O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, comandou exercícios militares por dois dias "simulando um contra-ataque nuclear", que incluíram um disparo de míssil balístico equipado com uma "falsa ogiva nuclear", informou nesta segunda-feira (20) a agência estatal norte-coreana KCNA.
Kim expressou sua "satisfação" após o fim de semana de exercícios, realizados para "permitir que as unidades se familiarizem com os procedimentos e processos para implementar suas missões de ataque nuclear tático", de acordo com a KCNA.
Esta foi a quarta demonstração de força do governo norte-coreano em uma semana, enquanto Coreia do Sul e Estados Unidos realizam seus maiores exercícios militares conjuntos em cinco anos.
A Coreia do Norte considera que essas manobras são um ensaio para invasão e advertiu que adotará ações "esmagadoras" em resposta.
As manobras de sábado (18) e domingo (19) foram divididas em exercícios que simulam a mudança para uma postura de contra-ataque nuclear e o "lançamento de um míssil balístico tático com uma ogiva nuclear falsa", detalhou a KCNA.
"O míssil carregava uma ogiva de teste que simula uma cabeça nuclear", acrescentou posteriormente, sem revelar mais detalhes.
O Estado-Maior Conjunto sul-coreano informou no domingo que o míssil balístico de curto alcance disparado por Pyongyang caiu no mar do Japão.
Seul classificou o episódio como uma "grave provocação" que viola as sanções da ONU e afirmou que o míssil estava sendo analisado pela inteligência dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Japão e o Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos também condenaram o lançamento.
Yank Uk, pesquisador do Instituto Asan de Estudos Políticos, destacou que as manobras do fim de semana demonstram que a postura nuclear norte-coreana se tornou "um pouco mais realista".
"Parece que a Coreia do Norte tenta demonstrar que possui capacidade prática de ataque nuclear suficiente para realizar treinamentos táticos com suas unidades de combate", destacou.
"AO PÉ DA LETRA"
Seul e Washington intensificaram a cooperação militar diante da crescente ameaça bélica do Norte, que executou vários testes de armas proibidas nos últimos meses.
As ações de Pyongyang levaram Seul e Tóquio a deixar para trás suas disputas históricas para fortalecer sua cooperação de segurança.
A Coreia do Norte lançou na semana passada seu maior e mais potente míssil balístico intercontinental (ICBM), o Hwasong-17, no segundo teste do tipo em 2023.
O disparo do ICBM foi seguido por dois mísseis balísticos de curto alcance e dois mísseis de cruzeiro lançados no domingo a partir de um submarino.
O Conselho de Segurança da ONU programou uma reunião de emergência nesta segunda-feira para abordar o lançamento do ICBM, a pedido dos Estados Unidos e do Japão, informou a agência sul-coreana de notícias Yonhap.
O professor Leif Easley, da Universidade Ewha de Seul, considera que as declarações norte-coreanas na questão nuclear não devem ser levadas ao pé da letra.
Ele recorda que a imprensa estatal norte-coreana publicou fotos de Kim com sua filha, ao lado de soldados, observando o lançamento do ICBM.
"Se essas manobras de lançamento fossem o treino para um conflito real, o líder não estaria em campo com sua filha, posando com os mísseis para as câmeras", disse Easley à AFP.
Kim afirmou que os exercícios de sábado e domingo deixaram as unidades militares norte-coreanas "com grande confiança", segundo a KCNA.
Também declarou que o Norte "não pode impedir uma guerra pelo simples fato de ser um Estado com armas nucleares" e que o país só alcançará suas metas "quando a força nuclear for aperfeiçoada como meio capaz de estabelecer um ataque contra o inimigo".
A Coreia do Norte anunciou no ano passado que é uma potência nuclear "irreversível" e Kim pediu recentemente um aumento exponencial na produção de armas, incluindo armas nucleares táticas.
Kim também ordenou às Forças Armadas a intensificação das manobras em preparação para uma "guerra real".