerca de R$ 30 bilhões.

A queda do dólar refletiu, em parte, a formalização do convite da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para que o MDB, partido mais ao centro, faça parte do processo de transição para o governo Lula, compondo o conselho político e indicando técnicos. No entanto, alguns participantes do mercado também citaram movimento de correção após a disparada do dólar da véspera.

A divisa americana chegou a desacelerar as perdas no final das negociações desta terça-feira, pouco depois do anúncio de que o grupo técnico na área de economia da transição de governo será formado por André Lara Resende, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Pérsio Arida. No entanto, até o fim do pregão, a moeda voltou a operar firmemente no negativo.

Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, a interpretação dos mercados sobre os nomes selecionados é "neutra", já que a equipe conta com um equilíbrio entre economistas mais "ortodoxos" e alinhados aos mercados, como Arida e Lara Resende, e economistas mais "acadêmicos" e especialistas na elaboração de políticas públicas, como Mello e Barbosa.

"O PT está buscando uma diversidade maior, buscando nomes que normalmente não fariam parte justamente para sinalizar que estará compondo seu governo com pessoas de diferentes matrizes ideológicas, partidos mais de centro, centro-direita", avaliou Perez, embora tenha ressaltado que o foco principal dos mercados segue sendo a indicação de Lula para o ministério da Fazenda, que continua em aberto.

"Quanto mais demorar, pior vai ser: mais expectativa vai criar no mercado e mais volatilidade isso pode criar", disse o economista.

Na segunda-feira (7), a moeda americana à vista disparou 2,39%, a R$ 5,1733 na venda, a maior valorização percentual diária desde 24 de outubro (+2,94%) e o patamar de encerramento mais alto desde 28 de outubro (5,3023), em meio a temores de que o Ministério da Fazenda pudesse ser entregue a alguém inclinado à flexibilização das regras fiscais do Brasil.

"A necessidade de um nome amigável ao mercado, como [o ex-presidente do Banco Central Henrique] Meirelles, dependerá principalmente do tamanho da flexibilização fiscal que Lula planeja implementar e do comportamento dos mercados", disse o Citi em relatório desta terça-feira. "Uma maior flexibilização fiscal e um mercado muito estressado exigiriam um ministro mais favorável ao mercado; neste caso, as chances de Meirelles aumentariam."

No entanto, o Citi manteve, por ora, a visão de que o cargo de ministro da Fazenda provavelmente será entregue a um político, e vê o deputado federal Alexandre Padilha como o favorito. O banco americano disse ver uma indicação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, cenário temido pelos investidores, como "menos provável" neste momento.

A equipe de transição do próximo governo busca garantir uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem às promessas de campanha de Lula, como a manutenção dos R$ 600 do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo. Os valores a serem excepcionalizados ainda não foram definidos oficialmente, mas há a expectativa de que possam superar os R$ 200 bilhões.

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, escreveu em publicação no Twitter que, sem indicações sobre qual regra o governo Lula pretende implementar para substituir o teto de gastos, ferramenta que o petista quer eliminar, o tamanho da despesa extrateto que será implementada no ano que vem se torna "importante sinalizador do comprometimento com a responsabilidade fiscal".

"Um 'waiver' [gasto extrateto] muito além de R$ 70 bilhões já no primeiro ano de governo dificultaria ainda mais o ajuste [fiscal] nos anos seguintes, além de aumentos significativos de gastos resultarem em mais inflação", disse a economista.

Efeitos fiscais

O Ibovespa avançava cerca de 1% quando o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, anunciou nesta tarde nomes que farão parte da transição de governo, incluindo o do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Alckmin, que comanda a equipe de transição, não especificou o grupo do qual Mantega participará, mas foi o suficiente para fazer o índice devolver parte considerável dos ganhos até então, antes de voltar a tomar fôlego e encerrar o dia com ganho de pouco menos de 1%.

Alckmin também citou que o grupo técnico na área da Economia será integrado por André Lara Resende, Guilherme Melo, Nelson Barbosa e Pérsio Arida.

De acordo com Ricardo Campos, diretor de investimentos da Reach Capital, o mercado sabe que a equipe de transição não necessariamente fará parte do governo, mas é essa a equipe que já está negociando propostas e medidas com efeitos fiscais, sem ainda estar claro de onde sairão os recursos.

"Até agora, sabe-se muito pouco das políticas do novo governo. O que está claro apenas é o trabalho para cumprir promessas de campanhas, como a manutenção do Auxílio Brasil (em R$ 600) e o aumento do salário mínimo", afirmou. "E isso sem nem se saber quem será o ministro da Fazenda."

Na visão de Luis Novaes, analista na Terra Investimentos, as incertezas sobre os nomes que vão compor a equipe de gestão do próximo governo ainda são a principal razão por trás da grande volatilidade vista no Ibovespa, apesar do anúncio pontual dos integrantes da transição.

"O mercado espera a escolha dos nomes definitivos, em especial o chefe do Ministério da Fazenda, considerando sua grande relevância para a economia e, consequentemente, para o mercado", acrescentou.

Para Novaes, parte do movimento na Bolsa também refletiu a temporada de balanços, em sua semana auge, seja por investidores trocando de posições após os resultados, ou antes, a fim de evitar surpresas. Após o fechamento, Bradesco, CVC Brasil, Iguatemi, XP estão entre as empresas que divulgam seus números.

No exterior, Wall Street teve uma sessão volátil, com S&P 500 fechando com acréscimo de 0,54% e Dow Jones avançando 1,02%, enquanto o Nasdaq subiu 0,46%, em dia marcado pelas eleições de meio de mandato do Congresso americano, que determinarão o controle da Casa.