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BRASIL ENCERRA MISSÃO DE PAZ NO HAITI

Data: Quinta-feira, 31/08/2017 10:04
Fonte: Andria Molina

 

Brasil Encerra Missão de Paz, e Haitianos se Dividem Entre Otimismo e Medo do Futuro

 

Nas ruas de Porto Príncipe, a capital haitiana, os moradores vivem um misto de incerteza e alívio após a decisão das Nações Unidas de encerrar a missão de paz no país. Nesta quinta-feira (31), o Brasil põe fim à sua presença no Haiti após 13 anos liderando militarmente a Missão das Nações Unidas para Manutenção no Haiti (Minustah).

Para o Exército e o Ministério da Defesa brasileiro, a operação termina com sucesso. Mas muitos haitianos ouvidos pelo G1 na capital temem novos incidentes políticos e que grupos armados tentarem retomar o controle de áreas pacificadas. Ainda assim, outros avaliam que já é hora de o país andar com as próprias pernas.

Não se veem mais capacetes azuis da ONU nas ruas. Agora, são agentes de bonés pretos da Polícia Nacional Haitiana (PNH), com cerca de 15 mil homens e armados de fuzis, que estão no controle da situação.

A capital se divide em duas: a parte acima da base do Brasil e da Embaixada dos Estados Unidos, mais nobre, economicamente ativa, com parte dela com iluminação e ruas limpas e pavimentadas, envolvendo em especial os bairros de Delmas e Petion-Ville, e a baixa Porto Príncipe, próxima ao litoral, uma região mais violenta, com enormes quantidades de lixo nas ruas e onde parece que nada mudou nos últimos 10 anos.

O mecânico Carl Hanryson, de 30 anos, é um dos pessimistas. "Tenho dúvidas e medo do que pode acontecer depois que a ONU for embora, disse ele em Bel Air, na região central da capital.Já a caixa de supermercado Johanne Jean Louis, de 20 anos, está otimista. "Podemos ter problemas, mas temos um governo legítimo. Não estamos em guerra. A economia pode ter problemas, porque a Minustah emprega muita gente e movimenta recursos. Mas temos que aprender a caminhar como país", diz ela. "É hora de o país seguir sozinho."

Sem muletas

A Minustah foi a quinta missão de paz da ONU no país caribenho. Iniciada em 2004, após um levante popular causar a renúncia do então presidente Jean Bertrand Aristides, era uma operação multinacional que foi coordenada por Estados Unidos e Canadá por dois meses, até que o Brasil fosse politicamente e militarmente convocado para chefiar a segurança, mas sob égide da ONU. O embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, que chefiou a presença brasileira em solo haitiano desde o início da missão de paz até 2008, concorda que "é hora de o Haiti andar com as próprias pernas".

"A ONU está saindo no momento certo. Ela é segura da estabilidade no Haiti. Mas esta é uma situação muito confortável. A gente precisa deixar eles soltarem as muletas e andarem com as próprias pernas. Durante alguns meses, isso vai doer. Mas a excessiva ajuda internacional, a imensa quantidade de ONGs, isso muitas vezes atrasa o desenvolvimento. Temos que deixar eles operarem sem muleta", aponta Paulo Cordeiro, considerado um dos brasileiros que mais conhecem o povo haitiano.

Polícia Nacional

O comandante militar da operação internacional, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, entende que um dos principais legados da ONU para o Haiti foi a formação da Polícia Nacional. Pinheiro crê que a polícia está reestruturada e bem equipada, capaz de fazer frente caso grupos armados tentem retomar território nas favelas. "A ONU nem cogita a possibilidade de voltar. Porque se tivermos que voltar, foi porque falhamos", admite.

"O ambiente seguro e estável é o maior legado que deixamos. São 13 anos em que a paz trouxe empresas, emprego, renda e maior qualidade de vida. Sem isso, certos negócios não teriam sido abertos aqui", disse. O oficial entende que o país também se encontra em um momento de estabilidade política nunca antes visto.

"Nunca vi o Haiti tão calmo, as coisas voltaram a funcionar após as eleições do novo presidente [em janeiro]".

A Minustah foi a única operação da ONU comandada sempre por um único país – no caso, o Brasil. Entre 2005 e 2007, as tropas brasileiras realizaram operações para pacificar as três principais favelas de Porto Príncipe: Bel Air, Cité Militare e Cité Soleil, considerada o reduto de chiméres, grupos armados ligados a Aristide. Cité Soleil foi a última área entregue pelo Brasil ao Haiti: desde o início de julho a favela é totalmente responsabilidade da PNH