Os governos dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul prometeram, no último domingo (13), uma resposta "forte e firme" a qualquer teste nuclear por parte da Coreia do Norte. O país é um dos poucos que continuam a realizar experimentos assim no século 21. Atualmente, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), o mundo tem mais de 12,7 mil armamentos desse tipo.
No dia 26 de setembro, Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todos os Estados-membros da organização que usem as vias de diálogo, diplomacia e negociação para aliviar tensões e reduzir os riscos de um confronto nuclear.
A tensão na península coreana pode atingir níveis sem precedentes em razão dos repetidos testes de armas norte-coreanos, das manobras militares e da possibilidade de que Kim Jong-un realize o primeiro teste nuclear desde 2017.
O líder do país comunista advertiu os adversários em outubro deste ano que as forças nucleares estão totalmente preparadas para uma “guerra real”.
“Nossas forças de combate nuclear… provaram novamente sua total preparação para uma guerra real para trazer os inimigos sob seu controle”, disse Kim em um relatório da Agência Central de Notícias da Coreia.
Em entrevista ao R7, o doutor em ciências atmosféricas pela USP e professor de física Natannael Almeida Sousa explica como é feito e quais os objetivos de um teste nuclear, que pode trazer sérios riscos e graves consequências.
De acordo com Almeida Sousa, uma explosão nuclear de teste é realizada para identificar a funcionalidade dos diferentes mecanismos que compõem uma bomba ou um míssil nuclear. Além da verificação da geolocalização dos mísseis, também há a avaliação da potência, dos mecanismos de acionamento e da eficiência.
"Os testes nucleares mais atuais para verificação de potência são realizados no subsolo, pois possibilitam um melhor controle dos rejeitos de radiação, uma vez que esses permanecem retidos no subsolo. A verificação da eficiência se dá pela magnitude dos tremores registrados após a explosão, da temperatura dos gases expelidos e sua abrangência territorial", explica o cientista.
A partir disso, o teste nuclear tem o objetivo de avaliar o mecanismo de acionamento do projétil e mensurar a eficiência dele, ou seja, identificar quanto de material realmente sofreu reação a partir dos rejeitos e da avaliação da energia liberada na explosão. A informação é descoberta de acordo com a magnitude de alcance e a temperatura das ondas de calor.
"Em mísseis é avaliado, além desses aspectos, a orientação correta da trajetória, a quilometragem alcançada a partir da capacidade de armazenamento, uma vez que mísseis de maior capacidade necessitam de sistemas de propulsão mais potentes para alcançar grandes distâncias".
Apesar de haver diferenças entre os testes atuais e aqueles realizados no passado, experimentos que envolvem energia nuclear ainda apresentam riscos importantes.
A ciência avançou no desenvolvimento de materiais para que haja mais eficiência nos processos, além de um melhor controle de tecnologias que possibilitem maior potência destrutiva. Um exemplo disso são as bombas de fusão nuclear, que combinam núcleos de hidrogênio, conhecidos como bombas de hidrogênio ou termonucleares, que podem ter potencial destrutivo equivalente a 50 milhões de toneladas de dinamite.
Desde 1963, com o Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares, tais testes não podem mais ser realizados na atmosfera ou sob a água, o que foi essencial para a mitigação de potenciais efeitos desses testes para a população civil.
Mesmo assim, os riscos e consequências de um teste nuclear são os mais variados, podendo apresentar ameaças à saúde desde o processo de fabricação até anos após a explosão.
"Antes mesmo do acionamento, a exposição aos agentes radioativos como o urânio-235 — mais comumente utilizado — pode acarretar efeitos adversos à saúde devido à exposição à radiação. Possíveis erros no manuseio e transporte desses compostos podem provocar desastres de grande magnitude para a saúde das pessoas", relata Almeida Sousa.
Além disso, após os testes, os riscos mais nocivos estão também associados à exposição à chamada radiação ionizante — raios X, raios beta e raios gama —, que tem a capacidade de ionizar átomos e moléculas das células humanas e podem alterar a estrutura do DNA, com efeicancerígeno.