“Um time de uma folha humilde chegou [à final do Campeonato Paulista] graças à união que a gente tem, eles não sabem o quanto a gente trabalha todos os dias. Se eles soubessem, não diziam que o nosso time é da p**** do PCC, não diziam. (...) Vocês fizeram história no nosso clube; aconteça o que acontecer, vocês serão lembrados por uma cidade, pela torcida e por cada um de nós.”
O desabafo, muito emocionado, foi feito por Paulo Sirqueira Korek Farias, presidente do Água Santa, após o clube vencer o Bragantino e garantir vaga na final do Paulistão pela primeira vez em sua pequena história como clube profissional.
Com os grandes resultados alcançados neste início de temporada, o Água Santa se viu mais uma vez envolvido em boatos que assombram o clube desde a sua profissionalização, sobre um possível envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) para financiar o clube.
O clube demonstra grande preocupação em desmentir o rumor. Tanto que em seu perfil oficial no Instagram os Aquáticos fixaram como primeira publicação um trecho de uma declaração feita pelo mandatário, em que ele nega veementemente a acusação.
“Nunca se provou nada porque de fato não tem. Não é questão de provar ou não provar. Não existe nenhuma ligação do Água Santa com nenhum tipo de facção criminosa”, afirmou Paulo, em entrevista ao Ulisses Cast.
“Agora eu quero crer que talvez por termos vindo de um time que veio da várzea, de uma cidade muito humilde, que foi considerada uma cidade muito violenta, surgido isso, infelizmente assim”, completa.
O político Rivelino Teixeira, conhecido como Pretinho do Água Santa, que já foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Diadema, jogou pelo clube em campeonatos varzeanos ainda na década de 1980 e faz parte da diretoria do clube desde 1996, também nega a ligação com o crime organizado e comenta como surgiu o boato.
"A história de que o time faz parte de uma facção é uma inverdade criada e propagada por um time profissional que esteve na cidade que com irresponsabilidade começou a espalhar essa mentira, tentando difamar a imagem da diretoria", conta. "E o time que espalhou isso, onde está?", provoca o vereador.
Pretinho se refere indiretamente ao CAD (Clube Atlético Diadema), licenciado do futebol profissional há alguns anos, mas que possui uma licença exclusiva da base na Federação Paulista de Futebol (FPF).
Anos atrás, houve uma disputa política entre o CAD e o Água Santa na Câmara Municipal do município, e políticos ligados ao Netuno, como é o caso de Pretinho, foram contra um projeto que visava ceder um terreno da prefeitura para o rival usar como centro de treinamento.
Nos dias atuais, a agremiação deixou de ter sede em Diadema e hoje atende pelo nome de Clube Atlético Desportivo Ribeirão Pires, sediado na região homônima.
Apesar da briga, Rivelino não acredita que o boato influenciou o Água negativamente em sua trajetória profissional.
"Não acredito que isso prejudicou. Isso só foi dando força para nós trabalharmos mais para levar o nome do clube para São Paulo e para o Brasil. Vamos trabalhar ainda mais para a cidade ser sempre lembrada", afirma.
"Hoje eu sinto que o Água Santa não representa só a cidade de Diadema, mas sim todo futebol de várzea de São Paulo", completa.
Considerado uma das maiores facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital movimenta bilhões de reais todos os anos em atividades ilegais, que envolvem o tráfico de drogas e de armas.
Buscando registros na internet, uma das poucas notícias que ligam o PCC com o financiamento de clubes de futebol vem de 2006, quando uma investigação feita pela Polícia Civil revelou que integrantes do grupo ajudavam financeiramente cinco times de várzea na zona norte de São Paulo.
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, o PCC entrou mais uma vez na mira das autoridades pela ligação com o esporte. A Polícia Civil passou a investigar um suposto "salve" feito pela facção, que ordenava o fim das brigas entre torcidas organizadas entre os quatro grandes clubes de São Paulo.
Fundado em 1981, em Diadema, na região do ABCD, na Grande São Paulo, o clube permaneceu por três décadas atuando apenas no amadorismo, até se profissionalizar em 2011.
Durante esse período, o município paulista em que o clube está localizado chegou a ser “eleito” a cidade mais perigosa do Brasil.
Em 1997, foram registrados 140,4 homicídios para cada 100 mil habitantes. O número chegava a ser cinco vezes superior à média nacional. Os números foram divulgados, na época, pelo Datasus.
No último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no ano passado, o município não está entre as 30 cidades com as maiores taxas médias de mortes violentas intencionais, feito que se repetiu nos últimos anos e mostra a diminuição dos níveis de violência.
Em 2022, um levantamento da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Diadema informou que foram registrados 32 homicídios dolosos na região, uma queda de 40% em relação ao ano anterior.