O pedido de recuperação judicial da Americanas, feito na última quinta-feira, dia 19 de janeiro, pode afetar sua participação na economia em todos os municípios em que tem uma franquia instalada. As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões, enquanto o valor de recursos disponível em caixa, segundo informado, estaria em torno de R$ 800 milhões. O total reportado no terceiro semestre de 2022 foi de R$ 8,6 bilhões.
Para se ter uma ideia, as dívidas da empresa, é superior ao total de impostos que o Estado de Mato Grosso arrecadou em 2022. No ano passado, MT arrecadou R$ 42,2 bilhões entre os tributos federais, estaduais e municipais nos meses de janeiro e dezembro. O valor da recuperação judicial da Americanas é o quarto maior da História do Brasil, ficando atrás da Odebrecht, que iniciou o processo com dívidas de R$ 80 bilhões. Em segundo lugar fica a Oi, recentemente finalizada, de R$ 65 bilhões e na terceira colocação aparece a Samarco, com dívidas de R$ 55 bilhões.
Em Juara a empresa foi inaugurada em julho de 2021 e empregou diretamente cerca de 10 pessoas. Em todo o Brasil existem cerca de 1.700 lojas e 44 mil funcionários. De acordo com a varejista, o processo de recuperação judicial tem o objetivo de “manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral”.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços de Matogrosso (FECOMÉRCIO-MT), José Wenceslau de Souza Júnior avaliou que "com o pedido de recuperação judicial, a Americanas terá um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores e, com isso, deverá reduzir custos. A medida, com certeza, terá um impacto na economia regional, tanto na contribuição de impostos ao Estado quanto na manutenção de empregos, pois a empresa tem um papel relevante em seu segmento".
Flávia Nascimento, presidente da Comissão de Direito da Moda da OAB-SP, afirma que a recuperação judicial nada mais é do que uma forma de renegociar o pagamento de dívidas, e, inclusive, obter desconto no pagamento. “A lei não pretende proteger devedores, nem só proteger os credores, mas sim a atividade empresarial. A empresa tem uma função muito importante na economia, uma função social”, diz.
A Americanas, bem como Submarino, Shoptime e Natural da Terra, devem continuar a funcionar normalmente durante o processo de recuperação judicial. O que os consumidores podem sentir, segundo especialistas em varejo ouvidos pela reportagem, é uma redução do estoque da empresa, com menor diversidade de produtos à venda.
“Depois que pediu recuperação judicial, a Oi continuou vendendo linhas telefônicas, os clientes continuaram a usar os serviços da empresa. Em paralelo, houve negociação com os credores o pagamento da dívida”, afirma Cassio Cavalli, professor da FGV Direito SP.